A primeira coisa a ser feita antes de considerar a compra de um robô aspirador é ajustar as expectativas. Não espere uma revolução que nos isentará de vez da faxina e da entropia das nossas casas.
Mas isso não anula o fato de que é surpreendente ver um autômato desses funcionando pela primeira vez, no início deslizando perdido pelo piso e depois materializando um mapa detalhado do seu imóvel na tela do celular.
Fica ainda melhor quando se atesta que o objeto de fato é útil e não é apenas uma entre várias outras promessas deixadas de lado pela indústria de eletrodomésticos —estou olhando para você, televisão 3D.
A reportagem testou por algumas semanas um robô aspirador avançado da marca Positivo Casa Inteligente, modelo PRA 2000, que sai por cerca de R$ 3.000.
Modelos mais caros como esse esbanjam recursos que reduzem ainda mais o trabalho do usuário. Esvaziar o reservatório após cada limpeza é substituído por uma base automática; movimentos aleatórios dão lugar a ordens precisas e mapeamento detalhado dos cômodos; o controle remoto vira seu próprio celular com um aplicativo próprio.
Essa experiência com menos fricções, meta almejada por todo designer de produto, se repete em modelos premium de marcas como Kabum, iRobot e Samsung. Mas elas continuam existindo.
A instalação desses produtos é intuitiva e rápida, bastando conectar a base à tomada e o robô ao aplicativo para dar início aos trabalhos.
Quem é fã de produtos de casa inteligente, no entanto, sabe que essas conexões de dispositivos via wi-fi não são sempre lá muito previsíveis, e o que parece intuitivo pode acabar virando uma dor de cabeça.
Aplicativo configurado, basta iniciar o robô remotamente pelo celular para que ele comece a perambular pelo apartamento. Nesses modelos, a primeira rodada mapeia os ambientes via laser, para que o robô se familiarize com o novo trabalho. Por isso, é importante abrir todas as portas e desobstruir os caminhos.
Veja antes e depois de uma limpeza do robô aspirador
Robô aspirador limpa piso de uma cozinha
– Gustavo Soares/Folhapress
A planta digital do imóvel toma forma no aplicativo em questão de minutos, separada por cômodos e salva na memória do robô. Assim, é possível programá-lo para limpar um quarto específico, por exemplo. Agora, é só começar a limpeza.
A combinação da alta potência desses aspiradores premium (geralmente medida em Pa) com um reservatório de água para umedecer um pano acoplado e uma escova giratória lateral garantem uma limpeza razoável do chão. Fios de cabelo, partículas visíveis e o grosso da sujeira vão embora nos ciclos completos, que percorrem todo o imóvel.
É sempre recomendado, no entanto, que alguém, de preferência um ser humano, reavalie lugares de mais difícil acesso, embaixo de mesas, camas e escrivaninhas e cantos geralmente esquecidos.
Não dá para dizer que é uma experiência sem fricções, já que objetos costumam mudar de lugar, confundindo o robô, e rodas e escovas se prendem em objetos que antes não se prendiam. Às vezes, é necessário cuidar dele como se fosse um pet para que não faça besteiras —e não foi agradável a forma como este repórter descobriu isso.
Acontece que ao longo do tempo o entrosamento melhora e o usuário aprende os limites do robô. Também ajuda o fato de que os aplicativos avisam quando há algo de errado com ele, como uma roda presa em um cabo de um computador caro, ou quando é necessário limpá-lo.
A surpresa inicial dá lugar à sensação de que é um objeto que pode fazer parte da rotina tecnológica tanto quanto uma televisão e um celular. Mas ainda é um produto que exige ajustes e avanços que podem enfim chegar com IAs mais integradas à robótica.
Apesar da experiência às vezes desengonçada, o piso do meu apartamento esteve sob bons cuidados naqueles dias.