O tema da redação da Fuvest 2025, o vestibular da USP, é “Relações sociais por meio da solidariedade”. O anúncio foi feito pelo diretor-executivo do vestibular, Gustavo Monaco, após o início da prova neste domingo (15).
Neste primeiro dia da segunda fase, os candidatos têm de responder a dez questões discursivas de português sobre interpretação de textos, gramática e literatura, e a redação, no formato de dissertação de caráter argumentativo (o estudante expõe uma visão e a sustenta por meio de argumentos), que propõe um ponto de vista sobre o tema proposto.
Foram sugeridos seis textos para que os candidatos pudessem ter ideias para a construção da sua redação, três deles de origem literária: um fragmento de “Quincas Borba”, de Machado de Assis; outro fragmento de “Água Funda”, de Ruth Guimarães, também leitura obrigatória para este vestibular, e trecho da obra “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves.
“Esses três textos traziam abordagens distintas das relações sociais e, portanto, facetas diferentes que poderiam ser utilizadas pelos estudantes”, destaca Gustavo Monaco, diretor executivo da Fuvest.
Além desses três trechos literários, havia também um poema de Cazuza, da música “O Tempo Não Para”, um texto de origem filosófica, de Edgar Morin, do livro “Fraternidade: para Resistir à Crueldade do Mundo”, e ainda um trecho da Declaração dos Líderes do G20, durante reunião ocorrida do Rio de Janeiro, em novembro deste ano, que faz referência à criação da aliança global contra a fome e a pobreza.
“A partir desses textos”, acrescenta Monaco, “o candidato tinha a liberdade de construir as suas ideias para desenvolver o tema”.
Segundo professores de redação ouvidos pela Folha, o tema é pertinente e segue a tendência da Fuvest de abordar temas mais amplos e de cunho filosófico.
“A gente pode perceber que não existe a palavra ‘Brasil’ na frase temática, o que traz um desafio a mais porque os alunos estão acostumados a produzir sobre a realidade, a cultura e a legislação brasileira. Quando a Fuvest tira a palavra ‘Brasil’, permite que o aluno faça uma reflexão sobre o ser humano e a sociedade, de modo geral, e fenômenos que acontecem não apenas no Brasil”, diz Mateus Leme, professor de redação do Colégio e Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante.
Segundo ele, para se sair melhor na prova, é necessário entender que a abordagem difere da redação do Enem na medida em que a Fuvest não pede uma proposta de intervenção, com a solução dos problemas trazidos, mas prefere que o aluno assuma um papel de crítica, neste caso, do quanto as sociedades estão indo em direção a um mundo mais egoísta e sem solidariedade.
Apesar de não ter mencionado o Brasil, para a professora de redação da Escola SEB Lafaiete, Isabela Canella, esse é um tema atual ao pensar no cenário brasileiro. “Aquilo que foi vivido a partir das chuvas no Rio Grande do Sul e a mobilização nacional demonstra solidariedade, empatia e pensamento para com o próximo. A prova abordou o que vimos na prática no cenário brasileiro deste ano”, afirma.
O próprio conceito de solidariedade e de relações sociais permitia até articulação com ideias de pensadores como Bauman, e as relações líquidas, e Durkheim, com a solidariedade orgânica, acrescenta Rafael Colucci, da Escola SEB Lafaiete.
Conforme Gabrielle Cavalin, coordenadora de redação das unidades próprias do cursinho Poliedro, o tema volta à abordagem abstrata característica da Fuvest, que se difere dos últimos dois anos, nos quais os temas foram mais objetivos. “Não tem como não pensarmos que vivemos na era do individualismo e da competitividade, e se estamos nessa sociedade, como pensar a solidariedade nas nossas relações? Imaginamos que os alunos vão contemplar essas discussões para conseguir debater esse tema.”
Os desastres naturais são recursos que também podem ser usados para mostrar que somos solidários em momentos cruciais, mas pontuais, e não no nosso cotidiano, diz Maria Aparecida Custódio, professora de Redação do cursinho Objetivo. “Os textos oferecidos falam da solidariedade que deveria ser parte das nossas relações sociais permanentemente.”
Segunda fase continua
A segunda fase de provas para ingressar na USP é realizada neste domingo (15) e na segunda-feira (16). As provas acontecem em 23 cidades da região metropolitana de São Paulo e do interior e litoral paulista.
Na segunda-feira, os candidatos responderão a 12 questões dissertativas cujas disciplinas podem variar de acordo com a carreira escolhida.
A fase dissertativa tem a participação de 30.381 candidatos aprovados na primeira fase que irão disputar 8.147 vagas.
Na edição passada, a prova de redação teve como tema “Educação básica e formação profissional: entre a multitarefa e a reflexão”.
A prova é uma dissertação argumentativa. A pontuação atribuída à produção escrita (50 pontos como nota máxima) equivale à metade do valor do primeiro dia da segunda fase, ou seja, corresponde a 25% de toda a segunda fase e é determinante para o desejado sucesso no exame.