O número de mortes confirmadas por chikungunya até agosto deste ano já era maior do que o número acumulado de todo o ano passado, aponta relatório da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) divulgado no último dia 14 de novembro.
A instituição afirma que o aumento das mortes “chama atenção”. Até agosto de 2024, eram 159 mortes confirmadas. Até o dia 14 deste mês, já são 201. Em todo o ano passado, foram 122 mortes. Os dados se baseiam no monitoramento feito pelo Ministério da Saúde.
A chikungunya é transmitida pela fêmea do Aedes aegypti, mesmo transmissor do zika e da dengue. Diferentemente do histórico de décadas da doença mais conhecida, a chikungunya foi introduzida nas Américas em 2013 e confirmada no Brasil em 2014.
A doença causa sintomas como dores nas articulações e nos músculos, febre, manchas avermelhadas, náuseas e pode levar à morte. Ainda não há um medicamento específico para tratá-la além de analgésicos e observação médica.
A infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Melissa Falcão analisa que o número de mortes em decorrência do vírus pode ser ainda maior.
O motivo é que a chikungunya mata por causas diretamente relacionadas à infecção cerca de duas semanas após a contaminação, mas também compromete comorbidades prévias do paciente, como problemas cardíacos.
Assim, uma morte provocada pelo vírus nem sempre é contabilizada oficialmente —são as chamadas “mortes secundárias”, explica. “Muitas vezes essas mortes que acontecem um período depois, não são relacionadas à chikungunya, mesmo tendo sido causadas por ela”, diz.
Segundo ela, o Brasil ainda carece de capacitação de agentes de saúde para análise eficiente dos casos, mas também relaciona os períodos de calor e chuvosos, consequências da crise climática, como um dos fatores para o aumento. “Isso cria um ambiente muito propício para a proliferação de todos os mosquitos”, pontua.
O Ministério da Saúde concorda com o diagnóstico da especialista e atribui às mudanças climáticas as infecções por chikungunya.
A pasta afirma investir nas chamadas EDLs (Estações Disseminadores de Larvicidas), um recipiente com água e larvicidas que atrai o mosquito e elimina os criadouros, borrifação de inseticidas em locais de grande circulação e a criação de mosquitos estéreis, geneticamente modificados, para frear a reprodução.
Um estudo publicado em setembro na revista PLOS Neglected Tropical Diseases (Doenças Tropicais Negligenciadas), usou dados de 645 municípios de São Paulo entre 2008 e 2018 e concluiu que fenômenos meteorológicos, como o El Niño, estão ligados ao aumento da infestação do Aedes.
O El Niño aumenta a temperatura do oceano Pacífico devido à diminuição da intensidade dos ventos. A circulação atmosférica é alterada de forma anormal pelo evento, elevando a umidade e temperatura em várias regiões do planeta. O estudo calcula que temperaturas acima de 23 °C e volume de chuvas acima de 153 milímetros aumentam a reprodução do mosquito.
Consequentemente, o Brasil teve sua pior epidemia de dengue em 2024, com o maior número de casos da série histórica iniciada em 1986. Foram 5.086 mortes até novembro e mais de 6 milhões de casos prováveis. Já a chikungunya tem mais de 260 mil casos notificados até novembro —Minas Gerais lidera o ranking, com 164 mil infecções só neste ano, segundo monitoramento do governo federal.
“A forma mais eficaz de controlar a chikungunya e a dengue é pela eliminação dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, contando com o engajamento da população”, acrescenta o Ministério.