Incêndios florestais, potencializados pela seca intensa, fizeram disparar a liberação de gases causadores de efeito estufa na Amazônia Legal em 2024. Os valores são os mais elevados desde 2010, com emissões totais estimadas em pelo menos 176,6 megatoneladas de carbono.
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (5) pelo observatório Copernicus, da União Europeia, que chamou a atenção para as emissões provocadas por uma série de queimadas particularmente intensas na região das Américas.
“A América do Norte e a América do Sul foram as regiões que mais se destacaram nas emissões globais de incêndios em 2024. A escala de alguns desses incêndios atingiu níveis históricos, especialmente na Bolívia, no pantanal e em partes da amazônia”, disse Mark Parrington, cientista sênior do serviço de monitoramento da atmosfera do Copernicus.
Além dos gases-estufa, os incêndios também contribuíram para deteriorar as condições do ar, provocando danos à saúde das populações atingidas. Em partes do Brasil e da Bolívia, as concentrações de material particulado fino excedeu as diretrizes da OMS (Organização Mundial da Saúde) ao longo de agosto, setembro e outubro.
“Os impactos de todos esses incêndios tiveram efeitos em escala continental na qualidade do ar, com altas concentrações de material particulado e outros poluentes que persistiram por várias semanas”, completou Parrington.
A seca se intensificou na região amazônica desde meados de 2023, favorecendo o fogo também em outros países com a presença do bioma, como a Venezuela.
Maior área úmida tropical do mundo, o pantanal registrou “uma atividade de incêndios florestais sem precedentes em 2024”, indicam ainda os dados do Copernicus.
O monitoramento feito pelo observatório computou um aumento incomum nas emissões no bioma particularmente nos meses de maio e junho.
As emissões estimadas para a região do pantanal nesse período foram de 3,3 megatoneladas de carbono: as mais elevadas dos 22 anos da série histórica e quase três vezes o recorde anterior para esse período, que era de 2009.
No acumulado do ano até agora, a emissões totais estimadas para Mato Grosso do Sul, que concentra a maior parte do bioma, foram de 18,8 megatoneladas de carbono, também o valor mais alto para a série histórica do estado.
Na Bolívia, que abriga parte do pantanal, incêndios de grandes dimensões também ampliaram as emissões. Os valores anuais para o país andino foram os mais altos desde que o levantamento do Copernicus começou, há mais de duas décadas.
O monitoramento dos pesquisadores europeus está em linha com o Programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que revelou nesta semana que os biomas brasileiros tiveram recordes de incêndios em 2024.
De janeiro a novembro, o sistema registrou 134.979 focos de incêndios na amazônia. Esse resultado representa um aumento de 43,7% em comparação com o mesmo período de 2023. Esses valores são os maiores catalogados desde 2007.
A alta, contudo, foi ainda mais expressiva nos outros biomas. Nos primeiros 11 meses de 2024, houve um crescimento de 64,2% nos focos de incêndio no cerrado e de 139% no pantanal, em relação ao mesmo período de 2023.
Em boa parte do Brasil, a temporada de incêndios acontece entre agosto e outubro, com pico em setembro. Em 2024, porém, o mês de julho já trazia indícios de que o país enfrentaria condições de seca severa que favoreceriam grandes incêndios florestais.
Mariana Napolitano, diretora de estratégia do WWF-Brasil, explica que a seca extrema enfrentada pela amazônia desde 2023 é uma combinação do fenômeno natural El Niño com mudanças climáticas e desmatamento acumulado na região.
“O desmatamento colabora para o agravamento da crise climática que já nos afeta diretamente com o regime irregular de chuvas, secas históricas, ondas de calor extremas e enchentes. Essa combinação da alteração climática provocada pelo aquecimento global com a degradação ambiental criou um cenário favorável ao uso criminoso do fogo para uma conversão da floresta”, afirmou.