O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, usou um helicóptero Águia de forma irregular para socorrer a mulher grávida de um amigo no início de setembro, afirma reportagem da revista piauí publicada nesta segunda (9).
A aeronave pertence à Polícia Militar, comandada por Derrite. De acordo com a publicação, ele voltava de Trancoso, no sul da Bahia, onde passou o feriado de 7 de setembro na companhia de amigos, entre eles o empresário Zeca Romano e a mulher dele, Laila Salomão.
Gestante, Laila se sentiu mal e voou às pressas para São Paulo em um jato particular que pousou no aeroporto executivo internacional São Paulo Catarina, em São Roque, a 53 km da capital paulista. De lá, o casal embarcou durante a madrugada no helicóptero Águia 33, prefixo PR-UBI, rumo ao Hospital Israelita Albert Einstein, no Morumbi, zona oeste.
Segundo a revista, Derrite colocou o helicóptero à disposição dos amigos, com dois pilotos, um médico e um enfermeiro a bordo.
Usado para remover vítimas em casos de acidentes graves e para o transporte de órgãos para transplante, o Águia não faz voos noturnos, o que torna a atitude do secretário ainda mais atípica.
Em nota, a secretaria da Segurança Pública não comentou o uso do helicóptero Águia por Derrite para fins particulares. Comentou apenas que o uso aeronaves por Derrite nos casos citados pela reportagem “não configura irregularidades”. “Em todos os casos, não há conflito com o interesse público”, diz a nota.
No mesmo feriado, Derrite voou do sul da Bahia para São Paulo no jato Cessna Citation modelo CJ3+ (525B), prefixo PR-RCF, de propriedade do ex-deputado federal pelo PP Guilherme Mussi, de acordo com a reportagem da piauí.
A aeronave ficou estacionada por 24 horas no pátio reservado a veículos da Polícia Militar no aeroporto Campo de Marte, na zona norte.
Procurado pela revista, o ex-deputado federal afirmou que o aeroporto de Congonhas estava lotado, por isso seguiu para o Campo de Marte. “Nunca emprestei avião para Derrite nem para ninguém voar sozinho. Só dou carona ao secretário nas vezes em que também estou no voo. Ele era meu colega de Congresso, veio comigo de Brasília até São Paulo algumas vezes, assim como deputados de diversos partidos.”
As denúncias ocorrem em meio à crise na segurança pública em São Paulo causada por aumento da letalidade policial e casos de violência em abordagens.
Na última sexta-feira (6), Tarcísio reconheceu erros na política de segurança no estado. Sem citar diretamente os episódios que levaram à prisão e ao afastamento de policiais militares nos últimos dias, ele falou que a área tem desafios gigantescos e reconheceu que o discurso do governo influencia a conduta das tropas.
No dia anterior, o Tribunal de Justiça Militar de São Paulo manteve a prisão do policial militar Luan Felipe Alves Pereira, 29, que aparece em vídeo jogando homem de uma ponte em Cidade Ademar, na zona sul.
O caso se soma a uma série de episódios recentes de violência policial. Em 3 de novembro, Gabriel Soares, 26, foi morto com tiros nas costas disparados por um PM de folga. Dois dias depois, no litoral, Ryan da Silva Andrade Santos, 4, brincava na rua com outras crianças quando foi atingido no Morro de São Bento, em Santos, por um tiro disparado da arma de um policial militar.
Outra abordagem deixou uma mulher de 63 anos ferida em Barueri, na Grande São Paulo, na última quarta-feira (4).
A morte do delator do PCC Antônio Vinicius Gritzbach, morto a tiros no aeroporto internacional de Guarulhos, há um mês, é outra preocupação da pasta. Ainda não foram identificados os mandantes e executores do crime.