Austrália e Turquia estão em disputa para mostrar qual país está mais apto para sediar as negociações sobre mudanças climáticas das Nações Unidas em 2026, com nenhum dos dois disposto a desistir de sua candidatura para a COP31.
Ambos os países estão na disputa desde 2022, mas a situação chegou a um ponto crítico na COP29, em curso em Baku, no Azerbaijão. Em 2025, na COP30, a sede será Belém do Pará.
O ministro do clima da Austrália fez uma parada de última hora na Turquia na sexta-feira (15) na esperança de chegar a um acordo sobre a candidatura australiana, confirmou seu gabinete. No entanto, as autoridades turcas recusaram-se a retirar sua candidatura, e os dois países continuam em negociações.
O anfitrião desempenha um papel central na mediação de compromissos na conferência anual e na condução da fase final das negociações. Isso pode proporcionar tanto prestígio diplomático quanto uma plataforma global para promover as indústrias verdes do país.
As COPs são o principal evento da diplomacia climática global, onde quase 200 países se reúnem para negociar planos conjuntos e financiamento para contornar os piores impactos do aumento das temperaturas e para freá-las.
Cada país tem a chance de sediar, se assim desejar, como membro de um dos cinco grupos regionais que se revezam.
Esse sistema tem sido criticado, pois produtores de combustíveis fósseis, incluindo os Emirados Árabes Unidos, já foram anfitriões. Tal fato levanta preocupações entre ativistas sobre o papel de mediação de países profundamente dependentes de indústrias poluentes ser honesto nas negociações climáticas.
Fatma Varank, vice-ministra do meio ambiente da Turquia, disse à Reuters que a localização mediterrânea do país ajudaria a reduzir as emissões dos voos que trazem delegados para a conferência e destacou sua menor indústria de petróleo e gás em comparação com a Austrália.
A Austrália está entre os maiores exportadores de combustíveis fósseis do mundo.
“Não negamos o fato de que tradicionalmente fomos exportadores de combustíveis fósseis, mas estamos no meio de uma transição para mudar para a exportação de energia renovável”, disse o ministro do clima da Austrália, Chris Bowen, à Reuters durante a COP29.
“Temos uma história para contar”, disse ele, explicando que a Austrália estava propondo uma “COP do Pacífico” para tratar questões que afetam os estados insulares vulneráveis da região.
A Turquia, que tem uma pequena indústria de petróleo e gás, obtém cerca de 80% de sua energia de combustíveis fósseis e foi o segundo maior produtor de eletricidade a carvão da Europa em 2023.
O país ofereceu-se para sediar as negociações da COP26 em 2021, mas retirou sua candidatura, permitindo que a Grã-Bretanha presidisse a cúpula. Varank disse que a Turquia estava relutante em abrir mão novamente.
Quem vencer precisaria do apoio unânime dos 28 países do grupo regional da Europa Ocidental e de outros da ONU (Organização das Nações Unidas). Não há prazo firme, embora os anfitriões geralmente sejam confirmados anos antes para terem tempo de se preparar.
Membros como Alemanha, Canadá e Grã-Bretanha apoiaram publicamente a Austrália. Líderes do Pacífico apoiaram a Austrália com a condição de que ela eleve as questões climáticas que enfrentam, como a erosão costeira e o aumento do nível do mar.
O secretário do clima de Fiji, Sivendra Michael, disse à Reuters que o país apoiou a candidatura da Austrália. “Mas também estamos lembrando cautelosamente sobre os esforços nacionais que eles precisam fazer para se afastar dos combustíveis fósseis”, disse Michael.
A Turquia recusou-se a dizer quais membros do grupo regional lhe ofereceram apoio.