Algo não está certo sobre as luas de Marte. Elas são muito pequenas —Fobos tem 27 quilômetros de diâmetro e Deimos, 14 quilômetros de comprimento. Tampouco são redondas. Em resumo, nem se parecem com luas de verdade.
“Elas parecem asteroides, cheiram a asteroides”, afirmou o astrônomo planetário James O’Donoghue, da Universidade de Reading, na Inglaterra. Talvez, então, elas sejam asteroides —dois pedaços de rocha espacial capturados há muito tempo pela gravidade de Marte.
Em um estudo publicado na última quarta-feira (20) na revista Icarus, pesquisadores argumentam que as luas de fato surgiram na forma de asteroides. Mas não é uma origem que todos esperavam.
Usando simulações alimentadas por supercomputadores, cientistas descrevem uma situação na qual um asteroide grande o suficiente foi capturado por Marte há muito tempo e acabou despedaçado pela gravidade do planeta.
Em seguida, formou-se brevemente ao redor de Marte uma nuvem de detritos —e possivelmente um sistema de anéis. No fim, esses objetos se agruparam para formar duas luas.
“O que os pesquisadores têm é realmente convincente”, disse O’Donoghue, que não estava envolvido no estudo.
Há muito tempo, a tese de que Fobos e Deimos tem um porém: suas órbitas são muito circulares e muito bem alinhadas em torno do equador de Marte. Asteroides se aproximam de planetas em todos os tipos de ângulos, e, caso essas luas tivessem sido asteroides no passado, esperaria-se que suas órbitas fossem inclinadas e talvez um pouco ovais.
O fato de que não são parece suspeito e apoia a ideia de que se formaram de outra maneira. Isso é semelhante à história de origem da Lua da Terra, quando um objeto do tamanho de Marte colidiu com o mundo nascente, criando uma nuvem de detritos que se uniu para constituir nosso satélite natural.
Se algo semelhante tivesse acontecido com Marte, os cientistas esperariam que esses destroços dessem origem a um disco alinhado ao equador marciano, culminando em luas com o mesmo alinhamento orbital —algo observado hoje.
É aí que a nova simulação e a proposta de um asteroide desmoronado entram em jogo. Tal objeto pode ter tido uma massa comparável à de Vesta, o segundo objeto mais massivo no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. E, quando ele mergulhou em direção ao planeta vermelho, teria chegado extremamente perto, ficando a cerca de 5.000 quilômetros acima do deserto.
A gravidade de Marte teria despedaçado esse asteroide em fragmentos.
“Alguns deles podem escapar completamente do sistema”, disse o cientista Jacob Kegerreis, pesquisador no Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, em Mountain View, Califórnia, e um dos autores do estudo. Contudo “alguns deles podem atingir Marte”, segundo ele, marcando a superfície com crateras fumegantes.
Muitos fragmentos permaneceriam em órbita ao redor do planeta. Com o tempo, esses fragmentos seriam afetados pela influência gravitacional tanto de Marte quanto do Sol. Vários dos fragmentos colidiriam uns com os outros, lançando sprays de detritos que então colidiriam com outros fragmentos.
Essa corrida de destruição criaria uma nuvem de destroços de asteroides que, mais tarde, se alinharia com o equador marciano. O detrito que permaneceu longe o suficiente do planeta se agruparia, então, para formar Fobos e Deimos.
As duas luas podem parecer tranquilas agora. Mas claramente, “o Sistema Solar costumava ser um lugar muito mais bagunçado”, disse Kegerreis.
A palavra final poderá ser dada pela missão de exploração das luas marcianas, na qual será utilizada uma espaçonave da agência espacial japonesa. Prevista para ser lançada nos próximos anos, a MMX tem como objetivo recuperar uma amostra geológica de Fobos e trazê-la de volta à Terra, o que revelará se sua composição é marciana ou asteroidal.
Seja o que for que essa missão descubra, a história de pelo menos uma dessas luas está longe de terminar.
Quando o asteroide proposto foi destruído, qualquer um de seus destroços que permanecesse mais próximo de Marte teria se transformado em anéis semelhantes aos de Saturno. Esses anéis eram apenas características temporárias —assim como Fobos em si, que está lentamente se aproximando de Marte. Nos próximos 50 milhões de anos aproximadamente, ele vai ou colidir espetacularmente com o planeta ou se fragmentar para formar um novo anel marciano.
Tudo no Sistema Solar pode parecer permanente e inalterável para nós humanos. Mas o que é verdade aqui embaixo é igualmente verdade lá no espaço: “Nada dura para sempre”, afirmou O’Donoghue.