Uma provocação recorrente de torcedores adversários é dizer que “Botafogo é bairro”, como se aquele pedaço da zona sul do Rio de Janeiro fosse mais conhecido do que o clube.
“Botafogo é a capital da América”, repetiam alvinegros nas ruas da cidade, neste domingo (1º), dia seguinte ao título inédito da Copa Libertadores, obtido com vitória por 3 a 1 sobre o Atlético Mineiro.
“O time de bairro é campeão. Lotamos Botafogo, Engenho de Dentro, o Rio de Janeiro inteiro e o Monumental de Núñez”, celebrou Marcelo Motta, 58, alvinegro que disse estar virado desde o sábado, revendo os melhores momentos da dramática decisão, que teve Gregore, do Botafogo, expulso no primeiro minuto de jogo.
“Ou seríamos campeões com muito sofrimento, ou não seríamos. Não temos meio-termo.”
Centenas de torcedores estiveram também no aeroporto internacional do Rio de Janeiro, no Galeão, onde a delegação desembarcou por volta das 16h15 com a taça. Outros milhares, na enseada de Botafogo, aguardavam o desfile em carro aberto dos campeões.
A Prefeitura do Rio organizou a festa durante a manhã, poucas horas antes da viagem de retorno do time. A principal mudança no trânsito foi o fechamento de duas pistas da enseada a partir das 15h.
Nas redes sociais, cariocas mostraram certo temor com o jogo do Flamengo contra o Internacional no Maracanã, zona norte, às 16h, quase na mesma hora da celebração do Botafogo. Também questionaram a festa por conta da volta da praia. Botafogo é o principal caminho para quem sai de Copacabana em direção ao centro.
Contudo, até a publicação deste texto, não houve registros de confusão.
No momento do pouso no aeroporto do Galeão, o dono da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Botafogo, John Textor, apareceu com uma bandeira alvinegra na janela do avião.
A delegação saiu pelo terminal de cargas do aeroporto, e os ônibus foram escoltados por batedores da Polícia Militar em direção à zona sul.
A sede de esportes aquáticos do clube, o Mourisco, junto à praia de Botafogo, foi o local de encontro. Uma gigantesca bandeira esticada na areia virou o ponto mais fotografado da enseada, deixando o Pão de Açúcar quase em segundo plano. A faixa “É tempo de Botafogo”, frase que virou uma espécie de slogan da torcida e do clube, também foi concorrida.
Na multidão de preto e branco, camisas com nomes dos craques atuais, como Tiquinho Soares e Luiz Henrique, misturaram-se a uniformes mais antigos, como os de Loco Abreu, Túlio e Maurício.
A música mais cantada foi uma paródia de “Uni Duni Tê”, do conjunto infantil Trem da Alegria.
Na letra, a torcida diz que ouviu dizer “que o clube acabaria”, “que a história se apagaria e só sobraria a marca da luta”.
“Chegou a hora da volta por cima/É tempo de alegria/Eu sou do preto e branco/Em General vamos comemorar/Vestindo o Manequinho no final do ano.”
“Muitas gerações de torcedores sofreram com a falta de títulos, com zoações de rivais, com quedas para a Série B. Essa vitória foi uma libertação para os botafoguenses de todas as idades desde a década de 1970”, disse Marcos Aurélio Filho, 39.
Alvinegros também gritaram que “tá maneiro, quarta-feira é o Brasileiro”. O Botafogo está perto de ser campeão nacional —faltam duas rodadas para o fim do campeonato. Líder com 73 pontos, três a mais do que o Palmeiras, o time carioca enfrenta o Internacional na quarta (4), enquanto o vice-líder encara o Cruzeiro.
Os dois ônibus com a delegação chegaram às 18h em Botafogo e foram imediatamente cercados pelos alvinegros. Alguns conseguiram subir sobre o teto dos veículos, que mal conseguiam trafegar, parados por uma multidão.
Ao menos um torcedor foi preso ao tentar subir no ônibus envelopado com os símbolos do clube. Os jogadores, porém, estavam no ônibus logo atrás. A interação era por olhares e sinais: os ídolos batiam nas janelas do veículo, e alvinegros respondiam com batidas do lado de fora.
Na sequência, sobre o trio elétrico, jogadores ergueram a taça para a torcida e cantaram as principais músicas da arquibancada botafoguense. Textor, ao segurar o troféu, foi celebrado com gritos de “o papai chegou”.