O corpo do motorista Luciano de Queiroz Araújo, 47, que dirigia o ônibus que sofreu acidente na Serra da Barriga, foi velado nesta segunda-feira (25) em União dos Palmares, em Alagoas. A família realizou velório na casa onde ele vivia com a esposa e uma filha de dez anos. Ao menos 18 pessoas morreram após o veículo despencar de uma altura de 112 metros.
Maria das Graças de Queiróz Silva, 50, recebeu a reportagem nesta tarde. Andando devagar, evitou olhar para o caixão em que estava o marido e pediu justiça.
Em áudios de WhatsApp enviados por ele à mulher dias antes, Araújo dizia que teve problemas no veículo durante a semana, na última terça-feira (19). “Amor, o carro quebrou. ‘Pocou’ [estourou] a mangueira. Estou aqui tentando ajeitar”, diz o trecho.
“Uma vez, o ônibus já tinha quebrado durante uma viagem, mas antes da subida. Na terça-feira, ele me mandou esse áudio dizendo que estava com problemas mecânicos. Eu quero justiça pelo que aconteceu e pela memória do meu marido”, afirmou a viúva.
Segundo a Polícia Civil de Alagoas, documentos preliminares do veículo apontaram que ele tinha plenas condições de funcionamento e estava com manutenção em dia.
Sobreviventes, no entanto, afirmaram que houve um problema no freio. O motorista teria avisado, segundo antes do acidente, que a mangueira do ar estourou e que as pessoas deveriam descer para aguardar outros ônibus, mas não houve tempo suficiente porque o veículo passou a iniciar a descida. Somente uma pessoa teria conseguido sair.
Segundo a Prefeitura de União dos Palmares, o ônibus prestava serviço para a Secretaria de Cultura e levava turistas e moradores da cidade para o projeto Pôr do Sol na Serra —onde os participantes conhecem a região, que tem o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.
O veículo não pertencia à gestão e era terceirizado. O dono da empresa já foi intimado a apresentar a documentação comprobatória de que o ônibus poderia fazer aquela viagem.
“Eu pedi a ele para não ir, mas ele disse que precisava ir atrás do nosso sustento. E como eu fico agora? Não trabalho, temos uma filha pequena, e ele não tem direito algum. Não era ‘fichado’ [com carteira assinada]. Eu fiquei sem marido e várias pessoas ficaram sem familiares por conta do que eu acho que foi uma imprudência da empresa”, lamentou a viúva.
Maria das Graças andou pela casa e entrou em um quarto, mexendo em roupas que estavam prontas em uma mala. Pegou uma camisa que Araújo utilizaria para viajar no dia 6 de dezembro a São Paulo, onde veriam o casamento da filha mais velha. Para ele, seria a oportunidade de conhecer a neta de dois anos e quatro meses.
“Ele só a viu pela tela do celular. Era o sonho da vida dele conhecer essa criança. Estávamos com tudo pronto. Ele sempre quis ser motorista porque o pai dele era motorista. Luciano era atencioso, não ultrapassava ninguém, sempre era prudente. Gostavam de andar com ele aqui na cidade”, contou.
Pessoas que compareceram ao velório informaram que ele tinha dois apelidos na cidade: Mão Cheia, porque dirigia muito bem, e Sorriso, porque era uma pessoa amável e carismática.
“Ele tinha um espírito de mansidão. Tiravam onda da cara dele, aquilo que chamam de ‘resenha’, e ele nem aí. Um ótimo marido, um grande pai. Não tenho uma coisa ruim para falar sobre ele. Só posso ficar triste e pedir justiça”, continuou a viúva.
Ela contou, ainda, que ela e a filha fariam a viagem com ele neste domingo. Mudou de ideia pouco antes e prometeu que o encontraria mais tarde, quando ele estivesse livre do serviço.
“Foi por volta dessa hora [16h] que recebi a notícia. Em vez de você estar vendo um caixão, estaria vendo três aqui em casa. Ele ali, eu de um lado e minha filha do outro.”
Veja nomes das 16 vítimas identificadas; 18 morreram
1 – Luciano de Queiroz Araújo – 47 anos
2 – Thamires Caroline da Silva – 35 anos
3 – Lourinete Figueiredo Batista – 53 anos
4 – Ivone Clemente da Silva – 37 anos
5 – Rosimeire Barros da Silva – 54 anos
6 – Andrielly Rafaella de Santana da Silva – 14 anos
7 – Alaide Tereza de Jesus, 84 anos
8 – Josefa Marcelino, 45 anos
9 – Heloíse Ferreira da Silva, 21 anos
10 – Saulo Hermínio da Silva, 24 anos
11 – Antoniele Fernanda Américo da Silva, 31 anos
12 – Pedro Henrique Américo da Silva Filho, 14 anos
13 – Linelenes Florêncio dos Santos, 38 anos
14 – Maitê Francine Romão da Silva, 5 anos
15 – Maria Joselani da Silva Lima Santos, 32 anos
16 – Jobson Gabriel Lima dos Santos, 9 anos