A rede varejista Carrefour tenta recurso contra uma multa de R$ 12,5 milhões que recebeu do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) após o derramamento de milhares de litros de óleo diesel a partir de uma unidade da rede no litoral de Santos (SP).
O material contaminante chegou até as praias da região, matando peixes, contaminando a água e causando náuseas na população em maio de 2021.
A Folha apurou que o Ibama fará o julgamento final da autuação nos próximos dias. Dado o volume de informações colhidas em relação às irregularidades cometidas pelo Carrefour, a infração já foi confirmada por áreas técnicas do órgão ambiental.
A tendência é que a decisão confirme a autuação, para que a empresa pague pelos estragos ambientais causados. Confirmada a multa, o Carrefour pode ainda recorrer à Justiça, fora do processo administrativo.
O Grupo Carrefour Brasil, em nota à reportagem, disse que enviou suas justificativas ao Ibama e espera um desfecho do caso. “A companhia informa que apresentou a defesa e agora aguarda o julgamento”, afirmou.
A reportagem teve acesso a detalhes do ocorrido em 4 de maio de 2021. Naquela dia, por volta das 7h15, o Ibama recebeu uma ligação da Defesa Civil, em Santos, sobre uma ocorrência de vazamento de óleo, de origem ainda não detectada, que se espalhava pelo canal 6, um dos canais que chegam à praia da região.
A equipe do Ibama foi até o local, onde encontrou o Corpo de Bombeiros e a Guarda Municipal. Por telefone, moradores reclamavam do forte odor na área. O cheiro já tinha sido notado por moradores desde as 2h da manhã.
Até aquele momento, os bombeiros acreditavam que seria óleo diesel —do tipo S500, que é mais forte, por ser aditivado— vazado de algum posto de combustível da redondeza, chegando ao canal pela drenagem das galerias pluviais.
Barreiras e mantas de absorção foram lançadas no canal, para conter o produto que drenava em direção ao mar, atingindo as praias nas proximidades.
Galerias subterrâneas contaminadas tiveram as tampas de bocas de lobo abertas em vias públicas, para liberar o cheiro. Equipes entraram nos locais para tentar identificar a direção de onde vinha o material, tendo percorrido cerca de 1 km. Alguns agentes chegaram a passar mal.
Quando chegaram nas proximidades do Shopping Praia Mar, onde funciona uma loja do Carrefour, foram informados por funcionários do supermercado que um vazamento havia ocorrido no tanque de abastecimento do gerador de emergência, com capacidade para 10 mil litros de diesel.
Ao serem questionados pelos agentes do Ibama, funcionários declararam que o problema só foi detectado às 7h, cinco horas depois de moradores fazerem ligações reclamando de odor forte. Uma braçadeira que prendia a mangueira de condução do produto, em estado de corrosão, havia estourado. O óleo vazou para o ralo do pátio.
O Ibama chegou a pedir apoio do porto de Santos, que enviou equipe de emergência para contenção do material. O canal teve a sua comporta fechada para bloquear escoamento para o mar, mas ainda assim chegou às praias. Houve registro de morte de peixes.
Para limpeza das galerias, foi feito o jateamento de 8.000 litros de água, além do uso de caminhões com sistemas de sucção, que se deslocaram de São Paulo até o litoral. Somente às 15h uma empresa contratada pelo Carrefour iniciou seus trabalhos.
O óleo que atingiu o mar se dissipou pela movimentação da correnteza. O óleo diesel S500 também chegou à praia e, por ser muito fino, infiltrou-se na areia.
O Carrefour foi multado não apenas pelos danos causados, mas pelos prejuízos ampliados pela falta de comunicação imediata aos órgãos competentes e demora nas ações.
Na semana passada, o diretor-executivo do Carrefour, o francês Alexandre Bompard, decidiu compartilhar em suas redes sociais que a rede varejista não compraria mais carnes vendidas pelo Mercosul, bloco formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, devido ao “risco de transbordar no mercado francês uma produção de carne que não respeita suas exigências e padrões”.
Após forte repercussão, envolvendo o Ministério da Agricultura, parlamentares e empresários, o executivo recuou, pediu desculpas e disse que a carne brasileira segue as melhores práticas sanitárias e que se trata de um produto de qualidade.