Até agora, a médica brasileira Juliana Magalhães Mourão era testemunha no caso da morte da modelo brasileira Emmily Rodrigues Santos Gomes, 26, que caiu do sexto andar de um prédio em Buenos Aires, numa altura de 21,5 metros, em 30 de março de 2023. Nesta segunda-feira (25), Juliana foi indiciada sob suspeita de abandono de pessoa por não ter pedido socorro para a amiga quando podia.
Emmily estava no apartamento do empresário argentino Francisco Sáenz Valiente, que é o principal investigado no caso. O exame toxicológico na vítima indicou consumo de drogas como álcool, maconha, MDMA, cetamina e cocaína.
A advogada Raquel Hermida, representante do pai da modelo, Aristides da Silva Gomes, afirmou à RFI que Juliana era amante do empresário e lhe oferecia mulheres.
“Durante todo o processo, a defesa evidenciou uma obsessão por manter Juliana como testemunha porque era a única defesa de Sáenz Valiente”, disse. “O indiciamento rompe a estratégia da defesa e permite apontarmos para a nossa convicção de que a morte de Emmily foi um homicídio entre duas pessoas. Juliana não foi cúmplice nem encobriu. Foi coautora”, declarou.
Juliana será interrogada no dia 4 de dezembro. A Promotoria limita-se à acusação de abandono de pessoa, mas a defesa da família pretende ampliá-la.
O empresário foi inicialmente acusado de feminicídio, ficando preventivamente preso por três semanas, em abril de 2023. Em junho, a Promotoria preferiu a acusação de homicídio culposo (sem intenção) com fornecimento de entorpecentes e facilitação de local para consumo.
Agora, ele é também acusado de abandono de pessoa porque as drogas fornecidas durante longas horas levaram a um quadro que poderia ter sido evitado se tivesse chamado socorro.
O empresário também já tinha sido indiciado pelo porte ilegal de arma.
As acusações da Promotoria estão baseadas no depoimento de testemunhas. Segundo o órgão, Emmily teve uma “descompensação psiquiátrica que durou, pelo menos, duas horas, período durante o qual foi abandonada por Francisco Sáenz Valiente e por Juliana Mourão.”
“Durante o lapso de tempo no qual Emmily manteve esse estado de alteração psíquica, arriscado para si e para terceiros, tanto Sáenz Valiente quanto Mourão decidiram continuar com a reunião sem pedir assistência médica necessária”, continua a acusação.
Pedido de socorro só veio quando os vizinhos perceberam
Para a Promotoria, a médica e o empresário tinham conhecimento do que acontecia no apartamento e continuaram com o encontro, em vez de ajudarem a vítima. Eles só chamaram atendimento médico após alerta de vizinhos, quando “Emmily já estava num estado de desespero eufórico, de terror e de pranto, pedindo socorro aos gritos”, detalham.
“As ações de auxílio concretas por parte de Francisco Sáenz Valiente e de Juliana Magalhães Mourão, ao serem tardias, privaram Emmily de uma assistência médica que poderia ter salvado a sua vida”, conclui a acusação.
A defesa da família, porém, trabalha com a hipótese de que Emmily não foi até o apartamento para ter relações sexuais.
“Foi um crime para se desfazerem de Emmily depois de um abuso sexual. Sáenz Valiente tinha uma obsessão por ela. Ele a seguia sem sucesso. Ela não quis ter sexo e isso a colocou numa situação na qual lhe injetam droga”, afirmou Raquel Hermida à reportagem.
“Se Emmily tivesse dado o consentimento, estaria viva”, concluiu a advogada.