Na última quarta-feira (4), o presidente eleito Donald Trump anunciou em sua rede social a escolha de Jared Isaacman para ser o futuro administrador da Nasa. O anúncio já mostra de cara a influência de Elon Musk sobre a nova gestão, não porque tem fortes laços com Isaacman, mas também porque Trump parece agora dar prioridade inédita ao rumo da agência espacial americana.
Na última vez em que foi presidente, ele levou quase nove meses para apontar um novo administrador para a agência, e o escolhido fora o então deputado Jim Bridenstine, que fez forte lobby para ganhar o cargo.
Agora, o anúncio veio antes mesmo de assumir o cargo e por óbvia indicação de Musk. Isaacman é bilionário, como Trump e Musk, e entusiasta apaixonado da exploração espacial, como o segundo. A pergunta que fica: é uma boa escolha?
O potencial é grande. Aos 41 anos, Isaacman, além de bilionário, é visionário. Já foi duas vezes ao espaço em missões privadas autofinanciadas, com cápsulas da SpaceX. Na mais recente delas, voou com outras três pessoas a 1.408 km de altitude, a maior distância que uma nave tripulada abriu da Terra desde 1972. Também fez a primeira caminhada espacial privada da história.
Ao agradecer a Trump pela indicação na rede social X, Isaacman mencionou esse fato. “Na minha última missão ao espaço, minha tripulação e eu viajamos mais longe da Terra que qualquer um em mais de meio século”, lembrou.
“Posso dizer com confiança que essa segunda era espacial apenas começou. O espaço traz potencial sem paralelo para revoluções em manufatura, biotecnologia, mineração e talvez até caminhos para novas fontes de energia. Haverá inevitavelmente uma economia espacial pujante —uma que criará oportunidades para incontáveis pessoas viverem e trabalharem no espaço. Na Nasa, vamos perseguir apaixonadamente essas possibilidades e embarcar numa era em que a humanidade se torna uma civilização realmente espacial.”
É aposta fácil imaginar que novos projetos focados em parcerias público-privadas vão ganhar força. Também é bom palpite imaginar que Isaacman, um entusiasta também da aviação, fará valer o primeiro A da sigla Nasa, que se refere à aeronáutica –setor muitas vezes esquecido da agência.
Por fim, está claro que a nova gestão compra a nova corrida para a Lua contra a China e já coloca seus olhos em Marte. Isaacman prossegue no X: “Posso prometer isso: nós nunca mais perderemos nossa habilidade de viajar às estrelas e nunca aceitaremos o segundo lugar. Vamos inspirar as crianças (…) a olhar para cima e sonhar sobre o que é possível. Americanos vão caminhar na Lua e em Marte e, ao fazer isso, tornarão a vida melhor aqui na Terra.”
Não seria surpreendente se, sob a gestão de Isaacman, a Nasa desenhasse novos planos para ir além da Lua e pela primeira vez abraçasse de verdade uma missão tripulada a Marte. Por sinal, o Starship, foguete em desenvolvimento pela SpaceX, foi concebido com esse fim.
Resta saber se o entusiasmo será traduzido em ação. A Nasa costuma ter pautas bipartidárias no Congresso, mas ao mesmo tempo lida com interesses paroquiais que tornam importante a habilidade política para aprovar projetos e orçamentos. Isaacman não tem essa experiência. Apesar de seu intelecto afiado para engenharia e solução de problemas, o traquejo político pode fazer falta na hora de traduzir o discurso em realizações.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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