Quatro políticas mundiais permitiriam eliminar quase toda a poluição por plásticos no planeta, revelou, nesta segunda-feira (25), um estudo realizado com ajuda da inteligência artificial pela Universidade da Califórnia.
Publicado na revista Science, o estudo elenca como medidas mais importantes: investir em infraestrutura de gerenciamento de resíduos; limitar a produção de plástico aos níveis de 2020; adotar instrumentos financeiros, como um imposto sobre embalagens; e exigir que todos os novos produtos contenham pelo menos 40% de plástico reciclado.
“[Essas políticas] não são de forma alguma uma panaceia para resolver o enorme problema da poluição plástica”, disse Neil Nathan, da Universidade da Califórnia. Mas se implementadas simultaneamente, elas reduziriam em 91% a quantidade de resíduos plásticos “mal gerenciados” a cada ano.
Nesse patamar, a geração anual deste tipo de rejeitos plásticos cairia para 11 milhões de toneladas até 2050, em comparação com 121 milhões de toneladas a que deve chegar até a metade deste século se nada for feito.
O lançamento do estudo coincide com o início da última rodada de negociações para chegar a um tratado global contra a poluição plástica. O encontro entre 178 países está sendo realizado em Busan, na Coreia do Sul, e deve ir até o dia 1º de dezembro.
Após dois anos de negociações, as nações continuam divididos quanto às medidas que devem ser implementadas para acabar com a poluição plástica.
Alguns querem um tratado que limite drasticamente a produção. Outros, como a Arábia Saudita e a Rússia, que são grandes produtores de petróleo, a matéria-prima do plástico, pedem que as metas se concentrem na reciclagem e no gerenciamento de resíduos.
O problema dos resíduos
“Resíduos mal gerenciados são aqueles que não são incinerados, depositados em aterros ou reciclados, e são os que têm maior probabilidade de acabar em nosso meio ambiente e causar impacto em nossos rios e oceanos”, explicou Nathan.
Se nenhuma medida for tomada, a quantidade acumulada de resíduos mal administrados entre 2011 e 2050 será de 3,5 bilhões de toneladas —o suficiente para cobrir a ilha de Manhattan com uma pilha de plástico dez vezes mais alta que o Empire State Building, segundo o pesquisador.
A pesquisa publicada na Science utilizou uma ferramenta interativa para simular os efeitos das medidas que poderiam ser incluídas em um futuro tratado de Busan. O mecanismo usa aprendizado de máquina para combinar informações sobre crescimento populacional e tendências econômicas para prever o futuro da produção, poluição e comércio de plástico.
De acordo com Nathan, as quatro políticas identificadas no estudo são as que parecem ter o maior impacto ou ser as mais econômicas.
“Uma das descobertas mais empolgantes desse estudo é que é possível praticamente eliminar a poluição plástica com esse tratado”, afirma Douglas McCauley, também professor da Universidade da Califórnia.
“Estou cautelosamente otimista, mas não podemos deixar passar essa oportunidade única”, disse.