Com o tempo se esgotando e a maioria das emissoras se afastando, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) anunciou nesta quarta-feira (4) que finalmente conseguiu garantir um parceiro de transmissão para seu Mundial de Clubes inaugural com 32 equipes nos Estados Unidos no próximo ano.
O anúncio de um acordo global com a empresa de streaming sediada em Londres, Dazn, ocorreu apenas um dia antes do presidente da Fifa, Gianni Infantino, que tem defendido o evento, presidir o sorteio do torneio que durará um mês.
Embora os detalhes financeiros do acordo não tenham sido anunciados publicamente, a Dazn está pagando cerca de US$ 1 bilhão (R$ 6 bilhões), de acordo com duas pessoas familiarizadas com o acordo que falaram sob condição de anonimato porque não estavam autorizadas a discutir questões financeiras. A Dazn também garantiu uma opção para direitos futuros do evento. Nas últimas semanas, a Fifa informou às equipes e outras autoridades que esperava arrecadar US$ 800 milhões (R$ 4,8 bilhões) em taxas de direitos de televisão, parte dos cerca de US$ 2 bilhões (R$ 12 bilhões) que esperava que o evento gerasse, um valor que a maioria dos profissionais de mercado considerou irreal.
Inicialmente, a Fifa tentou garantir um acordo global de US$ 1 bilhão com a Apple antes que a empresa de tecnologia se afastasse, acreditando que as exigências da entidade, que já haviam sido reduzidas pela metade em relação às estimativas anteriores de Infantino, eram muito altas.
A Dazn, uma empresa de mídia esportiva de propriedade do bilionário britânico nascido na Ucrânia e criado na Rússia, Len Blavatnik, tem expandido sua presença no futebol. A empresa garantiu direitos de transmissão para grandes ligas e competições em toda a Europa e além, embora tenha perdido consideráveis quantias de dinheiro ao longo do caminho. Blavatnik investiu mais de US$ 5 bilhões (R$ 30,3 bilhões) desde que iniciou a Dazn em 2016, e contabilizou perdas de bilhões de dólares desde então.
A empresa passou por várias estratégias de negócios e CEOs. Mais recentemente, fez parceria com a Arábia Saudita, à medida que o reino emergiu como um dos maiores investidores em esportes globais. A Dazn tornou-se o destino preferido de proprietários de eventos esportivos sauditas, incluindo tênis, boxe e futebol, levantando especulações de que a parceria pode em breve levar a um investimento direto saudita na empresa, à medida que o reino busca construir sua própria rede esportiva. A Fifa concederá a Copa do Mundo de 2034 à Arábia Saudita na próxima semana.
“Este acordo inovador com a Fifa é um marco importante na jornada da Dazn para ser a plataforma de entretenimento definitiva para fãs de esportes em todo o mundo”, disse Shay Segev, CEO da empresa.
A Dazn e a Fifa disseram que os jogos do Mundial de Clubes serão transmitidos gratuitamente e que os direitos poderão ser sublicenciados para emissoras ao redor do mundo. O acordo destaca a necessidade da Fifa de arrecadar não apenas dinheiro, mas também interesse para um evento que nunca foi realizado antes.
“Através deste acordo de transmissão, bilhões de fãs de futebol em todo o mundo agora podem assistir ao que será o torneio de clubes mais acessível de todos os tempos —e de graça”, disse Infantino em um comunicado divulgado com a Dazn.
O presidente da Fifa quer que o torneio quadrienal se torne um dos eventos esportivos mais assistidos, talvez até mesmo um dia igualando a popularidade da Copa do Mundo masculina, que é disputada por nações em vez de times profissionais —embora eles apresentem muitos dos mesmos jogadores de ponta. Para isso, ele conseguiu garantir a presença de 12 equipes europeias para o evento, que ele promoveu como o torneio mais meritocrático do futebol. Apesar dessa afirmação, a Fifa encontrou um lugar para a equipe Inter Miami de Lionel Messi, que foi eliminada dos playoffs da Major League Soccer na rodada de abertura. Para atrair esses grandes nomes —incluindo Real Madrid, Inter de Milão e Bayern de Munique— Infantino terá que oferecer prêmios em dinheiro que garantam que as equipes levem o evento a sério, o que significa que o custo de sua realização pode ultrapassar US$ 1 bilhão.
Clubes europeus, que abrigam a maior parte dos melhores talentos do mundo, realizaram várias reuniões com a Fifa no ano passado, mas receberam pouca clareza sobre os prêmios em dinheiro. Para Infantino, o torneio oferece uma chance de deslocar os centros financeiros e de audiência do futebol para longe da Europa. Ele acredita que o evento pode um dia permitir que clubes de outras regiões compartilhem parte dos lucros e do interesse pelo esporte e cumpram sua visão de tornar o futebol “verdadeiramente global”.
O caminho para colocar o torneio em prática tem sido acidentado. Esforços para vendê-lo rápida e silenciosamente a um conglomerado japonês, apoiado por dinheiro do Golfo Pérsico, falharam em 2018. Então, um plano para sediar a primeira edição do evento na China em 2021 foi frustrado pela pandemia de Covid-19.
Cidades anfitriãs e estádios foram anunciados apenas recentemente, juntamente com os primeiros patrocinadores. Mas foi a venda de direitos de mídia que rendeu as manchetes mais negativas, com o fracasso em garantir um acordo com a Apple levando a um processo de licitação truncado e de última hora, no qual as principais emissoras da Europa não conseguiram fazer lances ou fizeram ofertas baixas. A Fox, um parceiro de longa data da Fifa e uma emissora para a Copa do Mundo de 2026 na América do Norte, teria oferecido apenas US$ 10 milhões (R$ 60,5 milhões) pelos direitos.
O ex-diretor comercial da Fifa, Simon Thomas, disse ao The New York Times na semana passada que a entidade “precisaria ser criativa” para atingir suas metas financeiras.
Ainda não está claro se o acordo com a Dazn, que também garantiu direitos ao arquivo e à plataforma digital da Fifa, permitirá que isso aconteça.