Dezembro sempre foi um mês que me trazia mais angústia do que alegria. As ruas lotadas, as buzinas incessantes, o trânsito e as pessoas apressadas e sem paciência transformavam a cidade em um cenário de guerra. Todos queriam viver como se o mundo fosse acabar no dia 31, correndo para comprar presentes, comparecer às confraternizações e resolver pendências que não precisavam ser resolvidas imediatamente. Eu era uma dessas pessoas. Durante anos, deixei que essa pressão me consumisse, até que percebi que algo precisava mudar.
Na época, minha situação pessoal era complicada. Eu estava no fundo do poço emocional, enfrentando a solidão do Natal como uma ferida aberta. Enquanto todos estavam reunidos com amigos, familiares e em confraternizações alegres, eu me sentia invisível. A ansiedade me fazia passar noites em claro, e a depressão pintava o fim de ano com tons de cinza. Ouvia risadas, via luzes piscando pelas janelas, mas dentro de mim era escuro e pesado. Eu me perguntava por que não conseguia sentir a mesma alegria que parecia transbordar em outras pessoas.
Esse ciclo de ansiedade e tristeza só piorava com o comportamento caótico que dezembro provocava. Era como se cada rosto impaciente na fila ou cada buzina no trânsito fosse um lembrete de que eu não estava no controle de nada. Tudo parecia uma cobrança: de dinheiro, de tempo, de sorrisos falsos. Eu me tornei ainda mais dura comigo mesma, buscando atender expectativas que nem eram minhas, mas que eram impostas por todos ao meu redor. O mundo gritava “Feliz Natal”, mas tudo o que eu queria era desaparecer.
Foi em um desses natais, porém, que a exaustão me obrigou a parar. Não era possível continuar assim. Comecei a me perguntar por que eu sentia tanta necessidade de agradar a todos e atender a tantas demandas. Percebi que boa parte dessa pressão vinha de mim mesma, da minha ideia de que eu necessariamente tinha que provar algo, e na minha cabeça vinha as cobranças de seja suficiente, esteja entusiasmada, participe. Isso me consumia. Então, decidi mudar. Não foi rápido nem fácil, mas comecei a fazer escolhas conscientes para aliviar o peso desse mês.
O primeiro passo foi dizer não. Recusei convites para confraternizações que eu realmente não queria frequentar, e me dei permissão para ficar sozinha quando eu precisava. No início, me senti culpada, mas logo percebi que esse tempo para mim mesma era um presente. Comecei a criar pequenos momentos de autocuidado, como preparar um café quente, assistir a um filme que eu amava ou simplesmente caminhar em silêncio.
Também desliguei o piloto automático das redes sociais. Era como se as mensagens felizes e perfeitas de outras pessoas amplificassem minha sensação de fracasso. Decidi me afastar dessas imagens que só reforçavam comparações inúteis e me concentrar em algo real: como eu poderia transformar dezembro em algo suportável para mim? Isso mudou tudo. Aprendi a focar no que eu precisava e não no que o mundo esperava de mim.
Além disso, estabeleci limites financeiros claros. Durante anos, a pressão para gastar mais do que eu poderia me deixava exausta e com dívidas. Por isso, optei por não participar da corrida de consumo. Os presentes passaram a ser simbólicos, simples e feitos com carinho. Surpreendentemente, quem recebeu parecia mais tocado do que pelas opções caras e genéricas que eu comprei no passado.
A maior lição foi aceitar que o Natal não precisa ser perfeito. Esse ideal que nos vendem, de famílias felizes ao redor de uma mesa farta, pode ser irreal para muitos de nós. Aceitar isso me libertou. Eu entendi que criar pequenas tradições próprias, como ouvir músicas que eu amava ou ajudar alguém em necessidade, era suficiente. Eu não me encaixei na narrativa que outros realizaram.
Se dezembro te deixa à beira do colapso, te convido a reflexão: o que realmente importa para você? É essencial fazer uma pausa, mesmo quando o mundo parece girar em alta velocidade. Hoje, vejo o Natal como uma oportunidade de me reconectar comigo mesma, e não como uma competição social. Ainda há trânsito, filas e gente apressada, mas eu escolho não entrar mais nessa corrida. Isso, por si só, é uma vitória que nenhum presente pode comprar.
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