A China tem uma oportunidade de ganhar pontos com a União Europeia na COP29, a Conferência das Nações Unidas para Mudança Climática em curso em Baku (Azerbaijão). Ao aliviar potencialmente tensões comerciais em torno de suas exportações verdes ao bloco, pode ajudar Bruxelas a garantir acordos em tópicos ainda não resolvidos nas duas semanas de negociações.
O retorno iminente de Donald Trump à Casa Branca enfraqueceu a credibilidade dos Estados Unidos na COP29 e elevou as pressões para que a União Europeia lidere e contribua para um acordo sobre o aumento da ajuda financeira aos países em desenvolvimento. A China pretende ter um papel proativo para que isso aconteça sem a postergação das negociações, segundo fontes conhecedoras da estratégia negociadora do país.
Um grande obstáculo para o acordo sobre financiamento tem sido o status da China como nação em desenvolvimento, conforme categoria diplomática definida nas negociações climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas), e também como a segunda maior economia do mundo e produtor dominante de tecnologias verdes.
A equipe chinesa impõe uma barreira a ser classificada oficialmente como doadora, com base no Acordo de Paris, de 2015, dizem as fontes. Mas está aberta a contribuir mais voluntariamente.
Autoridades chinesas têm enfaticamente repetido que o país destinou US$ 24 bilhões em projetos para ajudar outras nações em desenvolvimento a lidar com as mudanças climáticas desde 2016, no mesmo nível feito por economias desenvolvidas.
“Se a China e a União Europeia puderem efetivamente colaborar na agenda da COP29 será criada uma base sólida para realinhar suas amplas iniciativas verdes e econômicas e para melhorar a relação bilateral”, disse Li Shuo, diretor do Society Policy Institute, que acompanha de perto as políticas climáticas internacionais da China.
Li afirmou que ambos os lados precisam de um forte ponto de partida para gerenciar as disputas comerciais, algo semelhante às discussões entre a China e os Estados Unidos que ajudaram a aliviar a guerra comercial durante o primeiro mandato de Trump.
Maior emissor
A China tornou-se uma crescente figura nas COPs. Na condição de maior emissor de gases do efeito estufa, o país pode fazer mais do que qualquer outra nação para desacelerar a escalada das temperaturas no mundo.
Mas a nação asiática também está lutando com seus próprios problemas econômicos e não está em condições de aportar aumento significativo ao financiamento climático. Além disso, argumenta ser ainda um país em desenvolvimento e que as nações industrializadas antes devem carregar o peso da compensação por suas emissões de carbono.
“Como país desenvolvido com maior economia e emissão acumulada de gases do efeito estufa do mundo, os EUA devem enfrentar suas responsabilidades”, disse um porta-voz do Ministério de Relações exteriores chinês ao ser questionado sobre futuras contribuições climáticas da China. “O Acordo de Paris é claro sobre quem terá de pagar por isso.”
A conferência deste ano teve um começo turbulento. Os negociadores pouco avançaram em principal objetivo: estabelecer um novo objetivo para as nações ricas levantarem fundos para ajudar os países mais pobres a cortar suas emissões e se adaptar a situações extremas.
Enquanto isso, a Arábia Saudita lidera um empurrão contra a implementação do acordo da COP28, em 2023, sobre a transição para a energia limpa.
Controvérsias
Anfitrião da COP29, o Azerbaijão esforçou-se para acomodar os países divergentes, enquanto seu presidente, Ilham Aliyev causava controvérsias ao insultar outras nações e defender a energia fóssil. A China, diante disso, quer ajudar a presidência da COP29 a fazer da conferência deste ano um sucesso, as mesmas fontes comentaram.
Uma formas para isso acontecer seria um compromisso da União Europeia e da China sobre as contribuições ao financiamento do clima. Já que devem ser apenas um doador mínimo nos próximos quatro anos, pelo menos, os EUA perderão parte de seu direito de exigir que a China se torne um claro contribuinte.
Tal cenário abriu a possibilidade de a União Europeia advogar que a linguagem do texto final da COP29 abra a possibilidade de mais contribuições voluntárias e de um mecanismo de contabilidade mais transparente das doações.
O negociações chefe europeu, Wopke Hoekstra, disse na segunda-feira (18) que isso permitiria à China assumir um compromisso voluntário de prover financiamento climático para o Sul Global.
“Seria bem-vindo esses países darem esse passo”, afirmou Hoekstra à imprensa, referindo-se à China e também a Cingapura, Coreia do Sul e aos países ricos em petróleo do Golfo Pérsico. “Isso diz respeito à solução de um dos maiores problemas enfrentados pela humanidade.”