Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A norueguesa Yara começou a produzir amônia renovável a partir de biometano no Brasil e projeta escalar nos próximos anos a fabricação do insumo de fertilizante de olho em uma demanda por redução de emissões de carbono na agricultura, disseram executivos da companhia, nesta sexta-feira.
Com o início da produção no Complexo Industrial da Yara em Cubatão (SP), anunciado nesta sexta-feira, a companhia afirmou que passa a ser a primeira a fabricar amônia renovável no país.
O insumo renovável permite uma redução de 75% da pegada carbono em comparação com a amônia fabricada a partir de , que tem origem fóssil.
O biometano, produzido a partir da vinhaça e da torta de filtro — resíduos das indústria da cana-de-açúcar — chega à unidade da Yara em Cubatão por gasodutos, após ser produzido pela Raízen (BVMF:) em Piracicaba, no interior de São Paulo.
Com a atual contratação de biometano, a Yara consegue produzir 6 mil toneladas de amônia renovável ao ano, de um total de 200 mil toneladas/ano da produção da unidade de Cubatão, que ainda utiliza o gás natural na maior parte da operação.
Mas a companhia idealiza que, até 2030, toda a unidade rode com biometano.
“Vamos testar a demanda, fomentar a demanda, e a nossa missão é ter a planta inteira rodando a biometano”, afirmou o vice-presidente de Soluções Industriais da Yara International (OL:), Daniel Hubner, à Reuters.
Segundo ele, a empresa mapeia oportunidades de trabalhar junto com novos produtores de biometano.
“Se pudesse dizer como objetivo, eu gostaria de ver a plantada rodando 100% com biometano até 2030, mas ainda tem chão para chegar lá”, destacou.
Com o volume de amônia renovável produzido, a empresa consegue fabricar de 15 mil a 20 mil toneladas em fertilizantes, se transformar toda o insumo em adubo, uma vez que há outros clientes, que não pertencem ao agronegócio, interessados no produto.
Com a produção total de amônia — incluindo a fatia fabricada a partir de gás natural –, a Yara consegue produzir em Cubatão entre 450 mil e 500 mil toneladas de fertilizantes nitrogenados, um produto que o país importa em grandes volumes, especialmente da Rússia.
O vice-presidente de Marketing e Agronomia da Yara Brasil, Guilherme Schmitz, admitiu que a empresa espera obter prêmios pelo fertilizante produzido a partir da amônia renovável, já que o setor agrícola também busca se descarbonizar.
“O prêmio vai depender da geração da demanda e quanto este mercado está disposto a valorizar o produto final”, destacou, sem dar um número.
Ele citou que já há produtores de interessados, já que o fertilizante produzido a partir da amônia renovável consegue reduzir até 40% a pegada de carbono do grão colhido.
Hubner lembrou que a pegada da CO2, quando se quebra hidrocarboneto (gás natural, por exemplo) no processo produtivo da amônia, é considerável.
“Quando pega o biometano, não tem esse problema… não estou colocando carbono novo na atmosfera”, afirmou.
A unidade de Cubatão é hoje o maior consumidor de gás natural do Estado de São Paulo, sendo também o principal produtor de amônia do país.
Com a introdução do biometano, a empresa descarboniza parte de sua operação e consequentemente abre um potencial para impactar toda a cadeia que faz uso dos fertilizantes nitrogenados.
Globalmente, a Yara desenvolve outros projetos de amônia renovável baseados em energias solar e hídrica.
(Por Roberto Samora)