Menos de dois meses após ter vivido a frustração de perder o prêmio Bola de Ouro, da revista France Football, Vinicius Junior, 24, foi eleito nesta terça-feira (27) o vencedor do The Best, troféu para o melhor jogador do mundo escolhido pela Fifa (Federação Internacional de Futebol).
A nomeação do brasileiro foi feita em uma cerimônia em Doha, no Qatar, onde o camisa 7 defende nesta quarta-feira (18) o Real Madrid na final da Copa Intercontinental, contra o Pachuca, às 14h (de Brasília).
O clube espanhol se classificou para a competição como vencedor da Champions League, torneio no qual Vini teve suas melhores atuações, fundamentais para sua indicação ao troféu oferecido pela Fifa.
“Não sei nem por onde eu posso começar [agradecer], porque isso era tão distante que parecia impossível chegar até aqui. Eu era uma criança que jogava bola descalço nas ruas de São Gonçalo, perto da pobreza e do crime. E chegar aqui é algo muito importante para mim”, discursou Vini.
“O que eu estou fazendo é por muitas crianças que acham que tudo é impossível e que eles não podem chegar até aqui”, acrescentou. “Eu não posso deixar de agradecer a minha família, que deixou de viver o sonho deles para viver o meu sonho e fizeram de tudo para eu chegar aqui”.
O brasileiro também mencionou em seus agradecimentos o Real Madrid, o técnico Carlo Ancelotti e fez questão de destacar o Flamengo, clube que o revelou. “Não poderia deixar de agradecer o Flamengo, que foi um clube que me botou no campo. E também agradecer a todos os jogadores da seleção brasileira e o meu país, que sempre torce por mim.”
Considerado pela Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) o melhor jogador da Champions League 2023/24, o camisa 7 fez seis gols e deu quatro assistências no torneio em que o Real chegou ao seu 15º troféu. Na decisão, fechou a conta na vitória por 2 a o sobre o Borussia Dortmund.
No Campeonato Espanhol, ajudou o Real a obter seu 36º título, com 15 gols, sendo o segundo maior goleador da equipe, atrás de Jude Bellingham, autor de 19.
Não estava previsto, porém, que a honraria da Fifa fosse entregue nesta semana. Tradicionalmente, a coroação costuma ocorrer em janeiro. Também não é comum, mas foi somente na véspera da festa que a entidade informou sobre sua realização.
O movimento passou a ser interpretado por parte da mídia europeia como um indicativo de que Vini seria o vencedor. Não parecia lógico que a confederação quisesse criar em Doha uma saia justa semelhante à que ocorreu na festa do Bola do Ouro, quando o brasileiro era visto como o favorito e acabou superado pelo meio-campista Rodri, do Manchester City.
A informação sobre a derrota de seu camisa 7 chegou ao conhecimento do Real Madrid antes do anúncio oficial, o que levou o clube espanhol a decidir boicotar a festa em Paris como sinal de apoio ao brasileiro.
Para Vinicius Junior, sua luta contra o racismo no futebol pode ter influenciado a nomeação. Ele, porém, não pretende mudar a postura mesmo que seu ativismo tenha sido o motivo de não ter vencido a Bola de Ouro.
“Farei isso dez vezes se for preciso. Eles não estão prontos”, publicou Vinicius no X, pouco após o anúncio oficial da vitória de Rodri.
As premiações oferecidas pela France Football e pela Fifa têm critérios diferentes. A revista monta uma lista com 30 nomes e busca avaliações apenas de jornalistas dos países que estão no top 100 do ranking mundial. O The Best, por sua vez, tem quatro júris: capitães e técnicos das seleções nacionais, jornalistas de cada país filiado à entidade e torcedores ao redor do mundo.
A lista final da premiação da entidade máxima do futebol teve 11 jogadores indicados. Vinicius recebeu ao todo 48 pontos. Rodri ficou em segundo, com 43, e o meia inglês Jude Bellingham, também do Real Madrid, ficou em terceiro, com 37.
Segundo o regulamento da entidade máxima do futebol, o período de votação foi de 28 de novembro a 10 de dezembro. Portanto, ocorreu já sob influência do resultado da Bola de Ouro, entregue em 28 de outubro.
Criado em 1991, o prêmio da Fifa já havia discordado da mais antiga e tradicional premiação individual do futebol em dez ocasiões, sendo três envolvendo brasileiros: Romário, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho.
Em 1994, Romário foi eleito o melhor do mundo pela Fifa graças ao brilho no tetracampeonato com a seleção brasileira, mas não pôde competir pela Bola de Ouro, que na época premiava apenas jogadores nascidos na Europa. O troféu ficou com o búlgaro Hristo Stoichkov, seu companheiro no Barcelona.
Dois anos depois, Ronaldo teve grande desempenho pelo PSV e pelo Barcelona, mas perdeu o troféu da revista para o alemão Matthias Sammer, campeão da Eurocopa de 1996.
Em 2004, Ronaldinho Gaúcho, já consolidado como estrela do Barcelona, levou o prêmio da Fifa, mas viu a Bola de Ouro ser entregue ao ucraniano Andriy Shevchenko, atacante do Milan.
O último brasileiro a vencer as duas premiações foi Kaká, em 2007. Também houve um período em que os dois troféus foram unificados, batizado como Bola de Ouro da Fifa. Durou seis edições, de 2010 a 2015, polarizadas entre o argentino Lionel Messi, vencedor em 2010, 2011, 2012 e 2015, e o português Cristiano Ronaldo, ganhador em 2013 e 2014.
Messi também foi o ganhador da última edição, mesmo fazendo poucos jogos pela seleção da Argentina no período de avaliação, além de não ter brilhado pelo Inter Miami. Ele nem apareceu para receber o troféu.
Daí a ideia da Fifa de aproveitar a estadia do Real Madrid em Doha para entregar seu prêmio a Vinicius Junior e evitar uma nova festa esvaziada.
Veja os vencedores de cada categoria
Melhor jogador: Vini Junior (Real Madrid)
Melhor jogadora: Aitana Bonmatí (Barcelona)
Melhor goleiro: Emiliano Martínez (Aston Villa)
Melhor goleira: Alyssa Naeher (Chicago Red Stars)
Melhor treinador: Carlo Ancelotti (Real Madrid)
Melhor treinadora: Emma Hayes (seleção dos EUA)
Prêmio Puskás: Alejandro Garnacho (gol pelo Manchester United)
Prêmio Marta: Marta (gol pela seleção brasileira)
Prêmio de Torcedor: Gui (torcedor do Vasco)
Troféu Fair Play: Thiago Maia (Internacional)