O La Niña, fenômeno natural que faz o resfriamento da superfície do oceano na região central e oriental do oceano Pacífico Equatorial, ainda pode se desenvolver entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, mas a atuação do evento climático deve ser mais fraca e curta, incapaz de reverter ou compensar efeitos do aquecimento global em curso.
A previsão foi divulgada nesta quarta-feira (11) pela OMM (Organização Meteorológica Mundial), agência ligada à ONU (Organização das Nações Unidas) especializada em clima e recursos hídricos.
As características do La Niña são opostas às do El Niño, que faz o aquecimento do Pacífico equatorial.
Ambos geram efeitos de larga escala, principalmente em regiões tropicais. No Brasil, geralmente o La Niña muda a distribuição de chuvas, com precipitação maior nas regiões Norte e Nordeste e menor no Sul e Centro-Oeste. As temperaturas costumam ficar mais baixas no país.
A chegada do La Niña poderia trazer algum alívio temporário à região Norte, que tem sofrido com a seca e suas consequências, como a morte de peixes e a fumaça nas cidades.
Segundo a agência, a chance de que o fenômeno aconteça até fevereiro do próximo ano é de 55% —uma previsão anterior, divulgada em setembro, apontava 60% de probabilidade para o mesmo período. Desde maio deste ano, as condições são neutras; livres de El Niño e La Niña.
“O ano de 2024 começou com o El Niño e está a caminho de ser o mais quente já registrado. Mesmo que um evento de La Niña surja, seu impacto de resfriamento de curto prazo será insuficiente para compensar o efeito de aquecimento dos gases de efeito estufa recordes na atmosfera”, afirma Celeste Saulo, secretária-geral da OMM, em comunicado.
Nesta semana, o observatório Copernicus, ligado à União Europeia, divulgou a previsão de que 2024 deve ser o ano mais quente da história. De acordo com cientistas da instituição, os cálculos feitos após a consolidação dos dados para o mês de novembro apontam que é impossível que a marca anterior, alcançada em 2023, não seja superada pelo ano atual.
Segundo o comunicado da OMM, a temperatura do mar está ligeiramente abaixo da média em grande parte do Pacífico equatorial central e oriental, mas ainda sem chegar aos níveis que caracterizam o La Niña.
O desenvolvimento mais lento do fenômeno pode ser creditado pelo menos em parte a fortes anomalias de vento oeste registradoa de setembro a novembro deste ano, de acordo com a agência.
“Mesmo na ausência de condições de El Niño ou La Niña desde maio, testemunhamos uma série extraordinária de eventos climáticos extremos, incluindo chuvas e inundações recordes, que infelizmente se tornaram a nova norma em nosso clima em mudança”, diz Celeste Saulo.
Em uma atualização de previsões para o clima sazonal global, que leva em consideração outros fatores que influenciam o sistema climático do planeta, como a oscilação do Atlântico Norte, a oscilação do Ártico e o dipolo do oceano Índico, a agência afirma que as temperaturas das superfícies dos oceanos devem permanecer acima da média —com exceção da área próxima ao leste do oceano Pacífico Equatorial.
Consequentemente, temperaturas acima da média são esperadas em quase todas as áreas terrestres do planeta.