‘Não teve confronto, pegaram meu filho na traição. Ele era usuário de K2, mas ele não era bandido. Eles mataram meu filho e eu quero provar isso”, diz a auxiliar de limpeza Rosemeire Aparecida Fidelis dos Santos, 45, que teve o filho Vinicius Fidelis dos Santos de Brito, 24, morto em suposto confronto com a agentes da Polícia Militar, no domingo (8), em comunidade de São Vicente, na Baixada Santista.
O caso ocorreu por volta das 21h30, na viela 5, na comunidade Dique do Sambaiatuba. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) do estado diz que circunstâncias da morte são apuradas.
Segundo registro policial, os agentes estavam em operação na comunidade quando se depararam com cinco homens na entrada da viela, sendo que três estariam com armas de fogo e teriam feitos vários disparos contra os policiais. Os militares revidaram com tiros de pistola e de fuzis.
Os suspeitos teriam corrido e deixado para trás uma sacola com lança-perfume, maconha, crack, rádio transmissor e uma arma falsa.
Ainda de acordo com o boletim de ocorrência, ao ingressarem na viela, foram novamente alvos de tiros, e o autor, que seria Vinicius, teria se escondido em uma casa. Lá, eles teriam trocado tiros, e Vinicius morreu.
A mãe contesta a versão da polícia e diz que Vinicius foi assassinado.
“A polícia pegou ele na esquina da minha casa e deu um tiro no braço dele. Ele saiu correndo e foi se abrigar na casa de uma vizinha, no barraco, na frente de casa. Colocaram a dona da casa para fora e mataram meu filho dentro do barraco”, afirmou a auxiliar de limpeza.
“Meu filho não estava armado. Ele não tem arma. Eles mentem. A gente vive um inferno aqui. Esse negócio de matar gente no barraco, isso daí eles já estão acostumados a fazer”, afirmou.
Um vídeo gravado por um morador que estava escondido mostra o desespero de Rosemeire durante a ação.
“Pelo amor de Deus deixa eu entrar, caramba. Sou a mãe dele”, gritou.
Em seguida, houve o barulho de disparo.
“O que que é isso, vocês estão matando meu filho, gente”, afirmou a mulher.
Um policial saiu da casa e não falou nada. Entrou novamente na casa e são ouvidos mais dois estampidos. Além disso, uma bomba estoura na direção de onde a mulher estava na viela.
Rosemeire relatou que os policiais não permitiram que ela entrasse no local nem antes nem depois dos tiros.
“Eles ficavam fazendo chacota. Entravam vários grupos de policiais para verem meu filho lá dentro. Eu gritava e eles falavam ‘cala a boca, vagabunda’. Mostravam a arma para mim, tiravam sarro. Falavam ‘alguém dá água com açúcar que ela está nervosa'”, afirmou.
Segundo a auxiliar de limpeza, o Samu só apareceu depois de mais de 40 minutos dos tiros. O jovem foi levado para o pronto-socorro, mas não resistiu.
O corpo de Vinicius deve ser enterrado nesta quarta-feira (11).
A reportagem enviou o vídeo para a pasta da Segurança.
“A Polícia Civil investiga todas as circunstâncias da morte de um homem de 24 anos em São Vicente no domingo (8), em um patrulhamento seguido de troca de tiros com homens que abandonaram uma sacola com drogas durante a perseguição. As imagens enviadas pela reportagem serão analisadas”, afirmou a SSP.
De acordo com a pasta, foram apreendidas uma arma e porções de drogas com o rapaz que fugiu para um imóvel. As armas dos policiais também foram apreendidas para a perícia.