Quem não pratica exercícios regularmente pode reduzir pela metade os riscos de sofrer um acidente cardiovascular com a simples inclusão de quatro minutos diários de atividade vigorosa, como subir escadas. Esses são os resultados obtidos por pesquisadores australianos. Os benefícios foram especialmente expressivos entre mulheres de meia-idade.
Esse tipo de exercício é conhecido, no meio científico, como “atividade física intermitente vigorosa de estilo de vida”. Na prática, vale uma série de exercícios diferentes. Subir escadas, por exemplo, mas também carregar compras pesadas, caminhar morro acima ou brincar de pique com os filhos ou com o pet.
Leonardo Coelho de Lima, pesquisador e professor da USP (Universidade de São Paulo), afirma que pequenas atividades diárias possuem repercussão na manutenção e melhoria da saúde. Entre os benefícios, destacam-se aqueles para o sistema cardiovascular.
Segundo o especialista, tais atividades têm chamado a atenção não só pelos resultados positivos que trazem, mas também porque constituem uma alternativa para aquelas pessoas que não possuem tempo ou acesso aos meios necessários para a prática de exercícios estruturados.
O novo trabalho mostra que a partir de um minuto e meio diário de exercícios, já é possível colher as benesses de uma vida ativa. Para chegar nesses resultados, os pesquisadores analisaram dados de mais de 22.000 pessoas com idades entre 40 e 79 anos disponíveis na coorte britânica de saúde UK Biobank.
Todos os envolvidos relataram não praticar exercícios regularmente. Para acompanhar o cotidiano, eles usaram rastreadores de atividade física durante sete dias. A coleta de dados foi conduzida entre os anos de 2013 e 2015.
Já a saúde cardiovascular foi avaliada por meio de registros hospitalares e de mortalidade, em um período estendido até 2022. Os especialistas também ajustaram os dados para eliminar fatores de confusão, como posição socioeconômica, etnia ou condições coexistentes.
Os resultados mostram que especialmente as mulheres colhem os benefícios da prática de atividades físicas curtas e de alta intensidade no cotidiano. Aquelas que fizeram, em média, três a quatro minutos de exercícios diariamente mostraram uma redução de 45% do risco de sofrer um evento cardiovascular, como ataque cardíaco, derrame ou insuficiência.
Embora os pesquisadores tenham considerado quatro minutos como o tempo ideal, um mínimo de um a dois minutos por dia já foi associado a uma diminuição de 30% na ocorrência desses problemas de saúde.
Por outro lado, para os homens os efeitos foram menos expressivos. Aqueles que fizeram uma média de cinco a seis minutos de atividades diárias apresentaram uma redução de 16% de risco de sofrer com tais eventos. A pesquisa foi publicada na revista científica British Journal of Sports Medicine.
Para quem quer começar a incluir atividades físicas aos poucos na rotina, o pesquisador e professor Thiago Rodrigues Gonçalves, da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec-RJ), recomenda estratégias que facilitem esse processo. Subir escadas, por exemplo, pode ser uma atividade demandante para pessoas sedentárias. Mas, para começar, essas pessoas podem apenas descê-las.
Se subir 12 lances parece uma tarefa impossível, pegar o elevador até o décimo andar e subir apenas os dois últimos facilita o desafio sem, contudo, fugir da atividade. “Fazer algum exercício é melhor do que nenhum”, afirma o especialista.
Não é a primeira vez que os dados dessa coorte mostram benefícios para a saúde das atividades espontâneas de curta duração. Uma outra pesquisa científica, publicada no ano passado na revista Journal of American Medical Association Oncology, mostrou que essa média de três a seis minutos diários também está correlacionada a uma redução de 17% do risco de câncer entre os praticantes. Subindo para quatro a cinco minutos diários, a redução do risco atinge os 30%.
Outra pesquisa, publicada na revista Lancet, revela que também há uma associação dessas atividades vigorosas de curta ou curtíssima duração com a mortalidade. Analisando os dados de mais de 100 mil pessoas disponíveis no UK Biobank, os especialistas descobriram que até cinco minutos de exercícios espontâneos promovem uma redução de 29% do risco de morte.
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