A reunião do Conselho Deliberativo do Corinthians que votaria o impeachment do presidente Augusto Melo foi suspensa por uma decisão da Justiça. Uma liminar obtida pelo dirigente interrompeu o encontro na sede social do clube, no Parque São Jorge, no início da noite de segunda-feira (2).
A paralisação foi anunciada pelo presidente do Conselho, Romeu Tuma Júnior, opositor de Melo. Foi ele quem convocou a reunião extraordinária, marcada inicialmente para a quinta passada (28) e remarcada por questões de segurança. Que foi reforçadíssima nesta segunda, com 480 policiais no trabalho.
Havia milhares de corintianos na porta do clube, em manifestação contra o impeachment na rua São Jorge. Eles foram mantidos do outro lado da calçada, com faixas no teor “não vai ter golpe” e gritos na linha “se o impeachment aprovar, olê, olê, olá, o pau vai quebrar”. Quando surgiu a notícia da liminar, explodiu o canto “é festa na favela”.
Melo celebrou com os torcedores, aliviado, embora ciente de que sua situação política não é fácil. Ele convive com múltiplas denúncias e, embora neste momento conte com o apoio de boa parte da torcida, já é alvo de outro pedido de impedimento, potencialmente mais perigoso do que o evitado agora.
O que seria votado nesta segunda, protocolado por um grupo de 90 conselheiros, lista o que é chamado de “múltiplas irregularidades”. Mas as principais são relacionadas a comissões pagas na assinatura, no início do ano, do contrato de patrocínio com a empresa de apostas esportivas VaideBet.
Tem outro teor a recomendação de impeachment protocolada pelo Cori (Conselho de Orientação), acatada pelo Conselho na semana passada. O Cori –órgão de fiscalização formado por ex-presidentes e membros vitalícios– argumenta que não foram apresentados balanços auditados e outros documentos que deveriam ter sido entregues. O balancete do segundo trimestre foi rejeitado, e o pedido de impedimento, formalizado.
Por isso, festa com a torcida à parte, Augusto tratou a vitória do dia com cautela. Ela ao menos permite que o Corinthians finalize com alguma tranquilidade o Campeonato Brasileiro –o time ainda jogará na terça (3), contra o Bahia, no estádio de Itaquera, e no domingo (8), contra o Grêmio, na Arena do Grêmio–, mas os problemas não sumiram com a liminar.
A própria votação, suspensa, ainda pode ocorrer. E se apoia em denúncia referente ao pagamento de R$ 25,2 milhões, como comissão de intermediação pelo acordo com a VaideBet, à Rede Social Media Design, que pertence a Alex Fernando André, o Alex Cassundé, que atuou na campanha de Augusto. Essa empresa repassou parte da comissão para a Neoway Soluções Integradas em Serviço, registrada em nome de Edna Oliveira dos Santos, uma mulher que mora em residência humilde em Peruíbe e nem sabia da existência da empresa.
Em junho, o site de apostas anunciou a rescisão unilateral do acordo, por ver sua imagem desgastada com o caso. À época, em nota, o Corinthians afirmou que “todas as negociações, incluindo patrocínios, se deram de forma legal com empresas regularmente constituídas”. “O clube destaca que não guarda responsabilidade sobre eventuais repasses de valores a terceiros”, dizia o texto.
“O Corinthians é vítima”, afirmou Augusto, em julho, em entrevista à Folha. “Desde o começo, eu sempre me coloquei à disposição. Como presidente, o que eu quero é esclarecer o mais rápido possível, mesmo porque o Corinthians é vítima. A partir do momento em que você tem um intermediário que faça alguma coisa, dali para fora o que ele faz é problema dele.”
O clube substituiu a VaideBet por outra empresa de apostas online, a Esportes da Sorte –envolvida também em investigação policial, que mira suposta organização criminosa voltada à prática de jogos ilegais e lavagem de dinheiro. A empresa é responsável pelo pagamento da maior parte do contrato do atacante holandês Memphis Depay.
Com o reforço midiático e a chegada de outros bons jogadores no meio da temporada, a equipe alvinegra deixou a zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro e, em arrancada com sete vitórias seguidas, entrou na zona de classificação para a próxima Copa Libertadores. Isso minimizou a pressão da torcida, mas não diminuiu a temperatura nas alamedas do Parque São Jorge.
Assim, após meses sentado sobre os arquivos do caso –a Comissão de Ética do Conselho chegou a recomendar, em outubro, a suspensão do processo impeachment até a conclusão da investigação policial, argumento citado por Augusto no pedido de liminar–, Romeu Tuma Júnior marcou a votação, barrada em cima da hora.