A SpaceX fez nesta terça-feira (19) o sexto voo integrado do veículo Starship. Contudo, desta vez, não conseguiu repetir a captura do primeiro estágio do veículo.
O maior foguete da história decolou às 19h (de Brasília), a partir de Starbase, instalação da companhia em Boca Chica, no Texas, Estados Unidos. O presidente eleito Donald Trump acompanhou o lançamento ao lado de Elon Musk, que deve assumir o novo Departamento de Eficiência Governamental no futuro governo do republicano.
A trajetória geral do voo seguiu o padrão adotado na missão anterior, em outubro.
O primeiro estágio, o propulsor Super Heavy, separou-se do segundo, a nave Starship —o veículo completo, com os dois estágios, também é chamado de Starship—, pouco menos de três minutos após a decolagem e então iniciou as manobras para retorno à plataforma.
Porém, diferentemente do mês passado, dados de telemetria enviados pelo primeiro estágio fizeram a empresa decidir não levar o Super Heavy até o mechazilla, estrutura desenvolvida para pegar o propulsor no ar. Em vez disso, o foguete desceu, como já era planejado em caso de contingência, de forma controlada no oceano.
O segundo estágio, por sua vez, continuou sua trajetória suborbital, que o fez passar pouco mais de uma hora no espaço e dar mais de meia volta em torno da Terra, em um esforço para realizar o que, no jargão aeronáutico, se chama de “empurrar o envelope” –tentar levar o veículo além da margem segura para estipular limites mais elevados para suas operações.
Uma diferença importante nesse novo voo, com relação ao anterior, é que a nave acionou um de seus motores Raptor no espaço. Isso é algo que ainda não havia sido feito no programa de testes, mas é essencial para futuras missões orbitais.
Outra diferença importante, mas em favor do espetáculo, teve a ver com o horário: dessa vez, partindo da tarde em Boca Chica, ele desceu no oceano Índico sob a luz do dia. No quinto voo, o pouso bem-sucedido na água foi confirmado por telemetria, porém a escuridão da noite impediu qualquer grande visão –exceto depois que ele tombou e explodiu.
O segundo estágio também executou na reentrada experimentos de proteção térmica e mudanças operacionais que vão testar os limites do Starship para o procedimento de retorno à Terra e sua futura reutilização.
Partes da nave estavam sem telhas de proteção térmica, e ela entrou na atmosfera num ângulo de ataque maior na fase final de descida, “propositalmente estressando os limites do controle de flaps para ganhar dados sobre futuros perfis de pouso”, descreveu a SpaceX.
Mesmo realizando uma pequena parte do voo com o nariz inclinado na direção do chão, os flaps conseguiram recuperar o controle e assegurar uma descida também controlada. O estresse térmico durante a reentrada pareceu, ao menos superficialmente, menor do que no voo anterior.
O pouso, por sua vez, foi registrado por câmeras a bordo e em boias nas proximidades da região de descida no oceano Índico –produzindo belas imagens ao vivo, transmitidas pela SpaceX em sua conta na rede social X.
Esse foi o último voo com esse modelo original do Starship –lembrando que ele mesmo foi sofrendo centenas de aperfeiçoamentos de missão a missão.
A partir do sétimo voo, as atualizações serão mais notáveis e, de acordo com a companhia, incluem flaps frontais redesenhados, tanques de propelente maiores, a geração mais nova de telhas de proteção térmica e camadas de proteção térmica secundária.
O plano é que essas mudança ajudem a desenvolver um sistema de proteção térmica totalmente reutilizável, que viabilize a rápida recuperação e preparação do Starship para novos voos.
O programa ainda precisa demonstrar várias tecnologias antes que o foguete possa ser usado para o transporte de humanos à superfície da Lua, como quer a Nasa para a missão Artemis 3, marcada para o fim de 2026 (com possível atraso para 2027 ou 2028).
No ano que vem, a SpaceX deve alcançar o uso do Starship para lançamentos orbitais (substituindo os foguetes Falcon 9 ao menos para voos dos satélites Starlink), assim como a recuperação do segundo estágio e a capacidade de reabastecimento em órbita –todas tecnologias cruciais para o retorno lunar, mais adiante nesta década.
Estima-se que de 10 a 20 lançamentos em rápida sucessão sejam necessários para uma única missão lunar, por causa do processo de reabastecimento. A empresa, contudo, tem grandes ambições para o futuro do foguete.
Gwynne Shotwell, diretora operacional da SpaceX, declarou em uma conferência para investidores na semana passada que o Starship tem o potencial para mudar o setor espacial e pôr a companhia entre as mais valiosas do mundo.
“Eu não ficaria surpresa se nós fizéssemos 400 lançamentos do Starship nos próximos quatro anos”, afirmou ela.