Colado na estação de trem Juventus-Mooca está o conjunto de prédios da antiga fábrica da Companhia Antarctica Paulista. Trata-se de uma construção simbólica de São Paulo por seu gigantismo, seu lugar na paisagem do bairro e pela importância econômica de outrora. A cervejaria fez parte do primeiro ciclo industrial da cidade e oferecia um produto cobiçado e de grande demanda.
Desde meados da década de 1990, quando a Antarctica decidiu transferir suas atividades para o interior, a velha fábrica está vazia. Suas primeiras edificações são de 1892, mas o complexo ganhou a atual configuração nos anos 1920, período em que passou a abrigar a sede da companhia. Quando adquiriu a Antarctica, em 1999, para criar a Ambev, a Brahma não se interessou pelo imóvel.
Em 2016, ele foi tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) e, em 2019, foi adquirido pela operadora de planos de saúde Prevent Senior que anunciou na época ter um projeto de fazer um grande centro de tratamentos médicos, convivência e diversão para idosos, uma espécie de Disney da terceira idade. Os investimentos programados seriam de R$ 200 milhões. O tempo se passou mas os projetos não saíram do lugar.
A assessoria de imprensa da Prevent Senior informou que ainda não há uma definição sobre o futuro da fábrica. Estão sendo analisadas várias opções para a área de 58 mil metros quadrados e no momento oportuno uma delas será realizada. “Existem ideias sobre qual seria o melhor destino do lugar, mas elas ainda não estão formatadas. Houve vários ensaios de arquitetos com propostas de aproveitamento do espaço”, disse.
A Antarctica começou a nascer em 1885, quando se juntaram os empresários Joaquim Salles, dono de uma fábrica de gelo, e Louis Bucher, proprietário de uma pequena cervejaria. Três anos depois, eles criaram a empresa e passaram a produzir a bebida no bairro da Água Branca.
Em 1891, com a lei das Sociedades Anônimas, ela é oficialmente fundada sob o novo estatuto, e passa a ter 61 sócios, entre os quais se destacam o alemão João Carlos Antônio Zerrenner e o dinamarquês Adam Ditrik von Bulow, que dominariam a companhia.
Sempre numa disputa acirrada com a Brahma, a Antarctica foi líder do mercado brasileiro de cervejas entre 1930 e 1990. Tinha posição de domínio consolidado em várias regiões. Sua posição dominante só foi ameaçada pelo crescimento da Skol, marca da Brahma, que roubou-lhe bastante participação no interior do Brasil e no Nordeste, no final do século passado.
Mostrando sua situação de declínio, em 1991, a Antarctica perdeu a liderança geral do mercado, algo que só iria recuperar em 1995, por causa de limites de capacidade produtiva da Brahma. A Brahma voltaria a reconquistar a primeira posição e a manteria até a criação da Ambev.
O encerramento da fábrica da Mooca representou o fim de um ciclo de majestade da Antarctica, que foi uma das empresas mais poderosas e admiradas do Brasil e hoje é uma marca de cerveja. A trajetória do seu prédio se confunde com a história industrial da cidade. Resta saber qual destino o Prevent Senior dará para esse importante patrimônio arquitetônico e cultural paulistano.
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