Uma vez a cada primavera, alguns dias após a Lua cheia, os corais da Grande Barreira de Corais, na Austrália, liberam ovos e esperma simultaneamente —um fenômeno tão espetacular que pode ser visto do espaço.
Além de a atração gravitacional da Lua interagir com o Sol para causar nossas marés (fluxo e refluxo), sua órbita ao redor da Terra gera diferentes fases de luminosidade variável da Lua. Os cientistas dizem acreditar que a luz da Lua em um determinado momento a cada primavera pode ser um sinal para os corais de que as condições são adequadas para liberar óvulos e esperma.
O ciclo lunar afeta indiretamente o comportamento de alguns animais durante as marés altas e baixas, é claro, excluindo-os de áreas férteis de alimentação, como os lodaçais costeiros. Mas a luz solar refletida pela Lua também tem influência direta sobre o comportamento animal. Por exemplo, para os animais que dependem da visão para procurar alimentos, a luz da Lua é um recurso. Para outros que correm o risco de serem mortos à noite, ela é uma ameaça.
Um estudo recente descobriu que a luz da Lua parece afetar o comportamento dos mamíferos mesmo em um dos lugares mais escuros da Terra: o chão das florestas tropicais.
Imagens de armadilhas fotográficas na vegetação rasteira mostraram que pequenos mamíferos, como roedores e tatus, pareciam evitar predadores sendo menos ativos nas noites de luar. Em resposta, seus caçadores, incluindo a jaguatirica, também se tornam menos ativos.
Portanto, a luz da Lua nos trópicos parece criar uma “fase de descanso” natural para a vida selvagem. Algumas espécies que dependem da visão para procurar alimentos e evitar predadores, incluindo o musaranho-elefante-africano (Petrodromus tetradactylus), no entanto, apresentaram maior atividade noturna à luz da Lua.
Conheça cinco espécies de animais que têm respostas comportamentais fascinantes à luz da Lua.
1. Libélulas na África
Assim como os corais, as libélulas (Povilla adusta) do lago Vitória, no leste da África, sincronizam seu acasalamento com a Lua.
Esses insetos emergem em grande número de seu estágio larval aquático (que dura de 4 a 5 meses) dois dias após a Lua cheia. Como adultos sexualmente maduros, esse inseto vive apenas de 1 a 2 horas. Portanto, eles têm muita pressa para se exibir, copular e botar ovos antes de morrer. Usar o ciclo da Lua como um cronômetro ajuda a garantir que os possíveis parceiros estarão por perto, e a luz da Lua também os ajuda a cumprir suas tarefas urgentes.
2. Noitibós
Os bacuraus ou noitibós são pássaros que caçam insetos voadores ao anoitecer e ao amanhecer. Minha equipe de pesquisa monitorou os noitibós-da-europa (Caprimulgus europaeus) em voo (tanto de forrageamento quanto de migração) durante um ano usando acelerômetros, um tipo de sensor de movimento.
Durante a Lua cheia, os noitibós estendiam seu tempo de coleta durante a noite, provavelmente permitindo que capturassem mais insetos à luz da Lua.
Essas aves permaneciam na área durante as Luas cheias, quando têm mais tempo para se alimentar. Então, cerca de 12 dias após a Lua minguante, durante a migração da primavera e do outono, os noitibós partiam em seus longos voos de ida e volta para a Europa e o sul da África, pois as oportunidades de alimentação estavam desaparecendo.
A Lua também determina quando os noitibós põem seus ovos. Essas aves garantem que seus ovos eclodam sob a Lua cheia, para que tenham as melhores condições de alimentação quando os filhotes mais precisarem de comida.
3. Taperuçus e andorinhões
O taperuçu-escuro (Cypseloides niger) constrói seus ninhos em bordas e nichos em penhascos remotos no oeste dos EUA e no Canadá. Sua migração era pouco conhecida até 2012, quando, usando dispositivos de rastreamento chamados geolocalizadores de nível de luz, os cientistas mostraram que os taperuçus que se reproduzem nas Montanhas Rochosas migram para a Amazônia, no oeste do Brasil.
Os cientistas já sabiam que os andorinhões-pretos europeus (Apus apus) voam continuamente durante os dez meses do ano em que não estão se reproduzindo, incluindo sua migração entre a Europa e a África tropical.
Em um estudo de 2022 para testar se isso se aplica também aos taperuçus-escuros, os cientistas colocaram registradores de dados multissensor nas aves. Os taperuçus-escuros não só permaneceram no ar durante seus oito meses de migração e inverno, como também apresentaram um comportamento inesperado.
Durante os dez dias em torno de cada Lua cheia, durante o período sem reprodução, eles subiam a grandes altitudes (3.000 a 4.000 metros) após o anoitecer e permaneciam lá durante toda a noite. Por outro lado, ao redor de cada Lua nova, eles permaneciam em altitudes relativamente baixas.
Os dados de aceleração de voo mostraram que os taperuçus-escuros voavam mais ativamente durante os períodos mais claros, quando estavam em alta altitude, em comparação com quando voavam na escuridão, o que sugere que capturavam mais insetos (e usavam mais energia) na época da Lua cheia.
Por um golpe de sorte, um eclipse lunar ocorreu durante o estudo, na noite de 20 para 21 de janeiro de 2019, quando cinco taperuçus-escuros estavam voando alto sob a luz da Lua. Quando a Lua foi eclipsada pela sombra da Terra, todos taperuçus responderam descendo rapidamente.
4. Corujas-das-torres
As corujas-das-torres (Tyto alba) têm duas cores: vermelho e branco. Suas principais presas, as ratazanas do campo, detectam as corujas mais facilmente à luz da Lua e respondem congelando os movimentos brevemente.
Um estudo de 2019 descobriu que, à luz da Lua, se for uma coruja vermelha, a chance de uma ratazana do campo escapar é muito boa.
No entanto, se for uma coruja branca, a ratazana é cegada pelo reflexo da luz da Lua nas penas da coruja e fica parada por mais tempo. Portanto, as corujas brancas são mais bem-sucedidas do que as vermelhas na captura de ratazanas durante a Lua cheia, o que significa que seus filhotes correm menos risco de morrer de fome.
5. Besouros de esterco
O besouro Scarabaeus zambesianus coleta esterco de elefante, que ele transforma em bolas para criar e alimentar seus filhotes. Em seguida, ele rola essas bolas para longe da pilha de esterco para evitar a concorrência de outros besouros. A saída mais eficiente é em uma linha reta.
Quando o Sol e seu padrão de polarização (não visível para os seres humanos) não estão disponíveis após o crepúsculo, os besouros de esterco usam o padrão de polarização muito mais fraco ao redor da Lua para manter essa linha de fuga reta, mas isso é muito mais eficaz sob a Lua cheia.
Usando filtros polarizadores de lentes, os pesquisadores em um estudo de 2003 sobre besouros de esterco conseguiram mudar a direção do padrão de polarização da Lua cheia, induzindo os besouros a mudar sua direção.
Em contraste, nas noites escuras em torno de uma Lua nova, os besouros não conseguiam manter caminhos retos e se moviam em trilhas sinuosas.
Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original