A conquista do Campeonato Brasileiro neste domingo (8), oito dias depois do triunfo na Copa Libertadores, é ligada ao alto investimento feito pelo Botafogo nesta temporada. O clube foi a agremiação do país que mais gastou em reforços neste ano, incluindo a troca de sua comissão técnica.
Em abril, pouco depois da demissão de Tiago Nunes, o empresário norte-americano John Textor resolveu desembolsar 2 milhões de euros (R$ 12,7 milhões, na cotação atual) pela liberação imediata de Artur Jorge, 52, então comandante do Sporting Braga, de Portugal.
Embora o português não estivesse no que se pode chamar de elite do futebol europeu —a liga portuguesa é apenas a sétima colocada no ranking da Uefa (União das Associações Europeias de Futebol)—, não é um movimento comum ver um treinador europeu deixar o Velho Continente direto para a América do Sul.
A recente onda de estrangeiros no Brasil, impulsionada pelo sucesso de nomes como Jorge Jesus e Abel Ferreira, tem como uma de suas peculiaridades o fato de importar profissionais que não se firmaram em grandes clubes da Europa e que viram no mercado brasileiro uma nova chance de ganhar projeção no cenário internacional.
Artur Jorge viu essa possibilidade no projeto apresentado pelo Botafogo devido ao investimento que seu dono prometeu fazer na janela do meio do ano. Depois de ter deixado escapar o título do Brasileiro em 2023, Textor desembolsou R$ 373,2 milhões para reforçar o elenco da equipe carioca, dos quais R$ 231 milhões foram gastos no segundo semestre.
Embora cinco das oito contratações tenham chegado sem custos de aquisição de direitos, a equipe pagou caro pelo lateral Vitinho (R$ 49,3 milhões), pelo atacante Matheus Martins (R$ 61,1 milhões) e, sobretudo, pelo meia-atacante argentino Tiago Almada (R$ 120,6 milhões), que se tornou a contratação mais cara da história do futebol brasileiro.
Ao contratar nomes como Almada, campeão mundial com a Argentina na Copa do Mundo de 2022, a ideia do Botafogo era apostar em talento comprovado para evitar uma nova queda de rendimento no time na reta final das competições, como se viu na temporada passada.
Na ocasião, o time começou a se desestabilizar após a saída do técnico português Luís Castro, que trocou o time carioca pelo Al Nassr, da Arábia Saudita, e, atualmente, está desempregado. Em vez de buscar nomes de peso no mercado, apostou nos jovens de suas categorias de base. Depois de ter liderado boa parte do Nacional, acabou a competição apenas como quinto colocado.
O medo de um novo vexame fez Textor abrir a carteira. Mas nem Artur Jorge esperava que o sucesso seria imediato. “Não fizemos nenhuma projeção de títulos para este primeiro ano”, disse o técnico ao jornal espanhol As. “Não há dúvida de que as coisas foram muito melhores do que projetamos.”
Além dos títulos adicionais em sua galeria —que tinha até então apenas a Taça da Liga, copa nacional secundária de Portugal—, ele alcançou reconhecimento. Recentemente, foi indicado pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol) como um dos 20 candidatos a melhor treinador do ano.
Em menos de um ano, subiu rapidamente de patamar para alguém que construiu grande parte de sua carreira nas categorias de base do Braga antes de comandar a equipe principal por dois anos.
Com contrato até o fim do ano que vem, o português sabe que agora está valorizado no mercado e não tem sua permanência no Botafogo garantida depois da nova Copa do Mundo de Clubes, em junho do ano que vem —Palmeiras, Flamengo e Fluminense também vão representar o Brasil. Antes disso, Textor deverá se reunir com toda a comissão técnica para discutir uma valorização salarial.
Desde a conquista da Libertadores, ele tem recebido sondagens de clubes da Arábia Saudita, dos Estados Unidos e da Europa, de acordo com portais da mídia portuguesa, como A Bola. O português chegou a sinalizar que a prioridade é permanecer, desde que o clube se comprometa a manter suas principais peças.
A negociação, porém, só deve avançar depois da participação do Botafogo na Copa Intercontinental. O clube brasileiro estreará na próxima quarta (11), contra o Pachuca, do México. Quem avançar terá pela frente o Al Ahly, do Egito, nas semifinais. Atual campeão da Champions League, o Real Madrid entra diretamente na decisão, marcada para 18 de dezembro.