Em mais uma tentativa de buscar apoio no segmento religioso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trabalha com a possibilidade de conceder um ministério para uma liderança evangélica. Essa estratégia passou a ser discutida junto aos integrantes do Palácio do Planalto que defendem a necessidade de o governo ampliar suas alianças para a disputa presidencial de 2026.
A expectativa é de que Lula promova uma dança das cadeiras na Esplanada dos Ministérios logo após a sucessão nas presidências da Câmara e do Senado, marcada para fevereiro de 2025. Há dúvidas, no entanto, se o petista fará apenas mudanças em ministérios pontuais do próprio Planalto ou se vai ceder mais espaço para os partidos do Centrão na busca por mais apoio no Congresso Nacional.
Nessa discussão, aliados do presidente admitem que a entrada de um político com representação no meio evangélico poderia ajudar na aproximação do governo com o setor. Essa tentativa de atrair o segmento para dentro da gestão petista existe há pelo menos dois anos, mas foi intensificada nos últimos meses por meio da nomeação dos ministros Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral).
Além de incluir menções a milagres e Deus em seus discursos, Lula também acenou ao setor no mês passado ao sancionar a lei que cria o Dia da Música Gospel. Essas estratégias buscam justamente atrair o eleitor religioso, que representa 30% do eleitorado e que em 2022 votou majoritariamente em Jair Bolsonaro (PL).
Uma das lideranças evangélicas que tem ganhado espaço no governo é justamente o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ). O emedebista integrou a base de Bolsonaro e discursou recentemente no Palácio do Planalto em nome da bancada evangélica do Congresso. Lula fez menção a ele ao falar da criação do Dia da Música Gospel.
“A música gospel agora tem um dia nacional de celebração. Com o deputado Otoni de Paula, sancionei o projeto que institui o dia 9 de junho como o Dia Nacional da Música Gospel, dando visibilidade ao importante papel da cultura, da religiosidade e da fé de milhões de brasileiros e brasileiras”, disse Lula na ocasião.
Já o deputado elogiou a convivência com Lula, mas disse que discorda dele politicamente. Afirmou que “o Deus que estabelece reis e tira reis do trono já lhe usou nesta nação para abençoar o povo de Deus”.
Cotado para ministério, Otoni divide apoios dentro da bancada no Congresso
A aproximação entre Otoni de Paula e o governo Lula tem sido intermediada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). Reeleito em primeiro turno na capital fluminense, Paes contou com o apoio do deputado junto ao eleitorado evangélico justamente contra o candidato Alexandre Ramagem, que era apoiado por Bolsonaro na disputa municipal.
Essa movimentação de Otoni de Paula junto ao presidente petista, no entanto, tem sido criticada por aliados do ex-presidente Bolsonaro dentro da Frente Parlamentar Evangélica. Apesar disso, o emedebista tem encampado o discurso que os evangélicos não têm “dono”, e escolhem pautas com base em valores e crenças e que as igrejas não são de “direita ou de esquerda”.
Recentemente, o emedebista também aproveitou um discurso para rebater o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) após a revelação por parte da Polícia Federal de um suposto plano para matar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, o filho do ex-presidente havia dito que: “Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime. E para haver uma tentativa é preciso que sua execução seja interrompida por alguma situação alheia à vontade dos agentes. O que não parece ter ocorrido”.
Sobre essa delcarão, Otoni afirmou no plenário da Câmara: “Como um político de direita e conservador, eu entendo que preciso manifestar o meu total repúdio às falas do senador Flávio Bolsonaro, quando ele diz que pensar em matar alguém não é crime. Talvez o senador tenha sido muito infeliz nas suas palavras, porque, se forem comprovadas as notícias que estão vindo pela imprensa e que estão estarrecendo a todos nós, não houve só o pensamento”.
“Houve o planejamento, houve reuniões, houve troca de mensagens. De acordo com esse pensamento, só é crime quando se aperta o gatilho. Nós que defendemos valores e princípios cristãos não podemos concordar com essa fala, e eu quero repudiá-la neste plenário”, completou o deputado.
Dentro do governo, aliados de Lula acreditam que a aproximação com Otoni de Paula pode justamente ampliar o diálogo com as igrejas e o eleitor religioso antes do período eleitoral de 2026. Neste caso, além dos evangélicos, um eventual ministério para o deputado seria um aceno ao MDB, que foi o segundo maior partido em número de eleição de prefeitos, com mais de 850 eleitos na disputa municipal deste ano. O partido já conta com três ministérios na Esplanada.
Petistas defendem indicação de uma mulher evangélica para o ministério
Paralelamente, o nome de Otoni de Paula enfrente resistência entre integrantes do próprio PT no governo. A avaliação dessa ala é de que o presidente deveria escolher o nome de uma mulher evangélica para esse posto.
As críticas ao nome do emedebista acontecem justamente porque, dias antes do encontro com Lula no Planalto, ele tinha dito que o governo do PT era antissemita por não querer fazer negócios com Israel. Em busca por espaço para o próprio partido dentro da Esplanada, alguns integrantes da bancada petista defendem, por exemplo, o nome da deputada Benedita da Silva (PT-RJ).
Apesar de ser apontada como uma das principais lideranças evangélicas do partido e de já ter sido ministra de Lula entre 2003 e 2004, seu nome não é visto com muito entusiasmo no Palácio do Planalto. Outra possibilidade na mesa do governo seria o nome da senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e que também costuma atuar em nome de governo junto ao segmento religioso.
Essa discussão dentro do governo acontece justamente em meio à queda de popularidade de Lula. Levantamento realizado pelo instituto Paraná Pesquisas, divulgado nesta quarta-feira (27), aponta que 51% dos eleitores desaprovam o governo petista, contra 46,1% que aprovam. A diferença é maior que a margem de erro de 2,2 pontos porcentuais, para mais ou para menos.
A última pesquisa realizada pelo Paraná Pesquisas apontava empate técnico. Em julho, a aprovação da gestão Lula era de 47,2%, e a desaprovação, 48%.
No cenário eleitoral, Lula aparece com 33,6% das intenções de votos, numericamente atrás de Bolsonaro, que está inelegível, com 37,6%. Ambos estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro.
O Paraná Pesquisas entrevistou 2.014 eleitores em todas as unidades da federação entre os dias 21 e 25 de novembro. O nível de confiança é de 95%.