Meu nome é Alice, sou alcoólatra e hoje eu não bebi. Não me passou pela cabeça ir atrás de uma bebida, não precisei dar um fim nos ruídos da véspera simplesmente porque não ingeri nada que alterasse meu humor.
Mas nem sempre foi assim. Eu acordava sem saber direito o que tinha ocorrido na noite anterior, tantas eram as cervejas e destilados que eu havia consumido. Abria os olhos e pensava em me entorpecer novamente. Então começava meu ritual. Não importava a hora —em geral era às sete da manhã—, e eu saía à procura de alguma coisa para aliviar minha dor de cabeça.
O único lugar que estava aberto era a padaria. Eu ficava um pouco sem graça porque a maioria estava tomando café e eu estava em busca de bebida. Comprava umas cinco, que era o suficiente para eu me distrair em casa enquanto o boteco da esquina não abria para eu ficar ali, com meu cachorro, deixando o tempo correr.
Chegava na portaria do prédio e costumava me deparar com a faxineira. Ficava com vergonha e tentava não fazer barulho com os frascos, para não dar bandeira. O momento em que abria porta do apartamento era triste.
Nem todas as cervejas estavam geladas, mas eu não me importava, ficava bebendo e chorando até as dez horas, quando então ia até o boteco da esquina. Lá vivi cenas constrangedoras. Caí da cadeira mais de uma vez, chorei sozinha…
Mais tarde, quando consegui parar de beber, o dono do bar me contou que rezava por mim. Eu não tinha ideia, nem conseguia imaginar o que as pessoas pensavam de mim. Estava fechada com a bebida, precisava beber e seguia esse modo por dias e dias. Muitas vezes passava mal e ficava horas no banheiro do bar.
Hoje essas lembranças são antigas. Quando penso naquela minha rotina me dá um arrepio. O que mais mexe comigo atualmente é quando entro numa padaria e vejo alguém bebendo logo de manhã. Meu primeiro impulso é ir falar com a pessoa mas eu me seguro.
Ninguém pode fazer nada por quem está bebendo. Aprendi isso por experiência própria. Às vezes alguém vinha falar comigo, quando eu estava bebendo, mas não só era em vão como eu me zangava. Eu dizia que não estava num momento bom e continuava a beber.
Fui entendendo que sozinha eu só me afundava. Lutar contra o álcool é praticamente uma batalha perdida, como se diz? Não é fácil entender que ficar bebendo e esquecendo do mundo ao redor só faz mal. Parece uma coisa óbvia, mas viver na pele dói, machuca.
Não é uma escolha, é uma prisão e a gente demora para sair dela. É um processo longo. Tive que sofrer muito, lutar muito para mudar meu estilo de vida e me livrar do vício.
Moro em outro lugar, não passo mais na padaria em que comprava bebida. Às vezes mudar de ambiente é o melhor a se fazer para construir uma vida nova, sem lembranças da ativa.
Encontrei também os Alcoólicos Anônimos, que salvaram a minha vida. Cada um acha o melhor caminho para se livrar do álcool, o importante é abandonar, ir aos poucos percebendo todo o mal que a bebida traz para a vida. Não há regra nem receita que eu possa dar, só compartilhar minha trajetória e torcer para que meus escritos ajudem a levar luz aos que ainda sofrem com o alcoolismo.
É preciso força, cuidado e carinho.
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