A nova visão da Apple para o futuro da computação é um dispositivo dobrável gigante, semelhante a um iPad. Além disso, a empresa está repensando o mouse, seu próximo AirTag terá um novo chip que permitirá encontrar itens a uma distância maior, e uma mudança para chips de Wi-Fi próprios começará no próximo ano. A Apple também está planejando melhorias em satélite e saúde para seu smartwatch.
De tempos em tempos, a Apple apresenta uma nova visão ousada para o futuro da computação. Sua versão mais recente disso, claro, foi o headset Vision Pro.
Nesse caso, a Apple apresentou um cenário onde os consumidores realizam a maioria de suas tarefas de computação em realidade mista —a fusão de realidade virtual e aumentada. E é fácil ver o apelo disso, pelo menos no abstrato. O Vision Pro e outros headsets de realidade mista oferecem espaço de tela infinito e uma experiência mais imersiva do que se obtém com um telefone ou computador.
Mas o conceito tem algumas desvantagens, como o desconforto de usar um dispositivo no rosto por longos períodos. Pode facilmente tirar uma pessoa do mundo real. Além disso, o preço de US$ 3.499 (R$ 21.132) do Vision Pro garante que poucos consumidores adotarão essa experiência por enquanto.
Por enquanto, é difícil superar os formatos tradicionais —telefones, laptops, tablets— quando se trata de computação. Mas a Apple está trabalhando em outra abordagem que pode se tornar seu próximo dispositivo inovador.
Os designers da Apple estão desenvolvendo algo semelhante a um iPad gigante que se desdobra no tamanho de dois iPad Pros lado a lado. A empresa, sediada em Cupertino, Califórnia, vem aperfeiçoando o produto há alguns anos e está visando lançar algo no mercado por volta de 2028, segundo informações.
O objetivo da Apple para um dispositivo dobrável é evitar o vinco que os produtos atuais têm quando estão na posição aberta. E a empresa fez progressos nesse sentido: protótipos deste novo produto dentro do grupo de design industrial da Apple têm um vinco quase invisível. Mas é muito cedo para dizer se a Apple conseguirá eliminá-lo completamente. A Samsung Electronics Co., que lançou seu primeiro telefone dobrável há cinco anos, tentou sem sucesso remover o vinco.
Atualmente, o maior iPad da Apple tem 13 polegadas. A Apple sabe que os clientes — jogadores, desenvolvedores de software ou apenas pessoas assistindo a filmes— querem a maior tela possível. E a única maneira sensata de enviar um produto móvel com uma tela grande (aproximando-se de 20 polegadas ou mais) é torná-lo dobrável. Caso contrário, é muito difícil colocá-lo em uma bolsa ou mochila.
A Apple não seria a primeira a tentar tal conceito. A Microsoft Corp. prototipou algo semelhante com o Courier há mais de uma década e depois anunciou um tablet de tela dupla chamado Neo em 2019. A empresa abandonou ambas as tentativas, e a conclusão do cancelamento do Neo foi que os consumidores não estavam clamando por um tablet de tela dupla.
A Lenovo Group Ltd. também tentou esse conceito. Seu Yoga Book 9i, que é vendido por menos de US$ 2.000 (R$ 12.079), tem duas telas OLED de 13,3 polegadas que funcionam lado a lado. A abordagem da Apple seria diferente porque quer que a tela pareça uma única peça de vidro ininterrupta. O produto da Lenovo são duas telas conectadas por uma dobradiça. A versão da Apple também provavelmente seria mais cara.
Ainda não está claro qual sistema operacional o computador da Apple usará, mas meu palpite é que será o iPadOS ou uma variante dele. Não acredito que será um verdadeiro híbrido iPad-Mac, mas o dispositivo terá elementos de ambos. Quando 2028 chegar, o iPadOS deve estar avançado o suficiente para rodar aplicativos macOS, mas também faz sentido suportar acessórios do iPad, como o Apple Pencil.
Minha impressão é que grande parte do trabalho atual da Apple em tecnologia de tela dobrável está focado neste dispositivo de ponta. Porém, a empresa ainda reflete sobre a ideia de um iPhone dobrável. Nesse campo, a Apple é o único grande fornecedor de smartphones sem uma opção dobrável: Samsung, Google da Alphabet Inc. e marcas chinesas como Huawei Technologies Co. já têm suas próprias versões. Mas eu não esperaria um iPhone dobrável antes de 2026, no mínimo.
Na semana passada, um suposto documento mostarndo os planos de exibição da Apple foi postado no X. Ele indicava que a fabricante do iPhone pretende usar uma tela dobrável de 18,8 polegadas entre 2028 e 2030. Isso geralmente está alinhado com o que ouvi sobre um computador dobrável da Apple. Esse roteiro também sugere que o MacBook Pro mudará para telas OLED em 2026, com o MacBook Air seguindo em 2027. Isso também está alinhado com o que ouvi.
O panorama geral aqui é que a Apple está tentando adicionar o máximo possível de variações de produtos de hardware, com o objetivo de fazer os consumidores comprá-los para diferentes usos. O cliente perfeito da empresa agora é aquele que possui tanto um iPad quanto um Mac, além de dispositivos móveis como o iPhone, Apple Watch e AirPods.
É por isso que a Apple nunca fundiu as linhas de iPad e Mac: quer que os consumidores tenham ambos. Agora, quando este produto dobrável for lançado, provavelmente não será razoável fazer com que os clientes comprem três dispositivos de computação diferentes. É mais provável que as pessoas o usem para substituir um iPad para tarefas criativas e trabalhos leves de computação. O Mac —talvez equipado com telas sensíveis ao toque— ainda será a escolha para trabalhos mais pesados.
No mundo ideal da Apple, o headset Vision Pro terá se popularizado quando este produto dobrável chegar ao mercado. E óculos de realidade aumentada poderiam completar suas ofertas.
Então, você pode imaginar um cenário em que os fãs mais dedicados da Apple estão usando o relógio e os óculos, têm um iPhone no bolso, um Mac na mesa, um iPad dobrável na mochila e um Vision Pro na mesa de centro em casa.
Isso não é garantido, é claro. Mesmo apenas o dispositivo dobrável apresenta um grande desafio de marketing. Até agora, o conceito dobrável não pegou além de um grupo central de aficionados por gadgets, em grande parte porque os produtos são mais caros e desajeitados.
A questão é se a solução mais elegante da Apple conquistará os consumidores —de uma forma que o Vision Pro ainda não conseguiu. Se a Apple conseguir, o dispositivo poderá emergir como a oferta mais empolgante da empresa nesta década.