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Uma técnica de cuidado com as vias respiratórias viralizou nas redes sociais: a lavagem nasal.
São muitos os vídeos de tutorial feitos por médicos, mães, alérgicos e pessoas que se beneficiaram com a prática. Há, inclusive, quem ache satisfatório ver todo aquele catarro saindo das narinas…
Se você não sabe do que estou falando, a lavagem nasal é um procedimento no qual se usa uma solução de água com cloreto de sódio ou soro fisiológico para hidratar o nariz, remover o muco e diluir as secreções.
“É uma prática milenar. Culturas antigas, como a hindu, recomendam a lavagem nasal há muito tempo”, diz Fabrízio Romano, presidente da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).
Antes, porém, os resultados eram empíricos, ou seja, baseados nas experiências de quem fazia e sentia os benefícios. De uns tempos pra cá, explica Romano, saíram muitos estudos que explicam por que a prática é tão benéfica.
Entenda: a secreção do nariz é um mecanismo de defesa. Quando um vírus, bactéria ou alérgeno entra nas narinas, ele gruda no muco, que é transportado pelos cílios da mucosa e eliminado pela deglutição.
Mas algumas situações rompem esse fluxo normal de “autolimpeza” do nariz, como um resfriado, que provoca inflamação e acúmulo de muco.
É aí que surge a lavagem nasal, com duas funções:
- Remover o muco acumulado quando o transporte não está funcionando;
- Ter um efeito anti-inflamatório, por remover substâncias que aumentam a inflamação e causam inchaço, dor e mais secreção.
A prática diminui a incidência de infecções virais e de alergias, além de evitar complicações bacterianas, acrescenta Romano.
Todo mundo deve fazer? Para quem tem alguma queixa nasal —rinite, sinusite, gripe, resfriado, alergias ou obstruções por outros motivos—, sim. Ela é indicada como tratamento e não tem contraindicações.
Para quem não tem queixas nasais, ela pode ou não ser feita como prevenção. Isso porque, em condições normais —ar limpo, com boa umidade e temperatura—, o nariz é capaz de fazer essa limpeza sozinho.
Mas… Um ar seco ou poluído já agrava a situação. Então, se você mora em uma cidade como São Paulo, a lavagem nasal é uma ótima opção.
“Se você morar numa praia paradisíaca, não precisa lavar o nariz todo dia. Agora, para quem tá numa cidade grande, poluída, ou num lugar muito seco ou frio, é bom e pode ajudar bastante”, argumenta o presidente da ABORL-CCF.
Como fazer: use uma solução de água e cloreto de sódio a 0,9%. Pode ser soro fisiológico ou uma mistura caseira de água filtrada, sal de cozinha e bicarbonato de sódio —para 250 ml de água, 1 colher de café rasa de sal (1,03 g) e 1 colher de café rasa de bicarbonato (1,59 g).
Para uma lavagem de alto volume em adultos, é indicado jogar de 100 a 120 ml por narina, de acordo com Romano. Mas não é todo mundo que precisa de alto volume: é possível lavar o nariz usando menos de 60 ml, por exemplo.
Hoje em dia, há diferentes dispositivos para jogar o líquido nas narinas, como as garrafinhas com bico ou a lota (uma espécie de chaleirinha). Seringas, jatos e conta-gotas também podem ser usados, sendo mais eficientes para lavagens de baixo volume.
Coloque a cabeça para frente, levemente inclinada, e, com a boca aberta, aplique a solução em uma das narinas. Depois, repita o mesmo na outra.
Importante: não é para colocar muita pressão. Evite apertar a garrafinha com força e rapidez excessivas, porque isso pode fazer com que o soro vá para os ouvidos, podendo causar uma otite.
- Jogue a solução lentamente. O ideal é demorar cerca de 5 segundos em cada narina, indica Romano.
No caso da lavagem nasal como tratamento de doenças respiratórias, é indicado procurar orientação médica.
↳ Em alguns casos, o médico pode indicar mais lavagens por dia, maior volume de soro ou concentração diferente de sal na solução.
Em crianças: há orientações específicas sobre lavagem nasal nos pequenos. Cada idade e quadro respiratório demanda uma indicação diferente (em volume, concentração e frequência).
Assim como em adultos, a prática é indicada para crianças com rinite, sinusite, alergias, quadros virais ou bacterianos, explica Renata Cantisani di Francesco, presidente do Departamento Científico de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Mas não é obrigatória para todas as crianças, acrescenta a médica. Isso porque fazer lavagem nasal nelas é mais trabalhoso e, por isso, pode ter consequências negativas, como dor e desconforto ou infecções no ouvido.
- “O que temos visto hoje são pessoas fazendo lavagem de alto fluxo, obrigando a criança a fazer, por acharem que é preciso”, explica.
Principalmente em bebês ou crianças pequenas, fazer o processo corretamente (com a cabeça inclinada e boca aberta) é muito difícil.
É importante o bom-senso para entender se aquela criança realmente precisa disso e se há condições de fazer da maneira correta, explica Cantisani.
Para crianças com queixas nasais, há opções que facilitam o processo e evitam complicações, como dispositivos em spray ou seringas.
↳ Na dúvida, procure orientação médica. O profissional pode dizer se é ou não necessário realizar na criança e qual a melhor forma de fazê-lo.
Os especialistas também reforçam que, em adultos ou crianças, nem tudo que entope o nariz é catarro.
A congestão nasal pode ser também uma inflamação, desvio de septo ou outras causas inflamatórias ou anatômicas, diz a médica da SBP. E fazer muita força ou lavar excessivamente um nariz obstruído pode piorar a situação.