Nas últimas semanas, uma série de casos de violência policial em São Paulo ganhou repercussão nacional e pôs a atuação da Polícia Militar sob escrutínio.
Esses incidentes, somados ao aumento da letalidade policial no estado, intensificaram debates sobre a conduta das forças de segurança, protocolos de ação e responsabilização de agentes.
A análise realizada pela plataforma Palver, que monitora mais de 90 mil grupos públicos de WhatsApp, fornece um panorama das reações e discursos em torno do tema.
O monitoramento considerou menções à Polícia Militar, às câmeras corporais e, em conjunto, ao governador Tarcísio de Freitas e ao secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite.
No total, 73% das referências se dirigiam à PM, 16% envolviam Tarcísio e Derrite e 11% tratavam das câmeras. Entre 1º e 6 de dezembro, as menções à PM aumentaram em torno de 291%, já as menções às câmeras corporais cresceram 333% e, no caso do governador e do secretário, a alta foi de aproximadamente 589%.
Nos grupos alinhados à direita, o tom é multifacetado. Parte dos participantes adota posição radical, defendendo ações mais letais da PM e a eliminação sumária de “vagabundos”. Esses usuários celebram a violência como instrumento necessário contra o crime, relativizam as ocorrências e alegam que a mídia não mostra o “contexto completo”.
Outros, porém, demonstram decepção com a conduta policial atual, sustentando que a PM perdeu a capacidade de inspirar medo nos “criminosos de verdade” e que passou a vitimar inocentes, prejudicando sua própria legitimidade.
Há quem mencione que a polícia teria se corrompido ao longo do tempo, tornando-se imprevisível e menos confiável. Também aparecem sugestões de que a população deveria estar armada e treinada, tornando a própria existência da PM menos relevante. Nesse sentido, a autoridade policial é questionada, e surgem reflexões sobre um modelo de segurança em que a PM seria dispensável.
Ainda nesses grupos de direita, o uso das câmeras corporais desperta reações ambíguas. Enquanto alguns acham a medida necessária para coibir excessos e oferecer provas visuais diante de acusações, outros temem que a filmagem constante acabe limitando a ação policial, fragilizando o trabalho nas ruas.
Já em grupos alinhados à esquerda, o tom é de repúdio e indignação diante da violência policial. As mensagens destacam um padrão histórico de brutalidade da PM paulista, remontando à ditadura militar, ao massacre do Carandiru e a chacinas em favelas, evidenciando que a violência não é algo recente ou pontual. A cor da vítima e sua posição social tornam-se centrais na análise, com a percepção de que pessoas negras, pobres e periféricas são alvo da força letal do Estado.
Se por um lado a mudança de postura do governo diante do uso de câmeras corporais é vista como um reconhecimento da gravidade da situação, por outro é encarada com ceticismo, já que, na perspectiva desses grupos, tais medidas só terão efeito real se acompanhadas de reformas estruturais e de uma revisão radical do modelo de segurança pública.
O debate nos grupos de WhatsApp reflete a polarização em torno do tema e evidencia o desgaste da imagem da instituição policial, refletido e amplificado nesses grupos. A perda de confiança na polícia dificulta a colaboração entre sociedade civil e forças de segurança, tornando mais complexa a resolução de crimes e a prevenção da violência.
Quando a população passa a encarar policiais como agentes opressores em vez de protetores, o diálogo se esvazia e o sentimento de insegurança se intensifica. Esse cenário é essencial em democracias, onde a legitimidade das instituições depende do respeito da sociedade civil. Assim, o desgaste da imagem policial não apenas mina a efetividade do trabalho cotidiano dos agentes, mas também solapa princípios fundamentais de convivência, segurança e justiça.
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