Uma década após seu gol no Maracanã contra a Argentina que deu o título à Alemanha na Copa do Mundo do Brasil, Mario Götze volta a se parecer com o artilheiro de rosto angelical que deu à seleção de seu país sua quarta estrela em 2014, agora vestindo a camisa do Eintracht Frankfurt.
Götze conhece o sabor das glórias do futebol, saboreadas no minuto 113 daquela final contra a Argentina no emblemático estádio do Rio de Janeiro, mas também viveu profundas decepções e quedas em seu jogo.
Em um tempo descrito pela mídia alemã como a arma do país para contrabalançar Messi, Götze não conseguiu corresponder às fabulosas expectativas geradas ao seu redor.
Após uma transferência sem final feliz para o Bayern de Munique e um retorno decepcionante ao Borussia Dortmund, Götze tentou endireitar sua carreira no PSV Eindhoven, antes de retornar à Alemanha com o Eintracht em 2022.
Aos 32 anos, ele encara a fase final de sua carreira com um desafio empolgante. O time de Frankfurt é o segundo na Bundesliga e Götze poderia conquistar o campeonato alemão com um terceiro time diferente.
‘Expectativas muito altas’
Produto da base do Borussia Dortmund, Götze não demorou a se destacar nas categorias de base da seleção alemã.
Vencedor do prêmio Golden Boy em 2011, conquistou duas Bundesligas sob o comando de Jürgen Klopp no time da região do Ruhr antes de fechar sua transferência para o Bayern, apenas alguns dias antes de ambos os clubes se enfrentarem na final da Champions de 2013.
Uma decisão que lhe rendeu críticas furiosas dos torcedores do Dortmund. O próprio Klopp chegaria a dizer que foi “um golpe gigante para o qual não estava preparado”.
Entrou para a história do futebol com seu gol no Brasil, mas o protagonista reconheceria mais tarde que aquilo trouxe “expectativas muito altas”.
Ao retornar à Alemanha, conheceu os dissabores da reserva no Bayern sob o comando de Pep Guardiola.
Em 2024, o jogador escreveu uma carta retrospectiva para seu ‘eu’ de anos atrás, no livro ‘Vozes do Eintracht Frankfurt’. Nela, recomenda ao jovem Götze —que também tinha uma oferta do Barcelona— que ficasse em Dortmund: “Sei que não pensará muito nisso quando eu te disser, mas fique em Dortmund um pouco mais. Será bom para você e para seu desenvolvimento”.
Após seu retorno para casa, ao Dortmund em 2016, o talentoso meio-campista ofensivo passou meses afastado devido a um distúrbio metabólico, aliado à sensação de estar decepcionando os torcedores.
“Se ao menos eu tivesse baixado minhas próprias expectativas, teria me permitido um respiro e aceitado uma fase de fraqueza de vez em quando”, contou Götze à publicação alemã Spiegel.
“Se eu pudesse imaginar como deveria ser minha carreira, teria marcado aquele gol aos 35 anos em meu último torneio e depois dito ‘É isso, estou me aposentando’.
‘Como um avô’
Na Liga Europa, competição que conquistaram em 2022, ‘Die Adler’ (As Águias) estão em terceiro lugar, apenas atrás de Lazio e Athletic Club de Bilbao no grupo único de 36 equipes.
O Eintracht recebe no sábado (7) o Augsburg na 13ª rodada do campeonato alemão, antes de visitar o Lyon francês na segunda principal competição continental europeia.
A mera classificação para a Liga dos Campeões já seria um prêmio para um clube que só a disputou em uma ocasião e não termina entre os quatro primeiros na liga alemã desde 1993.
Götze mantém aquele instinto para marcar gols decisivos. Já voltou a demonstrar isso nesta temporada, por exemplo, na vitória por 1 a 0 contra o Werder Bremen.
Com jovens companheiros no ataque como Omar Marmoush e Hugo Ekitike, após essa vitória contra o Bremen, Götze confessou: “Me sinto como um avô aqui”.
“Temos muitos jogadores jovens. Bons jogadores, muita qualidade. Há muita diversão aqui. E assim deveria ser sempre: futebol e diversão”.