O soldado da Polícia Militar Vinicius de Lima Britto foi preso na noite desta quinta-feira (5) em São Paulo. Após denúncia do Ministério Público de São Paulo, a Justiça atendeu o pedido e decretou na tarde desta quinta a prisão preventiva (sem prazo) do soldado, tornando-o réu por homicídio qualificado por ter matado, com 11 tiros pelas costas, um homem de 26 anos no Jardim Prudência, na zona sul da capital.
De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), ele será foi levado para o Presídio da Polícia Militar Romão Gomes nesta sexta-feira (6) depois passar pela audiência de custódia.
Esta é a segunda prisão de policial militar nesta semana. O soldado Luan Felipe Alves Pereira, 29, também foi preso por ter jogado um homem de uma ponte. A prisão ocorreu na manhã desta quinta, na Corregedoria, quando chegava para trabalhar depois de ser afastado das ruas. Outros 12 militares envolvidos na ocorrência também foram afastados de suas funções.
Em sua decisão a juíza Michelle Porto de Medeiros Cunha Carreiro disse que “as circunstâncias da infração, em especial diante da quantidade de disparos efetuada em via pública, são indicativas da periculosidade do agente”.
No entendimento da juíza, a conduta do policial, mesmo inserida em contexto de coibição de crime patrimonial “excedeu em muito os limites de sua atividade, em flagrante deturpação da finalidade da Polícia Militar”.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Britto. Em depoimento, o agente afirmou que agiu em legítima defesa.
A prisão preventiva é ação cautelar mais grave possível durante a investigação e só deve ser adotada quando ficar comprovado que são insuficientes outras opções, como a proibição de deixar determinado local ou de se comunicar com suspeitos.
O promotor substituto Rodolfo Justino Morais justificou o pedido de prisão com o fato de que Britto, “em apenas dez meses de atividade policial, já esteve envolvido em outras três mortes em circunstâncias semelhantes, o que demonstra sua alta periculosidade e o risco concreto que sua liberdade representa para a sociedade”.
Diz, ainda, que ele pode ameaçar testemunhas do caso que deram depoimentos divergentes de sua versão. O policial alegou legítima defesa, embora as imagens mostrem que ele era a única pessoa armada na cena. A arma usada por Britto pertence à PM, o que segundo a promotoria demonstra “total desvirtuamento da função pública que exerce”.
O caso é parte da sequência de abusos cometidos nos últimos meses por PMs sob a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). A ação desrespeitou os próprios protocolos da corporação, uma vez que atirar pelas costas de qualquer suspeito contraria protocolos de treinamento e é considerado ilegal. O caso aconteceu em 3 de novembro.
A vítima, Gabriel Renan da Silva Soares, 26, havia acabado de furtar quatro pacotes de sabão de uma das gôndolas de um mercado na avenida Cupecê. Ele saiu correndo e escorregou num pedaço de papelão em frente ao mercado. O policial, à paisana, estava no caixa e disparou os 11 tiros enquanto Soares tentava se levantar. Ele estava desarmado.
A denúncia, feita pela 3ª Promotoria do 5º Tribunal do Júri da capital, afirma que Britto executou “sumariamente a vítima sem que houvesse qualquer ameaça ou risco à sua integridade física ou de terceiros”. Também registra que o policial colocou em risco os clientes do mercado e as pessoas que passavam na rua, inclusive um motoboy que estava próximo à linha de tiro, já que a arma foi disparada em direção a uma avenida movimentada.
A denúncia foi protocolada na noite de quarta-feira (4).
Após a repercussão do caso, Tarcísio e o secretário da segurança pública, Guilherme Derrite, condenaram a ação do policial.
“Imperioso ressaltar que para prática do delito doloso contra a vida, o denunciado efetuou diversos disparos contra a vítima pelas costas, que estava completamente desarmada e indefesa”, diz a denúncia. “Indicando, portanto, dolo exacerbado e brutalidade na prática do delito por ele intentado.”