A Polícia Federal afirmou que o general Walter Braga Netto repassou dinheiro, dentro de uma sacola de vinho, para a realização de uma operação, realizada em 15 de dezembro de 2022, que teria por objetivo prender ou matar o ministro Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e, na época, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
O repasse do dinheiro, dentro de uma sacola de vinho, teria sido realizado em novembro, alguns dias depois de uma reunião na casa de Braga Netto, em Brasília, onde ele teria aprovado o plano, chamado “copa 2022”. A suposta participação de Braga Netto no financiamento da operação foi relatada pelo tenente-coronel Mauro Cid, em depoimento prestado a Moraes, no âmbito de sua colaboração premiada, no último dia 21 de novembro.
“Alguns dias após, o Coronel [Rafael] De Oliveira esteve em reunião com o colaborador [Mauro Cid] e o General Braga Netto no Palácio do Planalto ou da Alvorada, onde o General Braga Netto entregou o dinheiro que havia sido solicitado para a realização da operação. O dinheiro foi entregue numa sacola de vinho. O General Braga Netto afirmou à época que o dinheiro havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio”, disse Cid em seu depoimento.
O depoimento foi prestado a Moraes e nele, Cid retificou o que havia dito em outro interrogatório, realizado em março deste ano.
Na época, Cid afirmou que, em 12 de novembro, o major Rafael de Oliveira e o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima queriam encontrar Braga Netto para “dar um abraço” e que, na reunião em sua casa, “discutiram sobre a conjuntura nacional do país, a importância das manifestações, o pedido de intervenção militar, os pedidos que estavam sendo feitos pelo pessoal, se podia pedir, se não podia pedir, se ela ali, se não era, se as manifestações podiam estar lá; que era sobre o contexto do que estava acontecendo no país”.
A PF diz ter confirmado que o major Rafael de Oliveira comprou um celular em Goiânia usado na operação “copa 2022”. Em 9 de dezembro, quatro chips de celular foram recarregados em Brasília com créditos no valor de R$ 20. Os números faziam parte de um grupo do aplicativo de mensagens Signal, recuperado pela PF e no qual militares envolvidos na operação relatavam uns aos outros suas posições no dia 15 de dezembro, em vários pontos de Brasília por onde se deslocava Moraes, inclusive perto de seu apartamento.
A missão foi abortada, segundo a PF, porque Bolsonaro não teria convencido o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a apoiar a suposta tentativa de golpe. Ainda segundo as investigações, a expectativa é que no mesmo dia Bolsonaro assinasse um decreto para instituir um estado de defesa no TSE para rever o resultado das eleições.
Mauro Cid disse que Braga Netto tentou obter detalhes de delação premiada
No pedido de prisão preventiva, a PF também registra que, em depoimento prestado no último dia 5 de dezembro, Mauro Cid confirmou que Braga Netto tentou obter, junto a seu pai, detalhes de sua delação premiada, que tramita em segredo de Justiça no STF.
“Basicamente isso aconteceu logo depois da minha soltura, quando eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado. Isso fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado. Tanto que o meu pai na resposta, que é aquela de terceiro, disse não, o CID falou que não era”, disse Cid no interrogatório.
Questionado pelo delegado Fábio Shor como se deu o contato de Braga Netto com seu pai, também general do Exército Mauro Lourena Cid, ele respondeu: “Normalmente era por telefone, até pela distância de cidades”. A PF conseguiu confirmar contatos entre os dois, por meio de mensagens e ligação, pelo aplicativo WhatsApp em agosto de 2023.
O pedido de prisão preventiva também diz que Lourena Cid confirmou, em depoimento, o contato de Braga Netto na época. Mas que ele não se recordava se os dois trataram do acordo de colaboração de Mauro Cid. “A hesitação em confirmar o contato, em contradição ao próprio filho e os elementos probatórios identificados é circunstância que reforça a interferência de Braga Netto sobre o colaborador e seus familiares”, diz o documento da PF.
Documento com perguntas e respostas sobre delação de Cid
No pedido de prisão preventiva, a PF também aponta para a apreensão de um documento, na sede do Partido Liberal (PL), que descreve perguntas e respostas relacionadas ao acordo de delação de Mauro Cid. No papel, encontrado sobre a mesa do coronel Flávio Botelho Peregrino, assessor de Braga Netto, havia inscrições como
- “Teor das reuniões. O que foi delatado?”;
- “Minuta do 142. Existia documento físico?”;
- “Filipe Martins”;
- “Imprensa plantando narrativa dos FE liderando os movimentos (12 e 24 dez e 08 jan)”;
- “O que está saindo na imprensa e que não foi delatado?”;
- “Perguntaram muito do Gen. Mario”;
- “Não falou nada sobre os Gen. Heleno e BN”;
- “GBN não é golpista, estava pensamento democrático de transparência das urnas”.
Para a PF, “além de ter sido encontrado na mesa de trabalho de um de seus assessores no Partido Liberal, o fato de referido documento dar ênfase sobre qual seria a participação de Braga Netto na trama delitiva indica que o indiciado tentou obter dados sigilosos da colaboração”.