Quando Vonda Wright, uma cirurgiã ortopédica, estava na casa dos 40 anos, ela participava regularmente de meias maratonas. Então, aos 47, ela entrou na perimenopausa e, de repente, se viu lutando para andar até mesmo uma curta distância, paralisada por dores musculares e nas articulações do corpo inteiro. “Eu estava na melhor forma da minha vida”, diz, e então, “mal conseguia sair da cama”.
Em seu consultório particular em Orlando, na Flórida, ela ouviu histórias semelhantes de mulheres passando pela menopausa, incluindo outras atletas de longa data que agora lutavam para se mover confortavelmente. Essas pacientes repetidamente lhe diziam: “Sinto que estou desmoronando”, afirma, apesar de não terem sofrido nenhuma lesão óbvia.
Embora os médicos saibam há muito tempo que a menopausa afeta a saúde dos ossos, Wright e outros agora acreditam que a transição afeta a saúde dos músculos e articulações também. Em um artigo publicado em julho, a cirurgiã deu um nome a esse fenômeno: a síndrome musculoesquelética da menopausa.
A síndrome se refere a uma variedade de condições e sintomas que se tornam mais prevalentes durante a perimenopausa e vão além das dores nas articulações, ombro congelado, perda de massa muscular e densidade óssea, piora da osteoartrite, entre outras coisas.
Pesquisas sugerem que mais da metade das mulheres na menopausa podem apresentar sintomas musculoesqueléticos, alguns dos quais são graves o suficiente para serem debilitantes —ainda assim, os profissionais de saúde frequentemente os descartam como partes inevitáveis do envelhecimento.
Como é a síndrome?
A cirurgiã descreveu um círculo vicioso que vê em suas pacientes: começando na transição da menopausa, as mulheres se tornam mais sedentárias como resultado da dor. Quanto menos elas se movem, menos conseguem se mover —e mais frágeis elas se tornam, tanto em termos de saúde cardiovascular quanto em seus músculos e ossos. Isso as coloca em maior risco de quedas e fraturas, e frequentemente torna a cirurgia e a recuperação mais desafiadoras.
Diretora de cuidados primários femininos no Hospital Universitário Medstar de Georgetown e diretora médica da Fundação de Saúde dos Ossos e Osteoporose, Andrea Singer observa um padrão semelhante entre seus pacientes. “Sabemos que há uma relação de comunicação cruzada significativa entre músculos e ossos, e quando alguém tem músculos mais fracos, aumenta o risco de quedas —e quando você cai sobre ossos mais fracos, isso leva a fraturas”, diz.
Em um artigo recente, Wright argumenta que a síndrome musculoesquelética da menopausa está ligada ao declínio do estrogênio, em parte por causa do papel do hormônio no combate à inflamação. Ela sugere terapia hormonal com estrogênio como um possível tratamento. (Ela diz ter se beneficiado pessoalmente da terapia.)
Embora um grande corpo de evidências científicas sugira que o estrogênio ajude a manter os ossos robustos e proteja contra a osteoporose, ainda não temos os dados para dizer com certeza se, ou em que extensão, a perda de estrogênio é responsável pela dor muscular e articular, explica Stephanie Faubion, diretora médica da Sociedade de Menopausa, o principal órgão regulador da medicina da menopausa nos Estados Unidos. A sociedade, no entanto, endossa a terapia hormonal para mulheres com alto risco de desenvolver osteoporose.
“Acho que é válido dizer que alguns desses sintomas e condições pioram na meia-idade, mas é mais difícil dizer se eles se relacionam mais com o envelhecimento, com a perda de estrogênio por causa da menopausa ou com uma combinação dessas coisas”, diz Faubion em um e-mail. “Também não sabemos se a terapia hormonal trata efetivamente (gerencia ou atrasa a progressão) desses sintomas e condições.”
Vários médicos disseram ao The New York Times que, segundo relatos, pacientes que começam a fazer terapia hormonal para condições aprovadas, como ondas de calor ou suores noturnos, também relatam uma diminuição na dor e no desconforto muscular e articular.
“Sabemos que há muitas coisas para as quais o estrogênio iniciado cedo é benéfico”, diz Singer. Mas, ela acrescenta, “só precisamos ter cuidado para não pular muito à frente antes que haja dados lá.”
O que as mulheres podem fazer para tratar dores musculares e articulares na menopausa?
Várias medidas práticas podem ser adotadas pelas mulheres para prevenir a síndrome musculoesquelética da menopausa, segundo Wright, bem como tratar sintomas e condições que elas já possam ter.
Primeiro, algumas mudanças simples na dieta podem fazer uma grande diferença, diz ela e outros especialistas.
As mulheres devem considerar comer uma dieta rica em alimentos anti-inflamatórios, como a mediterrânea e limitar alimentos ultraprocessados e com açúcares adicionados, que podem aumentar a inflamação no corpo e, portanto, piorar a dor muscular e articular. Além disso, aumentar a ingestão de proteínas pode ajudar a manter (ou até mesmo construir) massa muscular, que diminui com a idade. Além disso, certificar-se de que o consumo de cálcio está adequado também pode ajudar a proteger os ossos.
Os especialistas também recomendam tomar um suplemento regular de vitamina D3, que pode ajudar o corpo a absorver cálcio conforme se envelhece. Se existe o histórico familiar de osteoporose ou está em alto risco por outros motivos, é importante que a paciente planeje uma densitometria óssea no início da transição da menopausa, se não antes.
A atividade física também é essencial para proteger músculos e ossos conforme envelhecemos. Junto com exercícios aeróbicos regulares para fortalecer o coração (como caminhar, correr, nadar, dançar ou usar uma máquina elíptica), especialistas recomendam fazer pelo menos duas sessões semanais de 20 minutos ou mais de treinamento de resistência. Músculos fortes também ajudam a manter ossos saudáveis.
Uma rotina regular de alongamento também pode ajudar a prevenir lesões, mas é importante realizar o alongamento após o treino ou, idealmente, antes de dormir, já que pesquisas agora sugerem que o alongamento enfraquece temporariamente os músculos. Pular e pular corda são particularmente benéficos para manter ossos fortes. E trabalhar regularmente a estabilidade com exercícios como equilíbrio em uma perna só, troca de peso, pilates, ioga e tai chi, podem ser benéficos para evitar quedas conforme envelhecemos.
O que são as condições muscoesqueléticas?
Embora ainda não haja um consenso médico se as condições musculoesqueléticas que as mulheres na menopausa vivenciam podem ser oficialmente chamadas de “síndrome”, Wright e seus colaboradores esperam que, ao definirem um nome, os profissionais de saúde possam tratar melhor e possivelmente prevenir esses problemas. Eles também esperam que isso inspire pesquisas futuras. Em um movimento semelhante, em 2014, um grupo de especialistas introduziu o termo “síndrome geniturinária da menopausa” para descrever uma lista de problemas vaginais, vulvares e urinários comuns após a menopausa, o que permitiu que os profissionais de saúde tivessem uma visão mais holística desses sintomas.
Nomear o fenômeno também pode ajudar a validar a dor de mulheres na menopausa quando os testes dão negativo para outras condições, afirma Mercedes von Deck, cirurgiã ortopédica da Alianca de Saúde de Cambridge, um hospital de ensino da Faculdade de Medicina de Harvard —em vez de sugerir que seus sintomas estão todos na cabeça delas.
“Por toda a medicina moderna, consideramos as mulheres um pouco histéricas” quando não há uma explicação médica óbvia para os sintomas, diz von Deck. Mas “você não pode tratar nada se não tiver um nome para isso.”