A série de reportagens Presídio e Morte, com cinco textos publicados na Folha em dezembro de 2023, foi premiada na categoria Jornalismo Escrito no 12º Prêmio República, promovido pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). O evento ocorreu no Centro Internacional de Convenções, em Brasília, no último sábado (23).
A repórter Raquel Lopes e o repórter-fotográfico Pedro Ladeira mostraram a contínua precariedade e violência nas penitenciárias, agravada pelo avanço de facções criminosas. O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de população carcerária, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Com mais de 600 mil detentos, o sistema prisional brasileiro é marcado por condições estruturais precárias, violência, surtos de doenças e altas taxas de mortalidade.
Raquel destaca que o prêmio ajuda a dar visibilidade as questões existentes no sistema prisional. “Não podemos naturalizar os problemas das prisões no país, e o jornalismo desempenha um papel fundamental para evitar que essa questão seja esquecida. Há pessoas, em sua maioria negros, pobres e com baixa escolaridade, morrendo dentro do sistema prisional por causas evitáveis.”
Ladeira, por sua vez, agradeceu o reconhecimento e ressaltou a importância da série como uma contribuição ao debate sobre o tema. “Fico muito honrado e feliz com esse reconhecimento do nosso trabalho em relação às condições degradantes em presídios no Brasil.”
“Esse é um tema urgente, para o qual a sociedade insiste em fechar os olhos. Conhecê-lo a fundo e enfrentá-lo é necessário e fico feliz que nossa reportagem tenha contribuído com o debate”, afirma o repórter-fotográfico.
A série trouxe à tona dados inéditos sobre o sistema prisional brasileiro. Raquel explica que a investigação, que durou seis meses, envolveu a análise de 200 documentos e 75 solicitações feitas por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). “O trabalho teve início a partir de denúncias sobre a saúde no sistema prisional, que se mostraram particularmente impactantes.”
“Durante a apuração, foram enviados pedidos de LAI a todos os estados, solicitando informações sobre o número de mortes nos últimos dez anos, bem como dados sobre idade, raça/cor e causa dos óbitos. Constatou-se que a maioria dos estados mantém registros muito precários. No entanto, os dados obtidos revelaram que muitas mortes poderiam ter sido evitadas”, explica a repórter.
Os repórteres ouviram autoridades, especialistas, entidades e familiares de presos. Ladeira conta que as imagens, além de ilustrar as situações de descaso, também ajudaram a humanizar as histórias.
Além das reportagens publicadas no site e na versão impressa da Folha, a TV Folha produziu um documentário que apresenta um panorama e histórias sobre um dos maiores problemas enfrentados pelo Brasil na atualidade.
Criado em 2013, o Prêmio República valoriza e divulga ações bem-sucedidas do Ministério Público e também reconhece iniciativas da sociedade civil e de jornalistas, que compartilham a defesa dos direitos humanos e no combate à criminalidade.