Passados pouco mais de oito anos de ele ter sido usado pela primeira vez, em uma partida nos EUA, estamos acostumados plenamente com o VAR, o árbitro assistente de vídeo, certo?
Você, possivelmente sim. Eu, não. Na ampla maioria das partidas que vejo pela TV, sei que ele está lá. E sei que há quase 100% de chance de ele aparecer em algum momento no decorrer do jogo.
Estou ciente disso, contudo jamais irei me acostumar ao fato de que, a cada gol que sai, terei de esperar alguns momentos, geralmente mais longos que o tolerável, para saber se foi mesmo gol.
Pois o famigerado VAR, com uma série de câmeras e ângulos ao seu dispor, esmera-se para encontrar uma irregularidade que quase ninguém viu: um impedimento, uma falta, um toque de mão do atacante.
É tão justo, honesto e correto como frustrante, irritante e sacal. Jamais deixarei de ter certeza de que o futebol, com o VAR, perdeu sua naturalidade. Incorporou uma muleta.
Enfim, a tecnologia é chata, porém a maioria dos países –a Suécia é uma bem-vinda exceção– a aprova e a considera vital. Amém, fazer o quê?
Um problema do VAR é que sua instalação e execução são caras, na casa dos milhares de reais/dólares/euros, entre equipamentos, operacionalização e profissionais envolvidos.
A Fifa, entidade máxima do futebol, gaba-se de que 65 de seus membros, espalhados pelas cinco confederações, em mais de 200 competições “beneficiaram-se da implementação das soluções do VAR que auxiliam a equipe de arbitragem na condução do jogo”.
Só que a Fifa tem mais de 200 filiados. Ou seja, a ampla maioria (perto de 2/3) não utiliza o sistema em seus campeonatos. Faltam estrutura e dinheiro.
Para tentar fazer com que um número maior de países possa evitar que “erros claros e óbvios” (é nessas situações que o VAR deve intervir, mas ele teima em se intrometer em casos duvidosos e interpretativos) aconteçam, está em teste uma proposta alternativa.
Trata-se do que nomeio Desafio do Técnico. Visto, por exemplo, na NFL (futebol americano) e na NBA (basquete). O treinador, se considerar que a arbitragem errou em uma marcação, pode contestá-la.
No futebol, cada time teria direito a dois desafios por partida. E eles seriam viabilizados pelo chamado VS, Video Support (apoio de vídeo). Para isso, basta que as câmeras que exibem o jogo estejam conectadas a um monitor de vídeo que possa reproduzir o lance questionado.
Não precisam ser 10, 20, 30 câmeras, como o VAR tem. Pode ser até uma só.
Para recorrer ao VS, o treinador deve fazer um sinal com o braço erguido, logo após a definição da jogada, e também entregar um cartão de solicitação ao quarto árbitro, que fica na lateral do campo, entre os bancos de reservas.
O árbitro de campo é chamado e faz a consulta no monitor, tomando em seguida a decisão: manter a marcação, que deve ser a praxe, ou modificá-la, no caso de ter havido um erro escandaloso.
O Desafio do Técnico via VS, do mesmo modo que o VAR, só deve ser empregado em quatro cenários: gol/não gol; pênalti/não pênalti; expulsão (cartão vermelho direto); erro de identidade (cartão dado a um jogador quando foi outro que cometeu uma infração).
A Fifa, que reportou sucesso do VS em partidas de futsal, o testou neste ano em torneios de futebol femininos sub-20 e vê com bons olhos a ampliação da experiência. Divisões inferiores da Itália e da Alemanha têm interesse.
Para que esse “primo pobre” do VAR possa ser efetivado mundo afora, é necessário que o Ifab (International Football Association Board), que controla as regras do futebol, dê seu aval. A próxima reunião do órgão é em março de 2025.
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