Prédio histórico da cidade de São Paulo, o Mercado Municipal Kinjo Yamato terá sua fachada modificada após um turbulento debate no Conpresp, o conselho responsável pela preservação do patrimônio municipal.
Entre a primeira análise do órgão, que em 19 de agosto rejeitou a reforma, e a reavaliação que resultou na aprovação em 14 de outubro, o parecer técnico do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico do município) mudou de contrário para favorável à intervenção.
Também dentro desse intervalo ocorreu a troca na chefia do órgão ligado à Secretaria de Cultura da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). O arquiteto Nelson Gonçalves de Lima Junior deixou o cargo de diretor do DPH, dando lugar a Marília Barbour, ex-curadora do acervo do Palácio dos Bandeirantes. Lima não respondeu ao pedido da Folha para comentar sua saída.
Centenário, o mercado tradicionalmente associado ao comércio de verduras realizado por imigrantes japoneses foi privatizado no mesmo processo de concessão do Mercado Municipal.
Enquanto o restauro do Mercadão avançou relativamente dentro do esperado, o mercado de hortaliças foi alvo de um debate que contrapôs duas visões sobre a conservação da paisagem de São Paulo.
De um lado, técnicos do DPH e integrantes do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) tentaram evitar uma alteração no exterior do prédio que, na avaliação de alguns, pode abrir brecha para a modificação de dezenas de imóveis na região central paulistana. O mercado está incluído em um decreto municipal de tombamento que envolve 149 edifícios do chamado centro velho de São Paulo.
Do outro, representantes do setor privado e da gestão Nunes defendem intervenções que permitam reforçar os usos de prédios tombados para favorecer a recuperação e desacelerar a depreciação desses bens.
O ponto de discordância no Kinjo era a substituição de janelas nas laterais do prédio entre as ruas Cantareira e Barão de Duprat. A intenção da Mercado SP, que administra o local, é ampliar o acesso ao interior, colocar quiosques voltados para a rua e instalar mesinhas nas calçadas.
Sob nova direção, o DPH aceitou recurso apresentado pela concessionária. Para amenizar o impacto visual, a administradora se comprometeu a instalar comportas de aço que, quando fechadas, simulam partes das paredes que serão retiradas.
Presidente da Mercado SP, Aldo Bonametti diz que a argumentação aceita pelo DPH também considerou apontamentos técnicos que põem em dúvida se a fachada do Kinjo está efetivamente incluída no tombamento do centro velho.
Além disso, Bonametti afirma que o arruamento de paralelepípedo, um antigo terminal de trólebus, e o telhado serão preservados. Tais elementos fazem parte de um tombamento feito pelo Condephaat, órgão responsável pela preservação do patrimônio do estado de São Paulo.
Segundo a SPRegula, empresa municipal que cuida das concessões feitas pela prefeitura, o projeto de intervenção no Kinjo Yamato foi aprovado após diversas reuniões técnicas, envolvendo o escritório de projetos da concessionária e especialistas do DPH.
“Todas as etapas do processo seguiram os mais rigorosos critérios técnicos e legais, garantindo a preservação e valorização deste importante patrimônio histórico e cultural da cidade de São Paulo”, diz em nota o departamento da gestão Nunes.