O primeiro plano de investimentos da Petrobras sob a gestão Magda Chambriard amplia o investimento em produção e refino de petróleo e reduz o apetite por energias renováveis, seguindo a máxima de que “toda gota de petróleo conta”, já adiantada pela direção da estatal.
O plano prevê investimentos de US$ 111 bilhões (R$ 640 bilhões), contra US$ 102 bilhões (R$ 580 bilhões) da versão anterior, e mantém a previsão de distribuição de ao menos US$ 45 bilhões (R$ 256 bilhões) em dividendos ordinários e de até US$ 10 bilhões (R$ 57 bilhões) em dividendos extraordinários.
Os detalhes foram antecipados pela Folha na manhã desta segunda-feira (18) e confirmados pela Petrobras em comunicado enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no início da tarde. O plano será debatido pelo conselho de administração da empresa nesta quinta-feira (21).
É aguardado com expectativa pelo mercado já que sinalizará a capacidade da empresa para distribuir dividendos extraordinários retidos no início do ano e pelas projeções de remuneração pelo lucro dos próximos anos.
A diretoria da empresa deve propor ao conselho ainda um aumento de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 28 bilhões) ao limite de endividamento da companhia, hoje em US$ 65 bilhões (R$ 370 bilhões), alegando que precisa de maior flexibilidade para investimentos.
A área de exploração e produção terá um orçamento de US$ 77 bilhões (R$ 440 bilhões), com US$ 7,9 bilhões (R$ 45 bilhões) destinados à busca por novas reservas em bacias do Sudeste, em novas fronteiras como a bacia de Pelotas e as bacias da margem equatorial brasileira e em projetos na África.
A expectativa é repor reservas para tentar manter uma produção média na casa dos 3,2 milhões de barris de petróleo e gás por dia na próxima década, quando os campos gigantes do pré-sal começam a entrar em declínio.
Na área de refino, o investimento proposto na versão preliminar do plano sobe de US$ 17 bilhões (R$ 97 bilhões) para US$ 20 bilhões (R$ 114 bilhões), com o avanço de obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e no Complexo Boaventura, antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
A direção da empresa propõe ainda um reforço na estratégia de diversificação das atividades, com investimentos em petroquímica e fertilizantes, abandonados no governo Jair Bolsonaro, mas no foco da política desenvolvimentista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nesse sentido, a Petrobras aprovou em outubro a retomada da construção da unidade de fertilizantes de Três Lagoas (MS) suspensas desde 2015, com investimento previsto em R$ 3,5 bilhões. Antes, havia aprovado retomada das operações da Araucária Nitrogenados, no Paraná.
Segundo fontes, a proposta inicial prevê manutenção do orçamento de US$ 11 bilhões (R$ 62 bilhões) para projetos de baixo carbono, mas com foco na descarbonização das atividades da companhia. A percepção é que o investimento em geração de energia solar ou eólica já não é tão atrativo.
O retorno a esses segmentos após a venda de ativos no governo Bolsonaro foi aprovado pela gestão Jean Paul Prates sob o argumento de que a empresa precisa se posicionar para um cenário de transição energética, como vêm fazendo as empresas europeias.
A gestão Magda, porém, entende que o petróleo ainda seguirá com papel importante na economia pelas próximas décadas e reforçou a defesa pela “transição energética justa”, termo apropriado pelo setor de petróleo para defender o direito de continuar produzindo “energia barata, confiável e acessível”.
Tem o apoio da área energética do governo e do próprio presidente da República, que vê no dinheiro do petróleo uma fonte de investimentos em projetos geradores de emprego, apesar do esforço para consolidar o Brasil como líder em um novo cenário de economia verde.
Em entrevista nesta segunda durante a cúpula do G20, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que a Petrobras não abandonará renováveis, mas o foco do governo é a autossuficiência na produção de energia e de fertilizantes.
“Não há soberania sem autossuficiência ou segurança alimentar. Um país com grande pluralidade energética como o Brasil não pode importar 90% dos [fertilizantes] nitrogenados”, afirmou.