As ceias de fim de ano podem ser momentos de sofrimento para pessoas com transtornos alimentares. Comportamentos nocivos, mas naturalizados, podem indicar a dificuldade de pessoas queridas na hora de comer. Convidamos você a prestar atenção e, quem sabe, servir de apoio.
Quais comportamentos posso observar?
De acordo com a nutricionista Julie Roitman, colaboradora do Ambulim, estabelecer regras para comer, cortar alimentos em pedaços muito pequenos, incluir pouca comida no prato, não finalizar refeições, evitar comer junto dos outros na ceia e desaparecer após a refeição podem ser sinais de alerta.
Alguém que só ‘arruma’ o prato, mexe na comida mas não come, diz que já comeu muito ou não está com fome também pode estar em sofrimento, sugere a nutricionista Andréa Vargas, coordenadora do ambulatório do Grupo de Estudos do Comer Compulsivo e Obesidade (GRECCO).
“Também é um ponto de atenção se a pessoa reduz a ceia a uma oportunidade de engordar e repetir precisar emagrecer”, explica Marcela Kotait, coordenadora da equipe de Nutrição de Anorexia Nervosa do Ambulim.
O psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, Elton Kanomata, alerta para padrões disfuncionais como culpa ou vergonha após a ingestão de alimentos, distanciamento social, problemas de saúde físicos e/ou emocionais, como apatia, tristeza, ansiedade, irritabilidade.
Julie e outros profissionais já conversaram com o blog para explicar os quadros clínicos comuns em pacientes com transtornos alimentares.
O que posso fazer?
Desencoraje conversas sobre corpos, sejam eles magros ou gordos. Não comente sobre os pratos de ninguém, estejam cheios ou vazios. Não use palavras pejorativas, como “gordice”, para falar sobre alimentos ou hábitos alimentares.
Evite falar sobre as refeições alheias, como “come mais, você está tão magra” ou “para de comer, você vai engordar”. Isso aumenta o desconforto e afasta a pessoa, explica Andréa.
Caso identifique comportamentos nocivos, tente se aproximar. A nutricionista sugere desviar o foco da comida promovendo conversas sobre outros temas.
O paciente deve sentir que pode conversar com sua rede de apoio sem o risco de julgamentos ou repreensão. “É importante não pressionar por mudanças alimentares e evitar comentários estéticos negativos e até positivos para não reforçar comportamentos disfuncionais ou gerar mais culpa ou vergonha à pessoa”, explica Elton.
Ao abordar a alimentação, mantenha a neutralidade e discrição, para não expor ou gerar desconforto. Dependendo de como for a conversa, pode ser possível sugerir que a pessoa busque tratamento com profissionais de saúde mental especializados em transtornos alimentares. “Não tome nenhuma decisão ou conduta sem o conhecimento e consentimento da pessoa, pois pode acuá-la e inviabilizar qualquer abordagem ou aceitação para um tratamento”, alerta o psiquiatra.
Segundo Andréa, os indícios citados não garantem o diagnóstico, mas valem a atenção. Busque se colocar como um porto seguro. “Pergunte se está tudo bem. Às vezes, só saber que não será julgado já ajuda muito”, diz.
“O objetivo é apresentar um tratamento, não tratar a pessoa”, enfatiza Marcela Kotait. Mas só ofereça ajuda caso se sinta apto para ouvir e apoiar.
Identificou algum sintoma ou transtorno apontados nos textos? Procure apoio psicológico. Quer conversar com a gente? Escreva para blognaotemcabimento@gmail.com
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