A polícia francesa não aceitou ficar com duas malas fechadas com senha e com o iPhone do brasileiro Flávio de Castro Sousa, desaparecido desde terça-feira (26), em Paris.
Três amigos de Sousa levaram os pertences do fotógrafo mineiro à delegacia do quinto distrito da capital francesa, nesta segunda-feira (2), na esperança de esclarecer o caso.
Os amigos são os brasileiros Rafael Basso, professor de filosofia, e Pablo Araújo, fotógrafo; e o francês Alex Gautier, estudante de moda. Gautier é a última pessoa que se sabe ter falado com Sousa, pelo celular, na noite de terça.
“A gente trouxe [as malas e o celular] numa expectativa de que a gente pudesse abrir na frente da polícia”, explicou Basso à Folha, na porta da delegacia.
Aos três amigos, a polícia explicou que o caso foi entregue a uma brigada especializada em desaparecimentos, e que ela cuidará dos objetos pessoais de Sousa no momento adequado da investigação.
“Eles falaram que é o tempo da brigada, que não necessariamente é o tempo da família”, acrescentou Basso.
Procurada pela Folha, a polícia francesa não quis dar detalhes sobre a investigação.
Um aviso de “desaparecimento inquietante”, termo técnico usado na França, foi enviado a todos os hospitais e delegacias do país, como é praxe em casos assim.
O Consulado-Geral do Brasil em Paris afirma que “mantém contato constante” com a família do brasileiro e com as autoridades francesas.
Duas malas de alumínio e o celular de Sousa estão com seus amigos desde quarta (27). O grupo estava no apartamento alugado por ele durante sua estadia na França, que começou em 1º de novembro. Sua volta para o Brasil, a princípio, deveria ter ocorrido em um voo da Latam no dia 26.
Foi Gautier que alertou a família de Sousa sobre o desaparecimento, na noite do dia seguinte. Ele conheceu o fotógrafo durante a viagem e explicou à reportagem que o viu pessoalmente pela última vez no bairro de Châtelet, por volta das 20h da segunda-feira (25).
“Ele me disse que ia fazer a mala e dar um último passeio noturno. Eu não quis incomodá-lo e deixei-o, porque fazer as malas é estressante. Entendi que ele não queria que eu fosse com ele e voltei para casa, moro com meus pais. Ele me mandou mensagens depois, dizendo que tinha passado uma super estadia comigo, que a viagem tinha sido inesquecível.”
O voo de Sousa estava previsto para a tarde do dia 26, mas por volta das 12h, conta Gautier, o brasileiro enviou-lhe foto da pulseira da emergência do hospital Georges Pompidou, próximo das margens do Sena e da Torre Eiffel. Explicou que tinha caído no rio Sena e que tinha ficado no hospital das 6h às 12h, com hipotermia. Nesse dia, a mínima em Paris foi de 8°C.
Gautier disse que, por pudor, não pediu mais detalhes sobre as circunstâncias do acidente. Sousa acrescentou, segundo ele, ter ido à agência imobiliária Check My Guest, onde alugou o apartamento, para prorrogar em uma noite sua estadia. Na agência, teriam emprestado a ele roupas secas.
A última mensagem de Sousa, conta o francês, foi por volta das 19h30, dizendo que tinha descansado no apartamento, ia jantar e voltar a dormir.
Na quarta-feira, Gautier não teve resposta às suas mensagens o dia inteiro. Alarmado, foi até o apartamento por volta das 18h, encontrou a luz acesa, mas ninguém para abrir a porta. Tentou a senha da entrada, mas ela já estava vencida. Ligou para a imobiliária, que afirmou que uma faxineira entrou no apartamento de manhã para fazer a limpeza e encontrou apenas as malas fechadas e itens de higiene.
A agência tentou contato no celular de Sousa. Atendeu um funcionário do bistrô Les Ondes, no 16º distrito de Paris, às margens do Sena e a apenas 1,5 km do hospital onde ele estivera internado na véspera. O celular tinha sido encontrado em um vaso de flores do lado de fora.
A mãe de Flávio escreveu de próprio punho uma carta autorizando a abertura das malas e o desbloqueio do celular do filho único. Isso não bastou, porém, para convencer a polícia francesa a atender o pedido. Ela é viúva e mora em Candeias (MG).
Os últimos posts de Sousa no Instagram foram fotos de pontos turísticos de Paris, como a Pont Neuf e o Museu do Louvre, e em Amiens, cidade 160 km ao norte de Paris, na véspera do desaparecimento.
Em Belo Horizonte, ele tem uma empresa de fotografia de eventos, a Toujours. Ele viajou a Paris com o sócio, Lucien Esteban, para fotografar um casamento de conhecidos.
Esteban, que é filho de franceses, retornou a Belo Horizonte uma semana depois e Sousa continuou na França.