Entre janeiro e setembro de 2024, as catástrofes naturais no Brasil causaram prejuízos de pelo menos US$ 6,4 bilhões (R$ 37,3 bilhões), indica um novo relatório da Aon, multinacional britânica que trabalha com gestão de riscos e resseguros.
Os maiores danos foram atribuídos às enchentes no Rio Grande do Sul, que devastaram o estado entre 28 de abril e 3 de maio, causando cerca de US$ 5 bilhões (R$ 29,14 bilhões) em perdas financeiras, além de 182 mortes.
Outros eventos com impacto significativo foram os incêndios que atingiram várias áreas de vegetação brasileira, gerando danos de estimados US$ 360 milhões. A seca que atingiu o país teve uma repercussão ainda maior, com prejuízos estimados de US$ 470 milhões no período.
Embora os US$ 6,4 bilhões de prejuízo acumulados nos primeiros três trimestres de 2024 sejam um valor elevado, a cifra representa uma queda de 57% em relação a 2023. Os danos econômicos do ano passado foram significativamente maiores por conta dos reflexos da seca histórica na região da bacia hidrográfica do rio da Prata, no Sul do país, que provocou mais de US$ 10 bilhões em prejuízos.
“Tradicionalmente, o Brasil era visto como um território com baixo risco catastrófico, não muito propenso a grandes desastres naturais”, disse Beatriz Protásio, CEO de resseguros da Aon no Brasil. Nos últimos anos, contudo, o país vem enfrentando uma série de eventos climáticos extremos.
“A partir de 2019 e estendendo-se até 2024, o Brasil enfrentou um evento de seca plurianual que provavelmente será um dos mais significativos na América do Sul em sua história recente, tanto em termos de extensão quanto de intensidade. Além dos impactos substanciais no setor agrícola, milhões de hectares na região do Pantanal foram afetados por incêndios florestais. Para completar, em maio de 2024, fortes chuvas no Rio Grande do Sul resultaram nas piores inundações em 80 anos, com rios transbordando, deslizamentos de terra generalizados e o colapso de uma barragem”, detalhou.
Na avaliação da executiva, esses episódios tornaram mais evidentes a vulnerabilidade do Brasil aos eventos climáticos extremos. “É essencial reconhecer que o país tem regiões vulneráveis para identificar e quantificar melhor possíveis ameaças e seus impactos”, afirmou.
“De certa forma, a vulnerabilidade tornou-se mais evidente e mais aparente devido à falta de estratégias adequadas de resiliência, o que pode ter agravado ainda mais o impacto dos desastres.”
Em termos globais, o relatório indica que, entre janeiro e setembro, as perdas econômicas relacionadas às catástrofes naturais atingiram US$ 258 bilhões.
O evento com maior impacto financeiro no período analisado foi o furacão Helene, com perdas estimadas em US$ 55 bilhões. As chuvas e os fortes ventos associados à megatempestade levaram a inundações catastróficas no estado americano da Carolina do Norte.
Outros fenômenos com impactos expressivos foram o tufão Yagi, causando US$ 12,6 bilhões em perdas no Sudeste Asiático, e as enchentes severas na China, com danos estimados de US$ 15,6 bilhões.
Seguros contra catástrofes
Embora tenha sido o episódio que mais causou prejuízos tenha ocorrido na América do Norte, a região se destaca do resto devido à alta cobertura dos seguros, representando quase 80% das perdas seguradas globais no período analisado.
A maior contribuição das perdas seguradas nos EUA fez com que a lacuna de proteção de seguros fosse estimada em 60%, uma das mais baixas já registradas.
No Brasil, contudo, a situação é diferente. O relatório não traz dados específicos para o país, mas levantamentos internos da Aon e de outras empresas indicam que a maior parte dos danos causados no país não está segurada.
“Estimativas internas da Aon, com base em dados de mercado e eventos anteriores, indicam que o Brasil é um dos países com maior lacuna de proteção, estimada em cerca de 95%, número calculado ao longo dos últimos 25 anos”, destacou Beatriz Protásio.
Essa questão chegou a ser debatida na Câmara dos Deputados, no âmbito da comissão especial sobre prevenção a desastres e calamidades naturais, com foco na redução das lacunas de proteção aos segurados e a seus bens.
Segundo a especialista, os níveis baixos de cobertura para veículos, entre outros produtos mais simples, ajudam a perceber a dimensão da baixa penetração dos seguros no mercado brasileiro.
“Por exemplo: apenas 30% da frota de veículos é segurada, menos de 20% das residências têm alguma cobertura securitária, e a proporção da população brasileira com algum plano de previdência não chega a 10%.”
Protásio atribui a baixa penetração diversos fatores, como falta de conhecimento sobre possíveis benefícios e o funcionamento dos seguros, o que geraria uma percepção de que o seguro é um custo extra desnecessário.
“Existe uma cultura mais reativa do que preventiva no país. Além disso, a renda média de grande parte da população brasileira é baixa, o que pode tornar o seguro um produto custoso, com pouco valor percebido pelo consumidor”, completou.
Com o mundo em trajetória consistente de aquecimento e 2024 prestes a se tornar o ano mais quente da história da humanidade, os fenômenos climáticos extremos tendem a se intensificar, assim como seus prejuízos.