Os dados divulgados nesta quinta-feira (21) pelo Infosiga, sistema do governo estadual de monitoramento da letalidade no trânsito, mostram que o número de mortes diminuiu na cidade de São Paulo no mês de outubro, tanto em relação a setembro quanto em relação a outubro do ano passado.
No entanto, o acumulado de janeiro a outubro (869 mortes) é o segundo maior número de mortes desde que o sistema foi criado, em 2015 —ano que teve 924 casos nos primeiros 10 meses, o recorde. E um dos principais motivos para isso foram os óbitos de motociclistas, o único modal que manteve aumento em quaisquer períodos analisados.
Na capital, a redução nos óbitos de ocupantes de automóveis foi de 83% na comparação de outubro de 2023 para outubro de 2024: de 12 para 2. De pedestres, o número foi 31% menor: de 42 para 29. Entre ciclistas, se manteve estável, com 4 mortes nos dois períodos.
Apenas entre os motociclistas a estatística não foi positiva, com aumento de 18%, passando de 38 mortes em outubro passado para 45 neste ano.
Em todo o mês de outubro deste ano ocorreram 84 mortes no trânsito na capital paulista, sendo 45 apenas de motociclistas (49%).
Considerando o acumulado entre 1º de janeiro e 31 de outubro, o número de vítimas que eram ocupantes de automóveis diminuiu 12%, passando de 97 em 2023 para 85 em 2024.
O modal que mais aumentou a fatalidade nesse período foi justamente o de motociclistas (29%), seguido por ciclistas (23%) e pedestres (16%).
Já na estatística considerando todo o estado de São Paulo, só houve queda quando comparados os meses de outubro de 2024 e 2023. O total de óbitos caiu 2,4% (de 540 para 527). Nos óbitos de pedestres, a queda foi de 9,8% (123 para 111), nos de ocupantes de automóveis, de 18,2% (132 para 108), e nos de ciclistas, de 6,2% (32 para 30).
Questionada sobre os dados do Infosiga, a Prefeitura de São Paulo diz que a imprudência dos condutores é a principal causa de sinistros de trânsito na cidade.
“O desrespeito à sinalização e às leis de trânsito, principalmente o excesso de velocidade, é o que provoca a maioria das ocorrências fatais”, diz a gestão Ricardo Nunes (MDB), em nota, destacando os resultados da faixa azul, implantada na capital para o trânsito das motocicletas.
“Já são mais de 200 quilômetros em toda a capital. A prefeitura também implantou as Áreas Calmas e mais de 12 mil faixas de pedestres, além do aumento do tempo de travessia em mais de mil cruzamentos na cidade. A cidade tem a maior extensão de vias com tratamento para bicicletas do país com 743 km de extensão”, complementou.
O Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), por sua vez, destacou as campanhas de conscientização e educação realizadas, além da fiscalização e da criação de políticas públicas.
“Desde o início de 2023, em busca de reduzir ainda mais esses índices, foram intensificadas as ODSIs (Operações Direção Segura Integrada) para coibir a mistura de álcool e direção. O número de operações cresceu 25% (de 388 para 486), assim como a quantidade de motoristas fiscalizados, que subiu 68% (de 209.877 para 353.730), se comparados os períodos de janeiro a outubro de 2023 e de 2024”, diz o Detran-SP, em nota à Folha.
Coordenador da Comissão Especial de Direito de Trânsito da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, o advogado Antonio José Dias Júnior se disse surpreso com a redução do número de mortes em outubro, principalmente, de pedestres.
Ele também afirma que essa estatística positiva é devido às campanhas de conscientização, que fazem os motoristas respeitarem a faixa de pedestres e os pedestres saberem o local correto de travessia das vias.
“Sem dúvida, o que mais reflete é a conscientização, as campanhas feitas tanto pelo Detran de São Paulo quanto pelas prefeituras. O Maio Amarelo e a Semana do Trânsito, em setembro, mostrando os impactos de acidentes, fazem com que os motoristas se conscientizem.”
Em relação à letalidade das motos, que continua crescendo, Dias Júnior diz que é proporcional ao aumento do número de motos nas ruas. Ele cita um dado da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) de que 17,5 milhões de motociclistas não possuem habilitação no país, quase 54% do total.
“Com a informalidade dos entregadores de aplicativo no mercado de trabalho e o valor relativamente baixo de uma moto, o número tende a aumentar. Infelizmente, na moto, o piloto é o para-choque.”