A FTC (Comissão Federal de Comércio) abriu uma investigação para verificar se a Microsoft violou a lei antitruste em vários segmentos de seus negócios abrangentes, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o assunto, o mais recente ataque em uma batalha do governo para controlar as empresas de tecnologia mais poderosas.
A agência enviou recentemente uma longa e detalhada solicitação formal de informações à empresa perguntando sobre seus produtos de computação em nuvem, IA (inteligência artificial) e segurança cibernética, disseram as pessoas. De particular interesse para a FTC é a maneira como a Microsoft agrupa suas ofertas de computação em nuvem com produtos de escritório e segurança, acrescentaram, juntamente com o crescente poder da empresa no espaço de IA.
A ação agressiva da FTC ocorre no momento em que sua presidente, Lina Khan, provavelmente está saindo do cargo com menos de dois meses restantes na administração Biden. Khan, 35, pressionou a agência a policiar grandes empresas e tentou se antecipar às mudanças rápidas na indústria de tecnologia.
Espera-se que Khan deixe seu cargo como parte da transição para o governo do presidente eleito Donald Trump, em que o foco da regulamentação de tecnologia pode mudar.
O inquérito sobre a Microsoft continua o escrutínio da administração Biden sobre as maiores empresas de tecnologia e a maneira como as pessoas consomem informações, se comunicam e compram online. A FTC já processou a Amazon e a Meta, acusando-as de comportamento anticompetitivo e sufocamento de rivais. O Departamento de Justiça também processou o Google por seu domínio em tecnologia de publicidade, e a Apple por dificultar que os consumidores deixem seu universo fortemente unido de dispositivos e software.
A Microsoft, uma das empresas mais valiosas do mundo, com negócios diversificados que incluem seu software operacional Windows, a plataforma de mídia social LinkedIn e a plataforma de videogame Xbox, escapou até agora em grande parte do recente aumento dos processos antitruste.
No final dos anos 1990, o governo tentou dividir a empresa por causa do domínio de seu sistema operacional e seus esforços para impedir rivais de seu próprio navegador da web. Um juiz ordenou a divisão da empresa, mas a decisão foi anulada por um tribunal de apelações.
Não está claro se Trump continuará o esforço agressivo para controlar as empresas de tecnologia. Durante sua primeira administração, o Departamento de Justiça iniciou um dos atuais processos antitruste contra o Google, e a FTC entrou com seu processo antitruste contra a Meta.
Microsoft e FTC se recusaram a comentar. A Bloomberg e o Financial Times foram os primeiros a relatar detalhes da investigação.
A Microsoft, que foi fundada em 1975, agora é avaliada em mais de US$ 3 trilhões. Nos últimos anos, ela fez grandes movimentos para expandir de sua origem como fabricante de software para computadores pessoais. Isso incluiu a aquisição da empresa de software para videogames Activision Blizzard por US$ 69 bilhões no ano passado —uma venda que a FTC não conseguiu bloquear.
O negócio de computação em nuvem Azure da empresa, que essencialmente aluga poder de computação e serviços de acompanhamento para outras empresas, tornou-se um produto carro-chefe. A Microsoft é a maior investidora na startup de IA OpenAI e fez uma parceria para vender acesso aos sistemas da empresa por meio do Azure.
(O New York Times processou a OpenAI e a Microsoft, alegando violação de direitos autorais de conteúdo de notícias relacionado a sistemas de IA. As duas empresas negaram as alegações do processo.)
A Microsoft tem sido alvo de escrutínio recente por falhas de sistema de alto perfil que ressaltaram o papel central que ela desempenha na infraestrutura da internet. Em julho, uma atualização da empresa de segurança cibernética CrowdStrike fez com que computadores ao redor do mundo executando o sistema operacional Windows da Microsoft travassem, deixando viajantes presos em aeroportos e impedindo operadores do 911 (serviço de emergência médica nos EUA). Anteriormente, hackers chineses obtiveram acesso a contas de e-mail governamentais de alto perfil por meio da segurança em nuvem da Microsoft.
Como parte de sua investigação, a FTC está analisando como a Microsoft lida com licenças de software usadas na nuvem, de acordo com as duas pessoas.
Uma declaração anterior da agência sobre computação em nuvem citou especificamente um comentário da NetChoice, um grupo da indústria que representa os provedores de nuvem concorrentes Google e Amazon, que acusou a Microsoft de prender os clientes em seus serviços de computação em nuvem ao alterar os termos sob os quais os clientes poderiam usar produtos, como o Office. Se os clientes quisessem usar outro provedor de nuvem em vez da Microsoft, eles teriam que comprar licenças de software adicionais e efetivamente pagar uma multa, disse o grupo.
A Microsoft há muito tempo enfrenta críticas de concorrentes por agrupar seus produtos de uma forma que dificulta a competição entre os rivais.
No início deste ano, reguladores da União Europeia disseram que a Microsoft violou suas regras antitruste ao empacotar o Teams, uma ferramenta de produtividade que permite que colegas de trabalho em locais remotos conversem entre si, com ferramentas do Office, como Excel e Word.
A FTC também está investigando os investimentos e a conduta da Microsoft em seus negócios de IA, disseram as duas pessoas familiarizadas com o inquérito. Além da parceria com a OpenAI, que faz o chatbot ChatGPT, a Microsoft incorporou IA a muitos de seus produtos, incluindo seu mecanismo de busca Bing.
Os reguladores também estão colocando a IA sob um microscópio. A FTC e o Departamento de Justiça, no verão, chegaram a um acordo para dividir a responsabilidade de analisar questões relacionadas à tecnologia de rápido crescimento.
A FTC recebeu autoridade sobre a Microsoft e a OpenAI, enquanto o Departamento de Justiça concordou em analisar a Nvidia, a fabricante mais proeminente de chips de computador usados para executar programas de IA generativa.
Em janeiro, a FTC também iniciou uma ampla investigação sobre parcerias estratégicas entre gigantes da tecnologia e startups de IA, incluindo o investimento da Microsoft na OpenAI. Essa parceria levantou questões sobre se ela foi estruturada para permitir que a Microsoft evitasse uma revisão regulatória.
Alguns no Vale do Silício acham que a mudança veio tarde demais para manter a IA competitiva.
“Como sempre, os reguladores são especialistas em fechar a porta do celeiro depois que os cavalos já fugiram”, disse Venky Ganesan, um parceiro de investimentos da Menlo Ventures, que financia uma ampla gama de startups, incluindo aquelas em IA.