As secas recordes estão se tornando o “novo normal” para bilhões de pessoas, mas poucos países estão levando a sério essa ameaça, alertaram pesquisadores em um relatório global apresentado nesta segunda-feira (2).
O lançamento do Atlas Mundial das Secas coincide com a reunião de governos na Arábia Saudita para a COP16 sobre degradação da terra e desertificação, conferência das Nações Unidas que acontece na capital Riad.
As secas se agravam pela mudança climática pelo ser humano, e os períodos secos mais longos e severos contribuem para o esgotamento dos solos férteis, que pouco a pouco se tornam áridos.
As secas são “um dos perigos mais caros e mortais do mundo”, explicaram os pesquisadores na declaração de lançamento do Atlas.
Este ano, quase certamente o mais quente já registrado, foi marcado por secas destrutivas do Equador ao Marrocos e da Namíbia ao Mediterrâneo.
As secas são “menos visíveis e atraem menos atenção do que eventos repentinos, como enchentes e terremotos”, mas não devem ser subestimadas, alertaram os pesquisadores.
Além de afetar diretamente as pessoas, elas podem ter efeitos secundários na produção de energia, no comércio global e em setores como o de transporte marítimo.
Até 2050, três em cada quatro pessoas na Terra serão afetadas de alguma forma pelas secas, de acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês) e o Centro de Pesquisa Conjunta da Comissão Europeia, que copatrocinou o estudo.
Por meio de dezenas de mapas, gráficos e estudos de caso, o Atlas Mundial das Secas procura mostrar “como os riscos de seca estão interconectados” e “como eles podem desencadear efeitos em cascata, alimentando desigualdades e conflitos e ameaçando a saúde pública”.
A 16ª reunião da Convenção das Nações Unidas sobre a Luta conta a Desertificação começou nesta segunda-feira (2) em Riad em meio a diversos alertas. Ibrahim Thiaw, secretário-executivo da organização, exigiu uma “abordagem abrangente que leve em consideração as ligações estreitas entre desertificação, perda de biodiversidade e mudança climática”.
A conferência, que acontecerá até o dia 13 de dezembro em Riad, foi apresentada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, como um “momento decisivo” no combate contra a seca e o avanço dos desertos.
A última conferência, organizada em 2022 na Costa do Marfim, culminou com o compromisso de, até 2030, “acelerar a restauração de bilhões de hectares de terras degradadas”, cuja qualidade foi alterada por atividades humanas como a poluição ou o desmatamento.
A UNCCD, que reúne 196 países e a União Europeia, estima que será necessário restaurar 1,5 bilhão de hectares de terras degradadas antes do fim da década, um desafio colossal em escala mundial.
O objetivo da COP16 sobre a desertificação é alcançar um consenso sobre a necessidade de acelerar a restauração de terras degradadas e desenvolver uma estratégia proativa em relação às secas, explicou Thiaw à AFP.
“Já perdemos 40% das nossas terras”, o que impacta tanto na questão da segurança alimentar quanto nas mihrações, afirmou.
“A segurança mundial está realmente em jogo. Não é só na África ou no Oriente Médio“, argumentou.
“Se continuarmos deixando a degradação das terras, sofreremos perdas enormes”, advertiu o ministro adjunto do Meio Ambiente da Arábia Audita, Osama Faqeeha. “A degradação de terras é um fenômeno enorme que passa desapercebido”, lamentou.
As reuniões em Riad começam dez dias após o fim da COP29, no Azerbaijão, onde a Arábia Saudita, o maior exportador de petróleo do mundo, foi acusada de impedir uma menção ao fim do uso da energia fóssil no acordo final.