Como existem poucos evangélicos atuando nos veículos mais tradicionais de jornalismo, decidi escrever este obituário sobre o pastor Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, conhecido como apóstolo Rina, que faleceu no domingo (17) em um acidente de moto na rodovia Dom Pedro, em Campinas (SP). Neste caso, a dimensão religiosa de sua trajetória é crucial para entender seu impacto.
Rina ganhou notoriedade no meio evangélico no final dos anos 1990, quando a comunidade cristã alternativa que fundou no bairro do Brás, em São Paulo, começou a crescer e atrair a atenção do movimento neopentecostal. Segundo o site da instituição, o apóstolo relatava que a ideia de batizar sua igreja como Bola de Neve surgiu de uma experiência mística, na qual viu uma bola de neve crescendo e se transformando em uma avalanche.
Ele estava certo. A Bola de Neve começou em um pequeno auditório emprestado, com capacidade para 130 pessoas, e se tornou a “avalanche” que é hoje: uma rede com 560 unidades espalhadas por 34 países, de acordo com dados da instituição.
A igreja se destacou ao adotar um estilo informal e descontraído, atraindo milhares de jovens desencantados com as comunidades tradicionais, muitas vezes engessadas em modelos litúrgicos antigos. Com linguagem coloquial e celebrações que incluíam pranchas de surfe como púlpitos e louvores intensos, a Bola de Neve se tornou um refúgio para skatistas, surfistas, roqueiros e metaleiros. Todos eram bem-vindos. Entre os frequentadores célebres está o surfista Gabriel Medina, que participa da Bola de Neve em Boiçucanga, no litoral norte de São Paulo.
Apesar do impacto positivo, a trajetória de Rina também foi marcada por polêmicas. Em agosto de 2024, ele foi afastado de suas funções na igreja após denúncias feitas por sua esposa, a pastora Denise Seixas, que o acusou de lesão corporal, violência psicológica, injúria e difamação. O escândalo abalou sua reputação, dividindo opiniões entre apoiadores e críticos.
Mesmo assim, seu legado parece sólido. Pelas mensagens que li em redes sociais, muitos ainda reconhecem sua contribuição. Não é pouca coisa o que ele alcançou. Como observa a psicóloga americana Jean M. Twenge, no livro “iGen” (nVersos Editora), a geração dos centennials (geração Z), na faixa de 18 a 24 anos, é a menos propensa a se identificar como espiritual ou religiosa. “Gerações mais velhas têm mais probabilidade de se identificar como religiosas e espirituais, ao passo que as mais novas são as menos prováveis”, escreve Twenge. Nesse cenário, o trabalho de Rina, ao atrair jovens para a igreja, é digno de nota.
Antes de julgar as controvérsias de seus últimos dias, talvez valha refletir sobre as qualidades que fizeram de Rina uma figura capaz de atrair tantos jovens brasileiros para a igreja em um momento em que a maioria está se afastando dela.
Depoimentos de fiéis
Nas redes sociais, muitos testemunharam o impacto de Rina em suas vidas. Alguns dos comentários:
“Foi um grande homem de Deus. Ganhou muitas vidas para Jesus e foi usado para quebrar a religiosidade farisaica que permeia muitas denominações. Sem dúvidas, fará falta aqui. Lá no céu, ele está vibrando com o Mestre.”
“No pior momento da minha vida, ele me abraçou e cuidou de mim como um filho. Quantas vezes sentei com ele e chorei feito criança, e ele, com todo amor do mundo, cuidou de mim. Na pandemia, me deu um emprego. Esse cara foi um pastor e um amigo da melhor qualidade.”
“Esse homem ajudou muitos jovens, acertou mais do que errou. Todos nós erramos, mas ele fez muitas vidas aceitarem Jesus, e isso agrada a Deus.”
“Ele deixou um legado. Voltei a buscar Jesus há 18 anos, por meio do ministério do Bola.”
“Ele foi atrás de muitas pessoas que se sentiam excluídas pelos ministérios tradicionais e as acolheu com todo carinho. Minha família toda conheceu Jesus por meio desse ministério. Ele impactou uma geração e deixou um legado gigante entre os jovens do Brasil.”
Esses relatos confirmam a influência de Rina em um contexto cada vez mais desafiador para a espiritualidade entre os jovens. Seu legado, mesmo diante das controvérsias, permanece relevante.