São esquisitos e, francamente, bem feinhos: afinal não foram feitos para serem vistos por humanos. Até o nome é estranho: o que significa QR mesmo? Ainda assim, estão se tornando rapidamente um dos elementos mais ubíquos na vida dos nossos dias, presente em praticamente todas as áreas de atividade humana.
Em meados dos anos 1970, o modelo UPC (iniciais de “código universal de produto” em inglês) do código de barras estava consolidado e sendo amplamente usado por lojas e cadeias de abastecimento para identificar um número crescente de produtos. O UPC comporta 12 dígitos: um serve para controle e correção de erros, restando 11 para a identificação do produto em questão. Isso significa que existem 100.000.000.000 (cem bilhões) de códigos de barras possíveis. Até hoje foi usado pouco mais de um bilhão, ainda restam muitos para os próximos anos.
Mas o UPC tem uma séria limitação: a quantidade de informação que pode ser codificada com apenas 11 dígitos é bastante limitada. À medida que os mercados se tornavam mais sofisticados, surgiu a necessidade de incluir informações detalhadas sobre o produto, não apenas o seu número de identificação. Por exemplo, a partir da crise da “vaca louca”, que matou dezenas de pessoas no início deste século, os consumidores passaram a querer conhecer a proveniência da carne bovina: ora, não é possível informar isso em um mero UPC.
No início da década de 1990, o engenheiro Masahiro Hara, da empresa japonesa Denso, produtora de peças automotivas, enfrentara uma situação vexatória. A Denso vendia kits contendo diferentes tipos de peças e a equipe de Hara se via obrigada a etiquetar a caixa com um monte de códigos de barras, uma para cada tipo. Seria muito melhor dispor de um único código contendo a descrição completa do conteúdo.
Hara partiu para desenvolver um tipo de código de barras bidimensional (o UPC é unidimensional). A inspiração crucial surgiu enquanto ele observava um tabuleiro de go, o jogo japonês que usa pecinhas brancas e pretas colocadas em uma malha retangular (matriz). Assim nasceu, em 1994, o QR code, formado por uma matriz de quadradinhos brancos ou pretos, cada um representando um dígito binário (branco=0, preto=1).
O nome foi dado por Hara: QR são as iniciais de “quick response” (resposta rápida, em inglês) e assinalam a rapidez de leitura do novo código. Facilidade de leitura também: enquanto o UPC requer um leitor laser específico, o QR pode ser lido por qualquer câmera digital com software adequado. Quando Apple, Samsung etc. incluíram esse software em nossos celulares, o QR code ficou ao alcance de todos.
Essas propriedades, aliadas à enorme capacidade de codificação e informação, à sua capacidade para corrigir erros –alguns QR podem ser lidos mesmo com 30% destruídos!– e à decisão da Denso de não cobrar pelo uso, garantiram o sucesso fulgurante do novo código. De notas e moedas até sepulturas, são cada vez mais os setores de atividade em que esses códigos estão presentes. Também não está longe o dia em que o registro médico de cada um de nós estará contido em um QR code.
E o futuro não para por aqui. Encriptação, para proteger os usuários de códigos maliciosos. E códigos coloridos: libertando o QR da limitação do branco e preto para aumentar ainda mais a sua capacidade de codificar informação. O que mais?
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