Uma fumaça espessa tem coberto o céu de Santarém, por semanas consecutivas, e prejudicado a rotina dos moradores da cidade de 357 mil habitantes do sudoeste do Pará, um entreposto fluvial importante da amazônia.
Em meio a seca, a região tem sofrido com a morte de peixes. Segundo ribeirinhos, são até 20 toneladas de animais mortos, incluindo também jacarés e tartarugas.
Nos últimos dias, a população tem sofrido com a inalação de fumaça, oriunda de queimadas na região.
Na UPA 24 horas da cidade, os casos de pacientes com sintomas respiratórios tiveram um aumento nos últimos meses. Foram 1.640 atendidos em novembro até o dia 25.
Nesse dia, o prefeito Nélio Aguiar (União Brasil) assinou o decreto que declarou situação de emergência ambiental em Santarém. A medida foi tomada em razão da deterioração da qualidade do ar, agravada pelas queimadas.
O decreto, válido por 180 dias, proíbe o uso de fogo para qualquer finalidade, incluindo limpeza e manejo de áreas, em todo o município. Contudo, há exceções previstas, como práticas de combate a incêndios supervisionadas por órgãos competentes, atividades agrícolas de subsistência realizadas por comunidades tradicionais e indígenas, controle fitossanitário com autorização ambiental e pesquisas científicas também autorizadas.
Foi solicitado ao governo federal o envio das Forças Armadas e da Força Nacional para atuar diretamente no combate às queimadas, tanto em Santarém quanto nas áreas circunvizinhas.
Na madrugada de 29 de novembro, a concentração de partículas poluentes no ar atingiu 400 microgramas por metro cúbico, segundo a plataforma PurpleAir. O nível é considerado perigoso no índice internacional que mede a qualidade do ar.
Segundo o infectologista Alisson Brandão, do Hospital Municipal de Santarém Dr. Alberto Tolentino Sotelo, a principal orientação é que as pessoas mantenham a hidratação, usem roupas leves e confortáveis e evitem atividades físicas intensas ao ar livre, especialmente, durante os momentos em que a fumaça está mais densa.
Outra dica é a lavagem nasal com soro fisiológico. Esse procedimento ajuda a remover partículas irritantes e a manter a mucosa nasal umedecida.
A orientação é atentar aos sinais de desconforto respiratório, como tosse persistente, cansaço fácil ou falta de ar. “Nesses casos, é fundamental buscar atendimento médico para avaliação adequada e evitar possíveis complicações”.
Em um vídeo postado em redes sociais no último dia 24 o médico neurocirurgião Erik Jennings, que atua na região amazônica, alertou sobre os efeitos que a fumaça, proveniente de queimadas, está ocasionando na população.
“Estamos respirando um ar totalmente impuro e com complicações para saúde. Essa fumaça tem partículas muito pequenas, isso é inalado pelos nossos pulmões e vai até a corrente sanguínea. Isso causa doenças cerebrovasculares, como acidente vascular cerebral, doenças cardíacas, doenças pulmonares e câncer. Isso é muito prejudicial a saúde”, disse o médico.
Na tarde de segunda-feira (2), dezenas de pessoas fizeram protesto em Santarém contra o cenário de crise climática provocada pela ampliação da estiagem e das queimadas. A mobilização “Marcha Pelo Clima”, organizada pela Frente Pelo Clima Santarém, percorreu diversas ruas do município. O Pará deve ser sede em 2025 da COP30.
A região de Santarém tem sofrido as consequências da forte estiagem. A seca extrema que atinge a região Norte afeta também o balneário de Alter do Chão. Em setembro, e ra possível ver catraias (canoas) estacionadas enquanto turistas atravessavam a pé o canal que liga a vila à Ilha do Amor.
Em outubro, a estiagem severa atingiu um símbolo da amazônia, a vitória-régia. Exemplares da planta apareceram secos e até mortos nos leitos esvaziados.
Elas foram achadas mortas no canal do lago Jari, em uma enseada do rio Tapajós, na zona ribeirinha de Alter do Chão.