Você pode não querer se sentar ao lado de um bebê chorando em um avião. Aparentemente, as mariposas sentem o mesmo em relação às plantas.
Quando algumas plantas estão desidratadas ou sob algum outro tipo de estresse, elas emitem uma melodia triste composta de cliques ultrassônicos. Algumas mariposas são capazes de ouvi-los e, segundo pesquisadores, podem interpretar os sons como uma dica para escolher em qual planta colocar seus ovos. A descoberta foi descrita em um artigo publicado no mês passado e foi submetido ao periódico eLife.
“Isso é novo”, disse Rya Seltzer, entomologista da Universidade de Tel Aviv, em Israel, e autora do estudo. “As plantas emitem sons, e os insetos realmente estão ouvindo isso. Eles estão sintonizados nesse som específico, sabem o significado e o levantam em conta.”
Em um estudo anterior, pesquisadores mostraram que algumas plantas emitem cliques ultrassônicos quando estão sob estresse. Esses sons são imperceptíveis para os humanos, mas estão dentro da faixa auditiva de outros animais, incluindo insetos.
Essa descoberta despertou a curiosidade de Seltzer e sua equipe: e se alguns insetos realmente interpretassem esses sons e os usassem para tomar decisões?
Os pesquisadores trabalharam em um laboratório com a espécie de mariposa Spodoptera littoralis. Esse inseto é capaz de ouvir os sons produzidos por algumas plantas. Os pesquisadores queriam saber se as lagartas fêmeas usariam os cliques para decidir onde colocar os ovos, uma das escolhas mais importantes em suas vidas.
“Todos os seus filhos vão se desenvolver com base nessa escolha específica que ela fez, e ela tem que tomar uma decisão rápida e muito boa”, disse Seltzer.
Como primeiro passo, a equipe demonstrou que, pelo menos em seu design experimental, as fêmeas geralmente preferiam colocar ovos em uma planta próspera, que é mais provável de fornecer comida suficiente para as larvas recém-nascidas, em vez de em uma desidratada.
Uma vez estabelecido isso, a equipe fez outros experimentos para estudar se as mariposas usavam os cliques de uma planta para tomar a decisão crucial.
Os resultados conclusivos chegaram quando as mariposas foram apresentadas a uma planta de tomate hidratada e a outra saudável e hidratada, mas que emitia sons gravados de angústia de uma planta de tomate desidratada.
As mariposas, segundo os pesquisadores, preferiam colocar seus ovos na planta “silenciosa”. Seltzer disse que as fêmeas não apenas reconhecem que esses sinais indicam a presença de uma planta, mas também que as mariposas usaram os cliques para interpretar o estado da planta que os produz.
“Eles fizeram um estudo incrivelmente bom”, disse Jodi Sedlock, ecologista sensorial na Universidade Lawrence em Wisconsin. “Acho que eles fornecem evidências muito fortes de que essas mariposas, essa espécie, estão prestando atenção nesses sons emitidos pelas plantas.” Mas ela acrescentou que “o motivo pelo qual estão prestando atenção ainda não está totalmente claro”.
Como próximo passo, a ecologista gostaria de ver esse conceito estudado na natureza. “Seria realmente muito interessante, porque às vezes o que acontece no laboratório é diferente.”
Seltzer concordou que são necessárias pesquisas adicionais para avaliar, por exemplo, como as mariposas podem usar esses sinais acústicos em combinação com odores e outros sinais de uma planta. Ela também disse acreditar que o uso dos sinais pode ser mais generalizado. “Muitos insetos ouvem ultrassom, e muitas plantas produzem ultrassom sob estresse”, afirmou ela. “Estou apostando nisso –que é um fenômeno muito amplo.”
Até agora, os cientistas suspeitavam que as mariposas usam a audição ultrassônica para ouvir chamados de acasalamento e evitar seus predadores: morcegos. O estudo adiciona uma razão adicional que “pode até ser mais antiga”, disse Seltzer.
Outros pesquisadores ofereceram uma avaliação mais cautelosa do artigo. “Vários detalhes-chave necessários para entender se a hipótese deles foi comprovada estão faltando”, disse Francesca Barbero, zoóloga da Universidade de Turim, na Itália, incluindo o número de ovos postos pelas fêmeas.
Barbero acrescentou, porém, que a revisão por pares e um refinamento adicional podem resultar em um estudo que “poderia abrir caminho para pesquisas adicionais sobre bioacústica de plantas”.