Praticar ioga em uma sala aquecida a 40ºC com 40% de umidade é uma experiência intensa. Conhecida como hot ioga, a modalidade ganhou espaço em São Paulo nos últimos anos, embora esteja presente no Brasil desde os anos 2000. Popularizada nos anos 1970, a prática combina 26 posturas e exercícios de respiração em um ambiente que simula o clima da Índia.
Os defensores da modalidade afirmam que calor desempenha um papel central: aquece as articulações, facilita o alongamento e estimula a eliminação de toxinas pelo organismo. Mentalmente, cria um ambiente propício à meditação em movimento, com foco no momento presente.
Letícia Yamame, 26, professora de hot ioga no Vidya Studio, afirma que o ambiente aquecido “também reduz o risco de lesões”. O estúdio oferece aulas predominantemente no estilo vinyasa (sem séries fixas), caracterizado por sequências dinâmicas que aumentam o calor interno e fortalecem os músculos.
Para os iniciantes, o processo de adaptação à alta temperatura pode exigir um pouco de paciência.
“A parte mais desafiadora foi me adaptar ao calor e saber até onde acompanhar a prática sem ultrapassar meus limites. Ainda hoje, em algumas sessões, preciso fazer pausas, deitar um pouco, me hidratar e depois retomar”, diz Victor Rodrigues, 23, analista financeiro.
Ana Luisa Parolin, 55, economista, conta que também enfrentou dificuldades no início. “A princípio, achei desafiador adaptar-me à sala quente, mas aprendi a controlar a respiração, a força, a mente. Esse controle foi essencial para começar a relaxar e aproveitar melhor a prática.”
Existem poucas pesquisas sobre hot ioga na literatura científica, e ainda não há clareza sobre os impactos da prática na mobilidade ou na eliminação de toxinas, por exemplos.
Os efeitos de relaxamento muscular e de redução do estresse, contudo, podem ser atribuídos ao ambiente aquecido, diz a médica Taline Costa, especialista em medicina esportiva. Além disso, o calor provoca vasodilatação, reduzindo a pressão sanguínea, e isso aumenta a frequência cardíaca e melhora a circulação.
Primeiro estúdio de hot ioga da capital paulista, o Hot Yoga São Paulo foi inaugurado em 2013 por Andrea Wellbaum e Julien Brierre. Andrea conta que trouxe a modalidade para a cidade em um momento em que havia poucos estúdios de hot ioga no país, limitados a Florianópolis, Curitiba e no Rio de Janeiro.
O espaço, que fica na Vila Madalena (zona oeste), oferece diversas modalidades de ioga na sala aquecida, desde a vinyasa e outras ainda mais desafiadoras, até a hatha ioga, que prioriza a permanência mais prolongada nas postura e é acompanhada de explicações detalhadas, dicas de alinhamento e ajustes, por isso bastante recomendada a quem está começando.
As aulas do Hot Yoga São Paulo acontecem em um ambiente iluminado e com espelhos, de forma a estimular a percepção corporal.
De acordo com dados do Google Trends, que mede o interesse por determinados termos a partir das buscas no Google, as pesquisas sobre hot ioga dispararam a partir do final de 2021 no Brasil, puxadas principalmente por usuários de São Paulo e do Rio de Janeiro. Desde então segue em curva de ascensão e atingiu o pico de buscas em agosto deste ano.
O número de pessoas que aderiram à hot ioga também cresceu nos últimos anos. A plataforma fitness Wellhub (antigo Gympass), por exemplo, aponta aumento de 557% nos check-ins de usuários entre 2018 e 2023, com um crescimento de 102,69% apenas no último ano (de 2022 para 2023).
Dicas para quem quer começar
Andrea Wellbaum define a prática de como uma experiência completa que combina força física, relaxamento mental e sensação de renovação. Para usufruir desses benefícios ela recomenda hidratar-se muito bem antes e depois da prática, repondo sais minerais com isotônicos ou água de coco.
Em geral, o corpo precisa de cinco a dez aulas para se aclimatar ao calor, tornando a regularidade essencial. Também é importante estar com o estômago quase vazio —o ideal é consumir algo leve de duas a quatro horas antes do início da prática.
Gestantes devem evitar praticar hot ioga, a não ser que tenham pelo menos seis meses de experiência e tenham liberação médica. Crianças menores de 12 anos também não devem participar devido à imaturidade das glândulas sudoríparas.
Pessoas hipertensas podem praticar, desde que estejam com a pressão controlada por medicação. Já os indivíduos com condições cardíacas ou histórico de desmaios precisam de avaliação médica prévia, uma vez que o calor pode elevar a pressão arterial e causar desidratação.
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Colaborou Vitoria Pereira